Como a nova ferrovia de Linhares beneficia o agro?
A história de hoje é sobre a Marinete Alves Pavesi Simão, uma pedagoga que nasceu no interior de Muniz Freire. Saiu para estudar e trabalhar na cidade, mas que com as mudanças de rotas que a pandemia exigiu, voltou para o campo e se descobriu dentro da cafeicultura. Marinete mostrou na coluna de hoje, como o café materializa o processo de vida em comunidade e o quanto ter mudado para o Caparaó a ajudou a enxergar um estilo de vida simples e acolhedor.
A história de Marinete começou desde a sua infância. Até os 10 anos de idade, ela morou na roça com seus pais e seus avós paternos, que também eram produtores rurais. A comunidade rural chamava-se Vai e Volta e era localizada em Muniz Freire.
Com 11 anos, seu pai a levou para estudar em Alegre, onde ela estudava e trabalhava desde cedo para ajudar em casa, já que morava em uma república com duas irmãs mais velhas e uma amiga.
Com a necessidade de trabalhar, seu sonho de entrar na faculdade após o segundo grau foi interrompido, mas aos 32 anos começou a cursar pedagogia e depois fez ainda, dois cursos de pós-graduação, em gestão e supervisão educacional, e treinamento com a terapia ABBA para auxiliar pessoas com autismo.
“Comecei a me interessar pela psicopedagogia e a escola me fez lidar com crianças com dificuldades de aprendizado. Nesse contexto, esses impasses e a dificuldade das famílias em lidarem com as escolas me deixava comovida. Depois de um tempo, abri uma clínica especializada para trabalhar com crianças especiais” contou Marinete.
Com isso, marinete achava que havia se encontrado profissionalmente, mas ela não sabia o que a esperava.
“Ainda tenho muito carinho pela psicopedagogia e pelo meu trabalho. Apesar das dificuldades, a alegria de ver as crianças evoluindo era muito grande. Mas com a pandemia quase 9 anos de realização, o dia 14 de março de 2020 foi o dia do meu último atendimento. Tanto os pacientes quanto eu estávamos no grupo de risco. Por isso, fechamos as portas após o agravamento da pandemia” contou.
Nesse período por causa da pandemia, ela e sua família mudaram-se para o Caparaó. No começo a mudança foi difícil, mas Marinete resolveu não parar por causa de um tropeço na vida. Começou a se interessar pelos cafés especiais, graças ao contato que seu marido, João Batista Pavesi, já tinha.
“Morar na roça para mim foi uma das melhores escolhas. Hoje, não troco a vida da roça pelo centro urbano. Contemplar a natureza é uma dádiva. A vida é mais tranquila. Isso me motivou a seguir e não voltar a atuar como psicopedagoga, apesar do amor que tinha pela profissão. Sinto que a roça me dá a oportunidade de ser uma mulher empoderada e empreendedora, além de ganhar qualidade de vida” contou emocionada.
Com espaço no sítio, ela começou a estudar os cafés especiais e decidiu participar das atividades do agro.
“Me encantei pelo café. Foi algo contagiante. Também me encantei pela vida mais simples no campo. Aqui, tive muitas reflexões sobre minha vida na cidade, como ela era cheia e como perdíamos a capacidade de apreciar coisas pequenas e ter tempo para coisas importantes além da correria do dia a dia” afirmou.
Para Marinete, hoje ela consegue valorizar muito mais o tempo com a família e com os amigos, algo que as vezes passava batido na vida corrida da cidade.
“Trabalhar com o café me deu experiências diferentes. Algo que nunca tinha vivido. Me sinto emocionada com a comunidade que eu vivo, pelo senso de coletividade, pelo amor ao próximo. E o café materializa esse processo em nossa comunidade. Há uma reciprocidade tremenda entre os moradores” contou.
O que chamou a atenção nessa história é que geralmente, mudanças trazem medo para as pessoas. Mas aqui, vemos o quanto a mudança pode ocorrer sem alterar a essência.
“Costumo dizer que o café aproxima e reúne pessoas. Quando você toma um café com alguém, você conversa, cria laços, se aproxima. E é algo amplo, agrega as pessoas mais simples e aquelas que possuem poder aquisitivo maior. E essa é uma sensação sem preço. Com essa mudança no meu conceito de vida, tive experiências enriquecedoras. E com isso, se adaptar se torna mais fácil, alegre, sem medo. Você passa a conhecer seus limites e seus medos” afirmou Marinete.
Como vimos, os planos de Marinete mudaram um pouco, mas a fez perceber como mais pessoas precisam ser despertadas a conhecerem o café, como ela também foi.
“Nós aqui na propriedade temos uma empresa, que começou a funcionar em 2019. Hoje, plantamos café, secamos na estufa, torramos, embalamos e entregamos aos clientes. Atendemos clientes no Rio de Janeiro, no Sul, em Cachoeiro de Itapemirim e atendemos clientes particulares, tudo por meio da nossa estrutura online” contou.
Ela e a família estão preste a inaugurar entre novembro e dezembro deste ano a “Escola café”. Onde irão oferecer aos turistas, cursos sobre a produção de café da lavoura à xícara, passando por todos os processos de produção dos cafés especiais. Nesse espaço, também funcionará uma cafeteria aberta ao público geral.
“Pretendemos formar grupos para turistas e para cafeicultores e interessados, explorando o ambiente e o mercado de cafés especiais, levando os interessados em trabalhos no campo para conhecer as lavouras e como cultivamos os cafés especiais aqui no estado” contou para Agro Business.
A região onde Marinete mora hoje, é um mix de natureza exuberante, comida maravilhosa, pessoas simpáticas e hospitaleiras, cafés especiais de qualidade. A região fica na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais e é cheia de atrativos incríveis e de boas histórias.
“Espero que no futuro os moradores atuais do Caparaó e as futuras gerações preservem o estilo de vida simples e acolhedor. Ele encanta pessoas e é contagiante. Espero que a magia e o valor desse lugar nunca acabem, que seja sempre preservado. Esse sentimento de comunidade molda o caráter e o respeito das pessoas na nossa comunidade. Também espero que o Caparaó siga como referência na produção de café, sempre melhorando e buscando maior qualidade” concluiu Marinete.
Nosso desejo é que essa história possa inspirar outras pessoas que tiveram suas vidas alteradas pela pandemia a se reinventarem e inovarem. Seja dentro de suas áreas de atuação, seja indo para novos rumos como Marinete. Todos podemos descobrir novas paixões e se reinventar profissionalmente.
E se essas descobertas forem dentro do agro caro leitores, me contem por favor.
Bom domingo!
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