Enquanto o setor de comércio e serviços cresceu 14,4% e o de construção civil 61% no Espírito Santo, na comparação entre o primeiro trimestre deste ano com o último de 2019, a agropecuária está 2,9% abaixo do nível pré-pandemia por diversos motivos. Os dados foram divulgados pelo Indicador de Atividade Econômica (IAE) da Findes e mapeados pelo Observatório da Indústria. Os números evidenciam que o resultado é favorável para o estado e que a atividade econômica capixaba encontra-se 10,2% acima do período anterior à chegada do coronavírus.
No primeiro trimestre deste ano, a atividade econômica do Espírito Santo cresceu 4,2% em relação ao mesmo período de 2022.
Esse aumento foi influenciado, principalmente, pelo setor de serviços e comércio (6%). A indústria também teve resultado positivo no período (0,3%). Já a agropecuária caiu 6,6%.
A agropecuária apresentou uma queda motivada pela redução tanto na agricultura (-6,7), quanto na pecuária (-6,9). No segmento agrícola, a ênfase recai sobre a produção de café, já que este é um ano de bienalidade negativa, ou seja, a expectativa é de uma produção menor em comparação ao ano anterior.
A economista-chefe da Findes e gerente-executiva do Observatório da Indústria da Findes, Marília Silva, discutiu os desafios enfrentados pelo setor agropecuário no estado e informou que a variação do agronegócio capixaba é fortemente influenciada pela bienalidade do café, sendo esse o principal fator para explicar as oscilações na atividade agro.
“A volatilidade é uma característica intrínseca da economia agropecuária, onde algumas culturas possuem um peso significativo. No cenário nacional, por exemplo, o impacto de eventos relacionados à soja já foi observado, mas no Espírito Santo é o café que desempenhou esse papel de influência”, explicou.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra cafeeira no país em 2023 será de 54,74 milhões de sacas beneficiadas contra 50,92 milhões de sacas em 2022, um crescimento de 7,5% na produção. Sendo um bom resultado mesmo em um ano de bienalidade negativa.
Como o café possui uma participação expressiva na agropecuária capixaba, qualquer variação negativa nesse setor acaba impactando o setor como um todo.
No Espírito Santo, a produção está estimada em 13,65 milhões de sacas, com expectativa de redução de 18,4% em relação à safra anterior, causada pelo longo período de estiagem, aliado às baixas temperaturas e ano de bienalidade negativa, sobretudo, no arábica.
Por sua vez, a pecuária enfrenta interferências mais intensas em relação aos custos, especialmente no que diz respeito à produção de aves, ovos e bovinos. A economista aponta que a guerra entre Rússia e Ucrânia teve um efeito agravante, especialmente na questão dos fertilizantes.
“Além disso, períodos em que o dólar se valorizou também impactaram a ocupação do setor. Posteriormente, com o desalinhamento das cadeias globais decorrentes da pandemia, essa situação se agravou consideravelmente, sendo a guerra um grande desafio para aqueles que dependem de fertilizantes como insumos”, disse Marília.
Também é importante considerar que a produção de leite no Espírito Santo vem decrescendo nos últimos anos, fruto de uma baixa produtividade nas fazendas. Com isso, há uma capacidade ociosa na indústria láctea capixaba. Além disso, o consumo de lácteos da população do estado não consegue ser atendido pela produção local, segundo avaliação da Seag.
Atualmente, o Espírito Santo produz cerca de 1 milhão de litros de leite por dia, o que representa cerca de R$ 727 milhões anuais de faturamento.
“Embora haja preocupações com a gripe aviária no Espírito Santo, é importante lembrar que os focos dessa doença surgiram em maio, ou seja, os números não refletem nos dados mencionados neste período. Ainda que esses focos em aves silvestres existam, não há nenhum direcionamento contrário ao fato do Brasil ser um país livre da doença”, explicou Marília Silva da Findes.
No Brasil já foram detectados 39 casos positivos de influenza aviária em aves silvestres, sendo a maioria no Espírito Santo, com 25 casos confirmados.
A confirmação dos casos em aves silvestres fez com que associações, governos e municípios produtores e costeiros adotassem medidas de prevenção e cuidados para evitar que a influenza aviária atinja à cadeia avícola capixaba.
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