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Em conversa com a coluna Agro Business, o diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, avaliou que o impacto da suspensão temporária das exportações brasileiras de carne bovina não deve ser como foi registrado em 2021. Na época, as exportações foram suspensas por mais de 100 dias após dois registros de casos atípicos de “vaca louca”. Um dos pontos abordados por Lucchi é que a CNA, inclusive, está em contato com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para discutir sobre a revisão do acordo bilateral firmado em 2015 entre os países a fim de evitar que novos embargos desnecessários e prejuízos aconteçam. A demanda do setor deve ser apresentada pelo governo federal ao governo chinês durante a ida do presidente Lula à China em março.
Agro Business: O embargo da China à carne brasileira em 2023 deve ser tão longo como ocorrido em 2021, quando as exportações ficaram paralisadas por 120 dias?
Bruno Lucchi: Desde que o Brasil assinou o acordo com a China em 2015. No documento tem uma cláusula que ressalta que em qualquer tipo de caso de Vaca Louca deve haver uma suspensão automática das exportações. Vale destacar que no Brasil o risco é insignificante de Vaca Louca, atestado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
Após a assinatura, foram registrados alguns casos específicos que causaram a suspensão das exportações. Muitos desses casos foram aproveitados para obter alguma vantagem comercial e não necessariamente por causa de um cuidado apenas sanitário.
O último caso foi registrado em 2021 que durou quase quatro meses e depois de ter dado todas as informações e provas que o caso de Vaca Louca era atípico, a China não voltou de imediato com a permissão das exportações.
Desta vez não é um cenário semelhante ao que era registrado em 2021 por diversos fatores. Nós acreditamos que não deve ser registrado esse tempo todo de espera e, sim, deve ter uma retomada mais rápida.
AB: O Brasil adotou um sistema de segurança para evitar que os ruminantes sejam alimentados com proteína animal. Além disso, desde 2004 essa prática é proibida no país. Isso são fatores que podem beneficiar o país neste momento?
BL: Neste momento tudo leva a crer que nós teremos mais uma vez a confirmação de um caso atípico de Vaca Louca. O Brasil nunca registrou o caso clássico, que é aquele que realmente precisa ter uma preocupação muito maior
Todos os nossos casos até hoje foram atípicos porque o Brasil tem um sistema sanitário muito rigoroso em que, desde 2004, é proibido qualquer tipo de utilização de resíduo animal na nutrição de ruminantes.
Não é permitido alimentar os bovinos, ovinos, caprinos com farinha de carne, farinha de ossos das mesmas espécies. É importante destacar que boa parte da alimentação do nosso rebanho é a pasto. A forma clássica ela vem realmente dessa alimentação de produtos de origem animal e, por isso, o risco do Brasil é insignificante.
AB: O produtor sofreu com o embargo da China à carne brasileira em 2021. Entre agosto a outubro, a queda do preço pago ao produtor pelo boi gordo foi de 14,41%. Qual cenário os produtores brasileiros e capixabas podem esperar após esse caso registrado em 2023?
BL: Nós esperamos que não seja o mesmo cenário novamente. O contexto de 2021 é um era muito diferente do contexto que nós temos hoje. Na época, a China estava fazendo compras volumosas de carne bovina e, de certa forma, tinha um estoque robusto, por isso, o preço internacional estava muito alto naquela época – diferente do que temos agora.
Geralmente nos meses iniciais do ano a China costuma comprar menos porque ainda está usando o estoque do ano anterior. As compras começam a aumentar a partir de março em diante e o pico do meio do ano para frente. Os preços internacionais, se comparado com janeiro deste ano ao que foi exportado no mesmo período do ano passado, está 21% menor.
Nesta semana, a CNA tem uma reunião marcada com representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para discutir sobre a revisão do acordo bilateral de exportação de carne bovina brasileira para a China, firmado em 2015.
Segundo Bruno Lucchi, é necessário uma modernização deste protocolo comercial, estabelecendo um trâmite simplificado em casos atípicos da doença para evitar que embargos desnecessários e prejuízos para ambos os países aconteçam.
“O protocolo já se mostrou eficiente com uma relação de confiança e credibilidade ao longo dos anos e, além disso, são entregues produtos de qualidade ao mercado chinês. O Brasil deu todas as garantias que tinha um problema e foi completamente transparente à Organização Mundial de Saúde Animal nos procedimentos adotados. Neste momento, os testes para identificar se o caso é atípico ou clássico estão sendo feitos em um laboratório de referência no Canadá”, explicou Lucchi.
A intenção da revisão não é “afrouxar” as medidas sanitárias, mas sim colocar uma cláusula que, se o caso for atípico, as exportações devem retornar imediatamente.
A ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China na última semana de março será uma oportunidade para apresentação das demandas do setor agropecuário ao presidente chinês, Xi Jinping. Apesar disso, o governo brasileiro tenta acelerar os protocolos sanitários para regularizar as exportações antes da visita presidencial ao país, que é considerado o principal parceiro comercial do Brasil.
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