Hoje a história do domingo é sobre a Fernanda Marin Permanhane, uma jovem que cresceu e vive do agronegócio, mas que mesmo assim não deixou de estudar para agregar conhecimento ao campo.
Toda a sua família trabalha e vive do agro desde as gerações mais antigas: bisavós, avós, pais e tios, praticamente todos são envolvidos na atividade. E nesse sentido que ela decidiu que o ambiente rural também faria parte de sua trajetória de vida, mesmo após morar em Vitória, capital do ES.
Fernanda assim como muitos jovens do interior, morou na roça quando era criança, mas depois mudou para a cidade para estudar. Cursou a faculdade de Relações Internacionais na capital e como seu pai já exportava algumas frutas que cultivava na fazenda, o sonho inicial era a possibilidade de um dia talvez montar uma exportadora, mas nada muito concreto.
“Optei por cursar Relações Internacionais por abranger várias áreas de interesse como economia, empreendedorismo, direito e política. Durante o curso, o agro brasileiro foi abordado inúmeras vezes, em diversas disciplinas, dada a relevância do setor nas relações exteriores do Brasil, então fui me interessando cada vez mais e vendo as oportunidades profissionais.”
Ao concluir o curso, logo voltou para trabalhar nos negócios da família, onde cultivam café, cacau, seringueira, banana da terra e mamão. Em paralelo, ela não deixou de estudar, cursou MBA em Gestão Empresarial pela FGV/MMurad, e recentemente em Agronegócios pela USP/Esalq.
“O agro sempre fez parte da minha vida, não dá para separar. Com toda a família sendo produtora, com pais apaixonados pela agricultura, engajados nas causas do setor, sou cria do agro e acabei me envolvendo profissionalmente de forma natural, após enxergar muitas possibilidades de crescimento. O agro é o nosso sustento, é o ambiente familiar, é a nossa história toda.”
Quando ela começou a trabalhar diretamente na fazenda, buscou aprender sobre cada setor, ouvir os funcionários, entender como poderiam melhorar. Buscando sempre trocar informações com outros produtores e pesquisando continuamente formas de reduzir custos e agregar valor a produção, assim como tendências do mercado e oportunidades.
“Desde o princípio busco ver a fazenda como um negócio, uma empresa, com inúmeras variáveis, por isso é importante se profissionalizar cada vez mais. É um desafio constante! Hoje trabalhamos com algumas certificações, estamos testando a criação de subprodutos, otimizando os processos, avaliando implantação de outras culturas, o trabalho não para.”
Ela sempre buscou capacitações em administração e gestão para tornar a fazenda mais eficiente e produtiva.
“Tive a sorte de ter uma família que sempre me incentivou, independente das minhas escolhas, mas que também me permitiu participar dos negócios. Nem todos os pais são tão abertos. Sempre fui incentivada a me capacitar para ser uma boa líder, para adquirir novas habilidade, saber gerenciar, resolver problemas. Também sou grata por eles terem confiado em mim e me dado suporte quando me colocaram e setores estratégicos da fazenda.”
Para Fernanda o campo sempre foi um ambiente muito familiar, por ter nascido e crescido ali .
“O campo é parte do que somos, nossos hábitos, nossa história, nossas vitórias, nossas memórias, só temos a agradecer e a retribuir. Tanto por parte de pai quanto de mãe, praticamente todos são ligados a agricultura, e são descendentes de italianos, então tudo vira festa. Desde inauguração de secador, de curral, churrasco para matar porco e galinha, para fazer papa. O campo desperta até interesse em quem não convive tanto conosco: de vez em quando amigos e vizinhos pedem para ir visitar as roças, já levei as amigas para acampar, para as festas juninas, e sempre tivemos o hábito de compartilhar do que produzíamos com os vizinhos e a igreja.”
Um dos pontos que Fernanda acredita é que a tecnologia estará cada vez mais presente no futuro da agricultura, otimizando o trabalho, reduzindo riscos e aumentando a rentabilidade. O Brasil pode liderar a produção de alimentos e a proteção ambiental, temos condições favoráveis para isso. Já produzimos com sustentabilidade e segurança, precisaremos ampliar a produção e comunicar melhor com os consumidores.
Estaremos cada vez mais conectados, com novos hábitos alimentares e consumidores mais conscientes, com maiores exigências. Competindo internacionalmente, o produtor precisa acompanhar esses movimentos e se adaptar.
Além da fazenda, dadas as dificuldades que ela e outros produtores passaram durante a crise hídrica no estado entre os anos de 2014 e 2017, Fernanda participou da fundação da Associação da Agricultura Forte e até hoje atua como secretária executiva.
“Acredito muito na união dos produtores na busca por melhorias para o setor. O agro capixaba tem um potencial enorme, por isso precisamos trabalhar para que os gargalos não dificultem a produção de alimentos, buscar o desenvolvimento rural e a valorização do produtor.”
Quando questionada sobre a mensagem que ela deixaria para outros filhos de agricultores no nosso estado: “ O agro tem um mundo de possibilidades! Busque capacitação e orientações, nunca pare de estudar, aprenda a lidar com as diferenças entre gerações e culturas, a lidar com suas emoções, faça networking, pesquise, busque conhecer todos os processos da propriedade e como melhorar a gestão. Independente das relações familiares, se dedique e busque o seu máximo desempenho”, afirma.
“O que deu certo na época dos seus pais pode não dar certo mais. Temos inúmeras tecnologias diferentes que podem nos ajudar, mas sempre tente incluí-las com jeitinho, mostrando os pontos positivos e o resultado. Evite bater de frente, só causa desgaste em vão. Não dá para contar com a sorte mais! As margens estão cada vez menores, nossos concorrentes estão no mundo todo com condições diferentes das nossas, por isso precisamos fazer gestão, nos profissionalizar e estar sempre inovando. Não vai ser fácil, os desafios são inúmeros, mas ter a família ao lado pode ser gratificante. E mesmo que seja devagar, com dedicação a gente pode mudar a nossa realidade, trazer melhorias para fazenda e família, então não desanime”, acrescenta
E mais importante, nunca se esqueça que o amor e o respeito da família precisam ser prioridade. Família é o nosso bem mais precioso. Busque sempre o diálogo, o equilíbrio, entender as aspirações dos demais membros, e realizações que tragam bons resultados pro negócio, para você e toda sua família”, conclui Fernanda.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória
