37 cafés capixabas são selecionados para o concurso Coffee of the Year
A variação da cotação do café conilon pode ser notada ao longo dos últimos meses. A saca do café conilon, por exemplo, passou de R$ 800 em janeiro para R$ 530 agora em novembro, de acordo com o Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV). Para entender melhor quais foram os motivos que levaram a cotação do café conilon ser tão expressiva, a coluna conversou com o presidente do CCCV, Márcio Cândido Ferreira.
Agro Business: O que gerou a variação expressiva na cotação do café conilon?
Márcio Ferreira: Para contextualizar, até o final de 2019, no período da pré-pandemia, as bolsas internacionais vinham operando durante um longo período em patamares historicamente baixos.
Com o início da Covid-19, os compradores passaram a solicitar antecipação de embarques e a contratar novos pedidos a fim de assegurar que teriam mercadoria nos seus estoques lá fora e, assim, se protegerem contra os possíveis efeitos da até então desconhecida pandemia.
Com o avançar da pandemia, se avolumaram os problemas de logística e de transporte em todo o mundo. A falta de containers e de espaço em navios fez subir os fretes internacionais. Com isso, os volumes maiores eram contratados à medida que também aumentava a incerteza quanto à pandemia.
Esses foram alguns fatores que começaram a demandar mais café do Brasil, que é o maior produtor e exportador de café do mundo. Entre o segundo semestre de 2020 e primeiro semestre de 2021, uma longa estiagem afetou as principais regiões produtoras de café arábica, a saber, o Sul de Minas Gerais, Cerrado Mineiro e a Mogiana Paulista.
No início do inverno, as mesmas regiões tiveram a ocorrência da maior geada verificada desde 1994, com significativo comprometimento da capacidade produtiva. Assim, enquanto a safra de arábica colhida em 2020 (cujos frutos se desenvolveram entre o segundo semestre de 2019 até o primeiro semestre de 2020) foi a maior da história – estimada pelo mercado acima de 50 milhões de sacas. Enquanto isso, as safras de arábica colhidas em 2021 e 2022 foram bastante afetadas pelos acidentes climáticos.
Esta redução substancial na produção levou o mercado a patamares extremamente elevados em dólar que foram ainda mais favorecidos em reais tendo em vista a significativa alta do dólar no decorrer desses dois anos (saindo de cerca de 4,00 para 5,70 – atuais 5,17). Com isto, o preço de café arábica (bebida dura) saiu da casa de R$ 450 e atingiu a marca de R$ 1.600
Agro Business: E o conilon?
O conilon, durante o período de alta, saiu de níveis de R$ 300 para R$ 800, cujos preços se tornaram totalmente sem competitividade no mercado internacional. Ainda muito abaixo dos preços do arábica no Brasil. Isso fez com que as exportações de conilon in natura despencassem a níveis abaixo daqueles registrados na época da maior seca histórica.
Como consequência da falta de arábica as indústrias brasileiras passaram a utilizar muito mais conilon nos seus blends – saindo de algo da ordem de 45-50% para 70-80% de conilon.
Como não houve nenhum acidente climático nas regiões produtoras de conilon e com os bons preços, a produção subiu de forma significativa a tal ponto que o mercado estima algo em torno de 22-23 milhões de sacas produzidas nesta safra de 2022.
Mesmo considerando o aumento substancial no consumo interno e uma exportação de cerca de 3,6 milhões de sacas de café solúvel (majoritariamente conilon) e cerca de 1 milhão de sacas de conilon in natura, o mercado entende que teremos ao final da safra atual um dos maiores excedentes (estoque de passagem da história).
Além dos fundamentos do movimento técnico das bolsas internacionais (desde o início de 2020), os fundos iniciaram uma temporada de compra que durou mais de dois anos. Tudo indica que se encerrou no final de setembro deste ano, logo após o retorno das chuvas às regiões anteriormente afetadas (Sul de Minas, Cerrado e Mogiana) que propiciaram uma ótima florada, com bom pegamento e desenvolvimento dos grãos.
Assim se antecipa uma possível recuperação na produção de arábica a partir de safra a ser colhida em 2023 e se vão os temores de mais um ano de pouca produção.
Agro Business: Como o setor cafeeiro tem reagido às mudanças no mercado?
Márcio Ferreira: Embora os preços do conilon de R$ 800 e R$ 700 fossem muito bons, houve por parte dos produtores muita retração nas vendas, na expectativa de que os preços chegassem à casa de R$ 1.000 (como muitos especularam). O mesmo ocorreu no arábica. Muitos produtores contavam que os preços pudessem chegar à casa de R$ 2.000.
Eles pareciam estar corretos, ainda mais porque as bolsas até então subiam quase que todos os dias e que os preços eram cada vez melhores para o conilon e o arábica.
Todavia, o CCCV e as principais lideranças sempre recomendam aos produtores para não deixarem de participar do mercado, principalmente quando há nítida margem substancial de lucro, de forma que o preço médio apurado seja significativo e também a manter o market share juntos aos principais compradores (Brasil e demais países).
No caso específico do conilon, como dito antes, a participação no mercado internacional foi pífia e favoreceu por demais o Vietnã cujo market share aumentou significativamente em detrimento do Brasil e, principalmente, do Espírito Santo (maior produtor de conilon do país).
Além dos fundamentos anteriormente citados, como recuperação na produção de arábica e perspectiva de excedente de conilon no final desta safra, o mercado ainda prevê uma boa produção de conilon para 2023 com importante volume.
Outros fatores como o conflito entre Rússia x Ucrânia, que ocasiona alto custo de energia, principalmente, no continente europeu, a alta substancial de juros e disparada da inflação nos países consumidores de café, indicam uma possível queda no consumo mundial e faz com que os clientes reduzam ao máximo novas compras dado às incertezas que se apresentam.
Márcio Ferreira: O mercado segue indicando possibilidade de novas baixas em função do cenário anteriormente descrito. Devemos tirar do passado recente experiências para não cair nos mesmos erros, pois “lucro bom é lucro no bolso” e “negócio é bom quando é bom para todos”, pois seguramente se for bom para todos, o comprador não terá motivo para buscar outro fornecedor (neste caso o Vietnã).
O CCCV recomenda que o produtor participe gradativamente do mercado e não se atenha aos preços altos outrora praticados, sob pena de não obter uma média de preço satisfatória.
No momento, somente novos acidentes climáticos teriam força para reverter essa tendência, e este não parece ser o caso. Tão pouco não deve jamais ser este um fator para especulação, pois quando isso ocorre naturalmente os produtores, cuja propriedade não for atingida, serão mais uma vez beneficiados com as altas dos preços. Enquanto os afetados, serão os verdadeiramente prejudicados.
Se os preços cobrem os custos e há margem de lucro, não há motivos para não atender o mercado comprador. Os custos devem ficar sob controle e na ponta do lápis. Investir em qualidade com sustentabilidade segue sendo a receita para obtenção de melhores preços e melhores margens em períodos de alta ou de baixa.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória