Instabilidade política e mudanças climáticas desafiam o agro em 2022
O conflito do leste europeu abriu uma série de questões relacionadas aos impactos econômicos globais desencadeados pela guerra. A Rússia sofre uma série de sanções dos principais países e empresas ocidentais, ao mesmo tempo em que é o terceiro maior produtor mundial de petróleo e gás natural do mundo e o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil. Com a redução da oferta de produtos russos, os impactos são sentidos nos preços globais de combustíveis, energia e alimentos.
Um dos efeitos já observados é o aumento do índice mundial de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que subiu 24,1% em fevereiro em comparação ao mesmo período do ano passado. O que era caro já era caro devido às consequências da pandemia de Covid-19, ficou ainda mais.
A relação bilateral entre Brasil e Rússia é marcada principalmente pela venda de fertilizantes e derivados do trigo ao Brasil.
O Brasil exportou em 2021, um total de US$ 1,6 bilhão de produtos para a Rússia – equivalente a 0,6% das exportações totais, a menor participação em duas décadas. Com isso, a Rússia ocupa o trigésimo sexto lugar dos principais destinos de exportação brasileira, sendo a maior parte delas – 80% -, produtos do agronegócio.
Já as importações vindas da Rússia totalizaram US$ 5,7 bilhões em 2021 – mais do que o dobro de 2020, que haviam sido US$ 2,7 bilhões. Por conta disso, a Rússia ultrapassou países como Coreia do Sul, Japão, França, Itália e México no ranking de principais fornecedores do Brasil, saindo da 13ª para a 6ª posição, impulsionado em grande parte pelas compras de adubos e fertilizantes químicos.
Em 2021, o Brasil importou US$ 15 bilhões em fertilizantes – valor correspondente a 41,5 milhões de toneladas do produto. Deste total, 23% em termos de valor e 22% em termos de volume – US$ 3,5 bilhões e 9,2 milhões de toneladas respectivamente -, tiveram a Rússia como origem. Para efeito de comparação, a União Europeia responde por apenas 7% do valor e 8% do volume importado.
Visando reduzir a dependência da importação de fertilizantes, o governo apresentou na primeira quinzena de março, o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). Trata-se de um planejamento de longo prazo que pretende reduzir a dependência dos fertilizantes importados. Atualmente, a demanda por importados é de 85% do total utilizado no país, o PNF pretende reduzir essa demanda para 50% durante os próximos 30 anos.
Para tal, o plano tem cinco objetivos estratégicos traçados para o desenvolvimento do PNF: i) reativação e ampliação de plantas e projetos de fertilizantes existentes no Brasil;
ii) melhorar o ambiente de negócios no Brasil para aumentar a atração de investimentos na cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas;
iii) promover vantagens competitivas na cadeia de produção nacional de fertilizantes para suprir o mercado brasileiro;
iv) ampliar os investimentos em pesquisa, inovação e desenvolvimento da cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas no Brasil;
v) adequar a infraestrutura para integração de polos logísticos e viabilização de empreendimentos
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