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Preocupados com a possível chegada da monilíase do cacaueiro nas lavouras nacionais, os estados do Espírito Santo, Bahia, Pará e Rondônia estão concentrando esforços para evitar a entrada dessa grave doença que assola as plantações de cacau, podendo reduzir significativamente o potencial de produção no país. Juntos, esses estados são responsáveis por cerca de 98% da produção nacional de amêndoas de cacau, gerando uma receita de R$ 23 bilhões. Nesta semana, a Associação de Cacauicultores do Espírito Santo (Acau) vai liderar uma iniciativa para conscientizar os produtores sobre os reais impactos da monilíase e suas implicações, caso se estabeleça nessas regiões.
No último dia 16, esses estados assinaram um termo de cooperação técnica com intuito de alinhar estratégias preventivas, ampliar a capacitação do corpo técnico e dos produtores, e promover discussões sobre linhas de pesquisa e investimentos no combate à doença. Um ofício foi encaminhado ao Ministério da Agricultura, solicitando o aumento nos investimentos para enfrentar a ameaça.
Nesse contexto, a Acau, em parceria com a Prefeitura de Linhares, vai promover uma reunião com produtores de cacau do Espírito Santo, onde serão apresentados detalhes sobre a monilíase.
Francisco Durão, diretor técnico da Acau, vai compartilhar as experiências presenciadas no Peru e no Equador, destacando medidas existentes e propostas para conter a disseminação da doença. O foco é sensibilizar os produtores para que contribuam com ideias e soluções, a serem encaminhadas para os órgãos públicos competentes.
Durante a exposição, Durão vai alertar para a possibilidade de disseminação rápida da monilíase na região amazônica, além de destacar como a resistência da monília a condições adversas, como luz e temperatura elevada, ressalta a urgência de medidas preventivas, como a utilização do brometo de metila para esterilização, proposta que será discutida na reunião.
“A monilíase já está presente no Solimões, e o transporte fluvial para Manaus e outras cidades aumenta o risco, especialmente considerando o comércio significativo do cupuaçu, um hospedeiro da doença, na região. A disseminação rápida no bioma amazônico é uma possibilidade preocupante. Mesmo com a barreira da caatinga e do Cerrado antes de chegar à Mata Atlântica, diversos meios de transporte facilitam a propagação”.
A monilíase é causada por um fungo que ataca os frutos em qualquer fase de desenvolvimento e pode causar perdas de até 100% da produção. Uma das características é a agressividade com que destrói as lavouras. O fungo pode sobreviver tanto no solo quanto em frutos velhos e nas sacarias.
O impacto da monilíase é ressaltado por um estudo do pesquisador peruano Enrique Arévalo, que revela a rápida propagação da doença. Um fruto infectado pode contaminar 20% dos frutos da planta, e dois frutos infectados comprometem 64%, enquanto quatro frutos doentes resultam em uma queda de 90% na produção.
Segundo o representante da Acau, o desafio é a remoção eficaz dos frutos infectados, uma tarefa cada vez mais difícil devido à escassez de mão de obra. “Este cenário demanda um adicional de um trabalhador para cada dois hectares, dedicado exclusivamente à retirada de frutos infectados. A semelhança dos sintomas entre a monilíase e a vassoura de bruxa, com a distinção na esporulação no final do ciclo, aumenta a complexidade da identificação”, explicou Francisco Durão.
A Embrapa destaca que o fungo, presente há mais de 200 anos na América do Sul, apresenta como sintoma inicial o escurecimento dos frutos.
O Ministério da Agricultura já confirmou registros da doença no Acre e no Amazonas em 2021 e 2022, respectivamente, alertando para os graves prejuízos que podem superar os causados pela vassoura-de-bruxa.
O Espírito Santo é o terceiro maior produtor brasileiro de cacau, com produção em 45 municípios capixabas. Dentro do estado, Linhares é o maior produtor e concentra quase 70% da produção estadual.
Em 2022, a produção capixaba movimentou R$ 134,3 milhões em 11.702 toneladas, segundo dados da Seag. Entre as frutas, o cacau é a terceira na ordem de importância de geração de renda rural, ficando atrás apenas do mamão e da banana.
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