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Os preços do cacau continuam em alta. Em apenas três meses, os preços dobraram, alcançando níveis recordes na Bolsa de Nova York. Com os lotes mais negociados atingindo US$ 8.307 por tonelada, um aumento de 4% em relação ao fechamento anterior, há uma previsão de que o chocolate se torne mais caro às vésperas da Páscoa, quando a demanda por esse produto tradicionalmente aumenta. No entanto, essa alta nos preços também representa uma oportunidade lucrativa para os produtores de cacau, especialmente os cacauicultores do Espírito Santo, o terceiro maior produtor de cacau do Brasil.
O preço do cacau atingiu novas alturas, registrando um aumento significativo nos últimos meses. Atualmente cotado em torno de US$ 8,3 mil por tonelada na Bolsa de Nova York, esse valor representa mais do que o triplo do preço de há um ano, refletindo uma variação de 307% desde março passado.
Essa escalada nos preços é atribuída a uma série de fatores, conforme explicado por André Scampini, secretário executivo da Associação dos Cacauicultores do Espírito Santo. Scampini aponta para as variações climáticas adversas na Costa do Marfim e em Gana, os principais produtores mundiais de cacau, juntamente com surtos de pragas que afetaram a produtividade nesses países.
Além disso, ele destaca as exigências cada vez mais rígidas da União Europeia em relação à preservação ambiental e ao desmatamento, o que também contribui para elevar os custos de produção. No Brasil, a redução na produção devido a condições climáticas desfavoráveis, como a escassez de chuvas, também desempenhou um papel importante nesse cenário.
“Ao mesmo tempo, houve redução da produção devido a efeitos climáticos, como a falta de chuvas, que fez com que a produção da amêndoa de cacau reduzisse. No ano passado, os preços começaram a subir, mas as grandes indústrias ainda mantinham estoques. Conforme os preços foram aumentando gradualmente, em outubro ocorreu um aumento mais dramático devido ao esgotamento desses estoques”, afirmou o secretário executivo da Acau.
Com a redução dos estoques das indústrias e o aumento da demanda por cacau, especialmente na Ásia, os preços continuam subindo. No Espírito Santo, os produtores começam a sentir os benefícios desse mercado aquecido, com a saca de 60 kg sendo comercializada a R$ 2.320,00 no dia 19 de março de 2024, uma variação de 11,5% em relação ao dia anterior.
De acordo com Scampini, o impacto dessa valorização pode levar algum tempo para chegar a todos os produtores, especialmente aqueles que estão entrando recentemente na cultura do cacau, já que as árvores levam de quatro a cinco anos para alcançar a produção plena.
“O aumento está chegando aos produtores. Na África, nos países Costa de Marfim e Gana, houve a incidência de pragas e redução na oferta, ao passo que a demanda da Ásia aumentou. Todos esses fatores estão impulsionando os preços do cacau para cima. Esta valorização representa uma excelente oportunidade para os produtores”, destacou Scampini.
Diante desse cenário favorável, alguns produtores estão reinvestindo no cultivo de cacau, revitalizando roças abandonadas e aumentando a produção. Desde 1945, a família Sueiro iniciou a produção de cacau, em Linhares. Hoje, José Antonio Batista Sueiro e o filho Ivo Bassini Sueiro dão continuidade à tradição familiar. Além do cultivo de cacau, a família beneficia o fruto e investe na fabricação de chocolates.
No entanto, apesar da valorização do cacau, a produção de chocolate enfrenta desafios, pois os altos preços da matéria-prima afetam a rentabilidade. José Antônio Batista Sueiro ressalta que, embora a produção de chocolate não tenha sido suspensa, foi necessário manter os preços estáveis para garantir a continuidade da fabricação.
“É uma situação em que nos sentimos privilegiados por termos nossa própria produção, mas a fabricação de chocolate se torna desafiadora. Continuamos comprometidos com a produção de chocolate, embora tenhamos sido forçados a manter os preços baixos para garantir a continuidade da fabricação. Atualmente, vender cacau é mais vantajoso do que produzir chocolate. Apesar de termos uma produção modesta, mantemos a flexibilidade necessária para atender às demandas dos clientes e garantir uma margem mínima para manter nossos funcionários”, explicou Sueiro.
Enquanto isso, produtores de chocolates finos, como Érika Rangel, expressam preocupações sobre a possibilidade de repassar os aumentos de custo aos consumidores finais, especialmente, depois do período da Páscoa. Érika Rangel, que cultiva cacau junto com seu pai, Vanildo dos Reis, na Fazenda Esperança, em Linhares, também administra uma indústria de produção de chocolates finos em Vitória há cinco anos.
“Ficam dois dois sentimentos: como produtora, vejo a alta dos preços como um resgate da valorização da cultura, um reconhecimento do trabalho árduo que dedicamos ao cacau, uma mudança de perspectiva depois de enfrentar tantas perdas ao longo do tempo. Como fabricantes de chocolate fino, sabemos que existe um investimento significativo e custos diferenciados associados a isso”, concluiu Rangel.
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