O que aprender com o Vale do Silício Caipira em SP?
A coluna de hoje conta a história de uma jovem que, após cursar Agronomia, viu seu futuro ao lado da família na propriedade rural em Domingos Martins, no Espírito Santo, produzindo cafés especiais.
Por muito tempo, ouviu-se a história de que o cenário vislumbrado pelos mais jovens era cada vez mais urbano, culminando no êxodo rural. Este movimento alterou significativamente a estrutura do meio rural, com mais ou menos intensidade dependendo da região, trazendo consequências como a redução de mão de obra disponível, Esse fenômeno afetou, principalmente, a agricultura estruturada em moldes familiares e muitas propriedades com pequenas quantidades de terras.
Contudo, esse cenário se reverteu parcialmente nos últimos anos. Um exemplo é a agrônoma e estudante de mestrado, Marlete Littig, de 24 anos, que cresceu em uma propriedade rural no interior do município de Domingos Martins. Nascida em uma família de produtores de café, quando chegou à adolescência, ela se deparou com o dilema: continuar na propriedade e ajudar a família ou ir para faculdade?
Ela conta que a família incentivou-a a tomar a decisão por conta própria, mas que encontrou na agronomia uma alternativa uma forma de aplicar o conhecimento técnico de uma graduação à experiência acumulada por seus familiares ao longo dos anos. “Minha família sempre esteve envolvida com o café. Nasci e cresci nesse meio, e foi isso que me motivou a fazer agronomia”, afirma.
“Quando voltei para a propriedade da minha família, após colar grau em 2020 durante a pandemia, estava trabalhando na rotina junto de minha mãe, meu irmão e minha cunhada. E no meio da colheita do ano passado, decidimos fazer testes a fim de saber se nosso café tinha potencial para se tornar um grão especial. Mesmo sem saber muito, adotamos o método de terreiro suspenso e começamos com uma pequena quantidade de café: uma saca e meia. O resultado foi surpreendente e conseguimos comercializar algumas unidades de cafés para amigos e parentes”, ressalta.
O processo relatado acima, nada mais é, do que agregar valor ao trabalho no campo. Hoje, unir a tradição da antiga geração com a modernidade e a dinâmica da nova geração é um dos grandes desafios no agronegócio. Desse modo, novas ideias são agregadas dentro e fora da porteira.
“Para minha família, ter uma marca de café era algo distante e não tão acessível. Mas quando mergulhei nesse trabalho, mostrei que era possível. Juntos, colhemos o café, construímos o terreiro suspenso e colocamos a mão na massa. Agora, com os primeiros resultados e com a prática, houve maior percepção de que esse negócio poderia dar certo” afirma Littig emocionada.
“Estou feliz porque gosto de compartilhar essas experiências com outras pessoas, com o objetivo de incentivá-las a tomar novas iniciativas em suas propriedades. No meu caso, uma grande inspiração foi o Mario Zardo, mestre de torra de Alto Caxixe, que apoiou a ideia e nos concedeu estrutura para trabalharmos nesse segmento. Quando levei o café até ele, queria vender apenas o grão, mas ele incentivou a minha família a adentrar ainda mais no ramo e hoje temos nossa própria marca: Herança cafés especiais”, complementa.
Decidida a continuar aliando o conhecimento teórico com a prática, Marlete escolheu agora fazer mestrado na área da cafeicultura e foi aprovada recentemente na Universidade Federal do Espírito Santo, no campus Alegre. “Com o início desse projeto no café me encontrei profissionalmente e com a minha missão de vida. É gratificante poder me aperfeiçoar na área que tanto amo, qualidade de café”, destaca.
“Uma coisa que me toca muito é olhar para meu sobrinho que nasceu no ano passado e ver que ele está crescendo em uma nova realidade, dentro de uma nova perspectiva do agro”, conclui Littig.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória