Set 2021
5
Stefany Sampaio
AGRO BUSINESS

porStefany Sampaio

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Stefany Sampaio
AGRO BUSINESS

porStefany Sampaio

De Vila Valério para o Mundo

O nome do entrevistado de hoje é Dieimes Bohry e a sua relação com o campo vem de berço. Filho de agricultores, o mais velho de três filhos. Desde pequeno acompanhava seus pais, Sr. Reginaldo e Dona Claudia, no trabalho nos cafezais. Com a idade entre 3 e 4 anos já andava livremente pelos cafezais, brincando e cantarolando. Sempre gostou da liberdade que o campo proporciona.

Quando estava prestes a terminar o ensino médio, ele não sabia o que viria a seguir. Apenas sabia que tinha que estudar para ser alguém na vida e que o trabalho no campo era muito difícil, pois cresceu ouvindo seus pais dizerem isso. Realmente, era um cenário de poucas oportunidades naquela época.

“Decidi por influência do meu tio Eduardo Chagas, ingressar em um curso técnico em Agropecuária no IFES Campus Itapina. O curso durou um ano e meio. Neste tempo, comecei a entender que existem muitas oportunidades no campo, mas é preciso conhecimento e assistência para tornar essas oportunidades economicamente viáveis” afirmou Dieimes.

Em seguida, iniciou a graduação em Licenciatura em Ciências pela mesma instituição, sendo estudante da primeira turma do curso. A cada semestre que passava, Dieimes ficava mais empolgado com o conhecimento que vinha adquirindo. Estudar as plantas, sua biologia e, principalmente, a genética, eram seus temas preferidos. Além disso, teve grandes professores que o incentivaram nessa trajetória.

“Durante a graduação tive o privilégio de realizar um intercâmbio pelo Programa Ciências Sem Fronteiras do Governo Federal durante um ano e meio na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. Esse momento foi muito marcante não apenas para minha história, mas também para toda a minha família. Sempre estudei em escolas públicas e agora havia cursado parte da minha graduação em uma das melhores universidades dos EUA. Ao longo do intercâmbio, aprendi o inglês e tive a oportunidade de conhecer diversas culturas por meio da experiência de estudar com pessoas do mundo todo. Isso me ajudou a crescer como pessoa e valorizar ainda mais minhas raízes” contou.

De volta ao Brasil, terminou a graduação e iniciou o mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), trabalhando na área de biologia molecular na cultura do mamoeiro. E atualmente, está no último semestre do doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas na (UENF).

Entendendo a fazenda como négocio

Até meados do doutorado, a relação de Dieimes com o conhecimento científico era mais teórico do que prático e existiam muitas dúvidas de como aplicar esse mesmo conhecimento científico na vida do campo. A virada de chave foi quando cursou uma disciplina de Empreendedorismo e Gestão de Projetos Biotecnológicos.

“Comecei a me ver como empreendedor e perceber que o sítio Bom Jardim (onde mora seus pais) poderia ser uma empresa a céu aberto. Assim, percebi o enorme potencial que tínhamos e temos na propriedade. Por isso, tomei a decisão de voltar para o campo e tornar isso a minha carreira profissional. No entanto, ainda faltava tempo para tirar alguns projetos do papel” contou Dieimes.

Com a chegada da pandemia em 2020, ele e sua companheira Erica, foram se refugiar no sítio Bom Jardim para ficar mais próximos da família e durante esse tempo, que perceberam que era possível contribuir em diversas atividades no sítio e fortalecer a união do trabalho em família.

“Em uma área do sítio onde há ainda um antigo cafezal, atualmente em processo de reflorestamento, eu e Erica realizamos manejos no sistema e percebemos que o café ainda continuava produzindo mesmo a mais de seis anos sem manejo. Com isso, decidimos juntos colher esses grãos e provar a bebida, tivemos todo o cuidado de um café especial durante o beneficiamento. A experiência de provar esse café foi incrível, e todos da família aprovaram. Vale ressaltar que fazia muitos anos que a família Bom Jardim não sabia o gosto do seu próprio café” afirmou animado.

Com essa iniciativa eles produziram a primeira saca de café de qualidade nessa área de reflorestamento e conseguiram comercializar o primeiro quilo desse café a 50 reais.

“Isso foi algo que trouxe uma motivação para continuarmos esse trabalho. Nossa marca “Sítio Bom Jardim” deu seu primeiro passo. Na mesma época otimizamos processos de colheita e beneficiamento de cacau e pimenta do reino, e já começamos a comercializar esses produtos com valor agregado. Sabíamos desde o início que os desafios seriam enormes, mas que precisávamos mostrar, por meio do exemplo, que esse projeto também é viável para outros agricultores da nossa região.” contou.

Para se ter ideia de como esse trabalho tem dado frutos, no mês de agosto, a família recebeu o primeiro prêmio, ficando em segundo lugar na categoria demais municípios do ES, no 5º Concurso da Qualidade do Cacau Capixaba.

“Ficamos muito felizes e surpresos com a colocação, pois foi a primeira vez que participamos de algum concurso. No momento, estamos nos preparando para mais dois concursos de qualidade de café. E agora toda a família começou a se envolver mais e novos investimentos foram feitos no sítio, com o intuito de ampliar a escala nas próximas colheitas, obter novos produtos e melhorar ainda mais a qualidade” afirmou Dieimes.

Quando questionado sobre qual mensagem gostaria de deixar para os jovens do estado, Diemes afirmou: “Gostaria de dizer primeiramente aos filhos e filhas de agricultores que busquem fortalecer suas relações com a terra, por meio da produção de alimentos de qualidade e preservação do meio ambiente. Existem sim possibilidades de permanecer no campo, com trabalho digno, prazeroso e rentável, e que essa permanência possa partir de uma escolha e não por falta de opção. Buscar conhecimento científico para ampliar essas possibilidades de agregação de valor, procurar estabelecer boas parcerias e trabalhar com dedicação” finaliza.

Como vimos hoje, existem muitas possibilidades a serem mais exploradas no agro e a nova geração tem tudo para assumir esses espaços. Acreditamos que o acesso às novas tecnologias potencializam as articulações dessa nova geração, ampliando novos serviços a serem ofertados para o público, que busca a cada dia produtos/serviços diversificados e significativos.

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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