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Entre os dias 14 a 18 de novembro, as cotações do mamão aumentaram no Norte do Espírito Santo, de acordo com dados do Hortifruti do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O havaí tipo 15 a 18 foi cotado a R$ 3,21, alta de 5% com relação à semana anterior. O formosa foi comercializado por R$ 3,84, elevação de 10%. Especialistas do Cepea apontam que as chuvas recentes na região reduziram a oferta e comprometeram a qualidade da fruta, bem como a umidade resultou no desenvolvimento de patógenos. Confira a seguir o bate-papo com o professor e pesquisador Ailton Geraldo Dias para entender melhor este cenário.
Agro Business: As recentes chuvas podem ter gerado essa variação expressiva na cotação do mamão?
Ailton Geraldo Dias: Podemos considerar que o mercado de frutos e, particularmente do mamoeiro, está incluso em parâmetros mais complexos. O clima também é considerado, mas sua participação é quase nula por força das tecnologias empregadas no cultivo do mamoeiro.
No entanto, se recuarmos há alguns anos o fator climático apresentava um peso maior e determinava que os plantios se encerrassem até junho (deadline até 15 de junho).
Nos últimos anos, por força dos programas de tecnologia da produção e da sofisticação no modelo de negócio e com a inserção na cadeia produtiva dos packing house, esta data limite não mais se interpõe e o mamão passou a ser um fruto ofertado durante todo o ano.
Agro Business: Quais outros pontos podemos levar em consideração para as variações dos preços?
Ailton Geraldo Dias: As variações nos preços vão ser determinadas por outros fatores tais como o tamanho da área de cultivo e a competição com outros frutos de época, no inverno com as mexericas, e no verão (final de ano) com os frutos natalinos.
As áreas de plantio, considerando o cultivo dos tipos Formosa e Sunrise (Papaya), têm apresentado uma expressiva redução nos últimos dois anos, mais destacadamente no ano de 2021/2022, o que tem refletido e ainda refletirá na menor oferta (como observado nestes últimos meses).
Considerando que estamos saindo de um longo período de seca e que as nossas chuvas somente se iniciaram na segunda quinzena de novembro, o fator chuva pode ser desconsiderado neste movimento observado nos preços, determinado mais pela redução ocorrida na área de cultivo.
Essa redução tem diferentes componentes, dentre os quais a menor remuneração recebida pelo produtor no final de 2020 e início de 2021; o aumento do custo de produção por força de reposicionamento de margens dos fornecedores de insumos; e, particularmente para o tipo Formosa, a falta de sementes.
Agro Business: O Cepea apontou que a maior umidade resultou no desenvolvimento de patógenos, sobretudo fungos, como a mancha-alvo. Qual o impacto nas plantações de mamão?
Ailton Geraldo Dias: Considero que seja relevante esclarecer esta questão. A doença comumente denominada “mancha alvo”, provocada pelo fungo Corynespora sp, é uma doença de final de ciclo com importância mais destacada para os cultivos da acerola, da alface, do algodão, da soja, entre outros. Para o mamoeiro esta é uma doença de baixa ocorrência e, por isso, de influência quase nula.
Outro fato a esclarecer, é que as áreas dos atuais cultivos e de produção dos frutos que chegaram ao mercado nestas duas semanas passadas e que chegarão nas próximas semanas não estiveram expostas às chuvas. Estávamos expostos a um período longo de seca. Em períodos de baixos volumes de chuvas, como se observou neste ano de 2022, as pragas ganham destaque nos desafios do produtor mais que as doenças.
Acrescento, ainda, que nos próximos 40 dias será observado nas regiões produtoras de mamão um alto volume pluviométrico seguido de um janeiro como previsões climáticas de um forte veranico (“dois sóis para cada dia”).
A variação das condições climáticas, neste contexto, de um período com alto volume de chuvas seguido de um período de seca e de altas temperaturas, poderá interferir negativamente na qualidade final dos frutos, sem o poder de produzir alterações nos preços, que já estarão pressionados na faixa de alta por força da menor área de cultivo (leia-se, menor produção).
Agro Business: Como as chuvas impactam a produção do mamoeiro?
Ailton Geraldo Dias: As chuvas nas regiões de produção do mamão ocorrem no verão, combinadas também com alterações nas temperaturas. Isto porque grande parte do fator climático determinante das chuvas para a região leste do sudeste e parte do nordeste brasileiro (principais regiões produtoras de mamão) são as frentes frias, as chamadas Zonas de Convergência do Atlântico Sul.
Os períodos de chuvas são precedidos de altas temperaturas e seguidos de baixas temperaturas (na ocorrência das chuvas). O gradiente térmico (as diferenças de temperaturas em períodos sucessivos e curtos de tempo) é um forte desorganizador do aparelho fisiológico das plantas, particularmente do mamoeiro, interferindo no desenvolvimento floral, nas formações dos novos frutos e na atividade fotossintética das plantas, podendo também contribuir com a pressão de presença de doenças.
Agro Business: Quais são as principais doenças que aparecem nos frutos a partir de mudanças climáticas bruscas?
Ailton Geraldo Dias: Dentre as principais doenças, observadas em contextos de elevada umidade relativa do ar e elevadas temperaturas, destacam-se a “podridão-do-pé” (também chamada de morte súbita ou requeima), provocada principalmente pelo fungo denominado Phytophthora palmivora.
Além de provocar tombamentos em mudas e plantas, atacam os frutos produzindo lesões, como uma cobertura esbranquiçada, em forma de algodão, denominada “Papai Noel”. Também tem a varíola (também chamada de pinta preta ou sarna do mamoeiro), cujo agente causal é um fungo denominado Asperisporium caricae.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória