Analistas estão otimistas com mercado de commodities após reabertura chinesa
As exportações da carne bovina geraram receita de US$ 13,09 bilhões ao Brasil no ano passado, alta de 42% em relação a 2021, de acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Enquanto isso, o mercado interno ainda preocupa porque o consumo de carne bovina pelos brasileiros tende a manter o comportamento de redução na oferta. Esse cenário é influenciado por diversos fatores, entre eles, a crise causada pela pandemia da Covid-19, alta dos preços e a perda do poder de compra da população. A coluna Agro Business conversou com Renata Erler, especialista em gestão pecuária de corte e leite, para entender melhor o cenário do mercado bovino.
Agro Business: Qual é o cenário da arroba do boi?
Renata Erler: O cenário nacional comanda o comportamento do preço da arroba. É importante frisar que cada local tem sua particularidade, mas o comportamento nacional e do Espírito Santo é o mesmo, o que vai mudar é a base de preço. O ciclo pecuário é soberano, ele determina se vai ter alta e baixa de preço. Existem outras interferências, mas a base do preço da arroba é proveniente do ciclo pecuário e a gente veio de um círculo pecuário de alta que virou em 2022.
Em 2022 virou para o ciclo de baixa. O início foi bom, com o preço das exportações. No início do ano, com a retomada das compras da China, a cotação da arroba do boi gordo chegou a ficar por R$ 30,00 acima do preço em relação ao mercado interno. O mercado interno estava em torno de R$ 330 a R$ 340 e a base China estava acima de R$ 350.
Isso durou até março, mas depois o cenário foi mudando, a cotação caiu, depois subiu um pouco em julho, mas não conseguiu ter consistência. O preço caiu até novembro, reagiu em dezembro, mas não teve muita força e se manteve no mesmo nível para começar 2023. O mercado já esperava essa queda por conta do ciclo pecuário.
AB: Por conta do ciclo pecuário, o Brasil abateu 15% a mais de fêmeas em 2022. O que isso representa para o mercado bovino?
RE: O Brasil passou alguns anos retendo fêmeas e mais fêmeas no rebanho significam maior produção e oferta de bezerros. Vale destacar que as fêmeas têm o tempo de recria para chegar no peso de reprodução porque ela vai ser inseminada e a gestação dura em torno de nove meses.
Depois que o bezerro nasce, ele precisa de mais sete ou oito meses para ser disponibilizado para o mercado, ou seja, leva praticamente dois anos para ter o resultado dessa fêmea que ficou retida. Por isso que esse ciclo demora um pouco.
O ciclo de baixa acontece quando tem muita oferta de reposição e, consequentemente, a queda no preço do bezerro reflete no preço da arroba porque a oferta de boi gordo também aumenta.
AB: Enquanto as exportações da carne bovina foram positivas, o mercado interno sofreu um ano desafiador em 2022. Quais foram os motivos?
O mercado interno reduziu o consumo por conta da pandemia da Covid-19 e, principalmente, devido a diminuição do poder aquisitivo da população. O consumo de carne vermelha está ligado à renda familiar, desta forma, se a renda diminui, o consumo de carne vermelha também cai diretamente.
A tendência é o preço do mercado interno seguir pressionado. Com o aumento da oferta e a perda do poder aquisitivo do consumidor, a tendência é o preço cair para o mercado interno. Assim, 2023 segue pressionado.
AB: As exportações de carne bovina ganharam força em 2022, gerando receita de US$ 13,09 bilhões ao Brasil. Esse cenário era esperado?
RE: O mercado achava que a exportação de carne iria diminuir, porém a China manteve o nível de compra do Brasil. Inclusive, em 2023, o país chinês já iniciou o mês de janeiro comprando mais do que o esperado.
O país é responsável por 62% do volume de exportação da carne bovina brasileira, e nos dez primeiros dias de janeiro, o embarque para a China ficou na média de 8 mil toneladas. Isso significa um volume 18,5% maior do que janeiro do ano anterior.
2023 está começando bem, até porque a carne brasileira é uma carne barata. A cotação está em torno de 4.800 dólares a tonelada, em torno de 7% menor ante janeiro do ano passado. Além disso, os principais importadores também seguem comprando, como Egito, Estados Unidos e Chile.
Os principais concorrentes do Brasil – Argentina, Estados Unidos e Austrália – estão vivendo um momento diferente do ciclo pecuário brasileiro. O Brasil passa por um ciclo de baixa e esses países estão passando pelo ciclo pecuário de alta, ou seja, eles estão retendo fêmeas e o preço desses países deve subir e, assim, favorecer o mercado brasileiro.
AB: O Espírito Santo pode se beneficiar de alguma forma?
RE: O comportamento do mercado bovino capixaba acompanha o nível nacional. O que pode interferir de forma muito positiva para o Espírito Santo são as praças exportadoras porque apesar do estado não ser um grande produtor de carne, existem frigoríficos com base exportadora localizados em solo capixaba. O cenário pode ser interessante para os frigoríficos capixabas que exportam para a China.
AB: De que forma os fatores climáticos influenciam o mercado bovino?
RE: Normalmente espera-se o período das águas, quando o capim cresce com bastante vigor, para ter um alimento de qualidade e em maior volume para os animais.
Isso aumenta a produtividade, pois assim é possível ter mais animais nas áreas por conta da disponibilidade de alimento. Porém, 2022 foi um ano muito atípico. No Espírito Santo, por exemplo, a seca que os produtores enfrentaram no sul do estado foi muito grave, houve até registro de morte de animais.
Quando a chuva apareceu, o capim ficou no ponto de ter condições de crescer, mas o cenário foi de acumulado de chuva muito grande em algumas regiões, o que também atrasou a rebrota. Nas áreas encharcadas o capim não teve condições de crescer por conta do alagamento.
A situação do pecuarista, dependendo da região do estado, é complicada porque o ciclo pecuário está para baixo e o preço caiu. Além disso, o pasto, no ano passado, passou por seca, alagamento e enfrentou taxas de rebrota mais baixas.
O pecuarista acaba tendo o faturamento afetado de forma direta e de forma grave se não estiver bem preparado. Todo negócio tem altos e baixos, mas o desafio do pecuarista é peculiar por conta dos fatores climáticos. O clima tem interferência direta do que acontece dentro das fazendas.
Inclusive é o maior risco do agronegócio tanto para agricultura quanto para pecuária. É possível ter controle com as previsões, mas não é possível controlar os efeitos climáticos.
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