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Um projeto de cooperação internacional entre pesquisadores do Brasil e da Suíça, destinado a avaliar os efeitos do uso e ocupação do solo em pequenos riachos do Espírito Santo e de Ticino, revelou os impactos negativos que estes ecossistemas sofrem devido à retirada da vegetação nativa das margens e à utilização dessas áreas para atividades, como a criação de animais e agricultura. Após três anos, os pesquisadores da Universidade Vila Velha (UVV) e da Universidade de Ciências Aplicadas e Artes do Sul da Suíça (SUPSI) constataram que a substituição de florestas nativas próximas a riachos por áreas agrícolas resulta em perda significativa de biodiversidade aquática e alteração de processos ecológicos.
Uma das principais novidades do projeto, no contexto dos estudos em riachos na Mata Atlântica, consiste na investigação dos possíveis impactos do uso do solo, especialmente na agricultura, sobre grupos de organismos aquáticos distintos, com funções bastante diversas.
Por exemplo, o estudo busca compreender como o uso do solo pode afetar os padrões de diversidade de algas, fungos e insetos aquáticos, além de investigar os impactos nas características e no funcionamento dos riachos. Em colaboração, experimentos sincronizados estão sendo realizados no Brasil, especificamente no Espírito Santo, e na Suíça, para comparar os efeitos do uso do solo em riachos das regiões tropical e temperada.
Coordenado pelos pesquisadores Marcelo Moretti, da UVV, e Andreas Bruder, da SUPSI, o projeto nasceu a partir da necessidade de compreender os impactos negativos causados pela retirada da vegetação nativa em pequenos riachos, enquanto os estudos anteriores focaram predominantemente em grandes rios. Uma vez que a maior parte das bacias hidrográficas é formada por pequenos riachos, o entendimento dos efeitos do uso e ocupação do solo na biodiversidade e funcionamento destes ecossistemas é fundamental para a preservação das bacias hidrográficas e manutenção da qualidade e disponibilidade da água.
A pesquisa abrange duas vertentes de especialização dos coordenadores: Bruder concentrou sua formação acadêmica em fungos aquáticos, enquanto Moretti se especializou em insetos aquáticos, que são indicadores de qualidade da água.
Nos últimos três anos, as pesquisas se concentraram em duas questões fundamentais: o impacto do uso do solo no funcionamento dos riachos e na diversidade aquática, e a necessidade de preservar áreas reflorestadas, mesmo estando a baixa-mar de áreas afetadas pelo desmatamento.
“Os dados coletados e analisados durante a primeira fase do projeto, entre 2020 e 2023, revelaram resultados consistentes em ambos os países. Ao comparar os riachos tropicais do Espírito Santo com os temperados da Suíça, notamos distinções nas taxas de importantes processos ecológicos devido às diferenças na temperatura da água e biodiversidade aquática. Os resultados preliminares indicam que a substituição de florestas nativas por áreas agrícolas promove o aumento da concentração de nutrientes e temperatura da água, além da entrada de detritos vegetais não nativos nos riachos, como folhas de bananeiras e cafeeiro, alterando os processos ecológicos e levando à perda de biodiversidade”, explicou Moretti.
Ao longo do projeto, o monitoramento abrangeu oito rios no Espírito Santo, distribuídos nas cidades de Santa Leopoldina e Alfredo Chaves, onde foram identificados riachos com áreas desmatadas e áreas com floresta nativa. Os resultados preliminares indicam que a preservação de florestas ripárias, mesmo a jusante de áreas desmatadas, ameniza parte dos impactos negativos.
Concluída a primeira fase em 2023, o projeto foi renovado por mais três anos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e pela Fundação Nacional Suíça de Ciência (SNSF).
Por meio da adesão da Fapes, o projeto recebeu apoio da Fapes e da SNSF de R$ 400 mil do Brasil e 300 mil francos da Suíça.
Em julho de 2023, duas pesquisadoras da UVV que atuam no projeto de pesquisa “Consequências de alterações da vegetação ripária para a cadeia de detritos em riachos temperados e neotropicais e o papel da biodiversidade” fizeram estágio de 45 dias na Suíça. Além disso, os coordenadores visitaram à SUPSI e a UVV para realização de experimentos em campo e discussões de resultados.
Durante o estágio, as pesquisadoras de pós-doutorado Paula Omena e Larissa Corteletti analisaram a biomassa de fungos aquáticos decompositores coletados em riachos capixabas que sofreram impactos pela remoção da vegetação ripária e proximidade com áreas de cultivo e criação de animais.
Por atuarem no processo de decomposição de matéria orgânica em rios e riachos, estes fungos são importantes para a disponibilidade de energia para as teias tróficas e manutenção da biodiversidade aquática, além de poderem ser utilizados como bioindicadores de qualidade de água.
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