Puxado pelo café, agronegócio capixaba já movimentou R$ 6,7 bilhões em 2024
As fazendas, tradicionalmente associadas à zona rural, agora se estabelecem também nas áreas urbanas. Essa tendência, já observada em países da Europa e Estados Unidos, tem ganhado espaço na capital do Espírito Santo, atraindo empreendedores que apostam nessa forma de produção com cultivos de plantas em telhados e terraços. Esse movimento sustentável, embora muitas vezes não seja reconhecido como uma atividade formal, é praticado por cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo e ajuda a economizar na compra de alimentos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Nos últimos anos, diversas iniciativas vêm sendo exploradas por empreendedores capixabas em busca de uma agricultura mais rentável. Com as mudanças climáticas, escassez de água e aumento das temperaturas, as fazendas urbanas se tornam uma alternativa para agricultores que desejam produzir alimentos na Grande Vitória.
Uma técnica que tem ganhado adeptos é a hidroponia, que consiste em cultivar plantas sem o uso da terra. O biólogo e agricultor Leonardo Valandro Zanetti começou a horta de forma experimental em 2019, no terraço da casa dos pais, no Morro do Quadro, em Vitória. A Horta do Léo, como é conhecida, conta com uma estufa onde são cultivadas cerca de 250 plantas de tomate no sistema semi-hidropônico. Leonardo produz tomates dos tipos italiano e grape.
“Este era um terraço que acumulava sujeira e a madeira se deteriorava, precisando ser substituída constantemente. Eu tinha duas opções: fazer um jardim ou um telhado verde. Devido à minha formação, pensei em criar algo legal e sustentável, com a possibilidade de gerar comida. Optei por gerar comida, que sairia mais barato. Então, construí a estufa,” destacou Zanetti.
Livre de agrotóxicos, o fruto é comercializado, trazendo uma nova perspectiva sobre agricultura e alimentação. Seu principal mercado é o consumidor final, fazendo a entrega direta. Leonardo aponta alguns benefícios desse tipo de interação com o cliente:
“O benefício é a proximidade com o consumidor final. Reduzimos muito o consumo de carbono. Quando o produto é produzido no interior, ele passa por um atravessador que leva para a Ceasa, de lá vai para o supermercado, e do supermercado para a casa do consumidor. Aqui, a pessoa pega diretamente comigo ou eu entrego, oferecendo um produto mais fresco e sem uso de agrotóxicos. Utilizamos substratos de origem vegetal com um pouco de mineral, mas todo o material é esterilizado, pronto para cultivo, sem risco de patógenos no solo.”
Devido aos cuidados com os tomates, o cultivo precisa ser protegido. Apesar dos muitos benefícios, também há desafios. Leonardo explica que o maior deles é lidar com a temperatura elevada na capital capixaba.
“Temos um problema sério com a alta temperatura devido à estufa ser baixa e ter pouca circulação de ar. Estamos em uma área urbana, onde a ilha de calor se forma. Nos períodos próximos ao meio-dia, quando o vento para, a temperatura pode passar de 42 graus no verão, o que inviabiliza o cultivo do tomate. Acima de 33 graus, a produção cai muito. Também temos problemas com pragas. A mosca branca ataca muito, ao contrário da traça, que é um dos maiores problemas para os cultivadores de tomate no Brasil”.
Apesar dos desafios, os resultados da última colheita foram satisfatórios: 60 quilos de tomate por semana, totalizando 1200 quilos.
Em Vitória, outro empreendimento também funciona como uma fazenda urbana. No bairro Praia do Canto, cultiva-se hortaliças como alface, manjericão, rúcula e mostarda, todas livres de agrotóxicos. Além da compra na loja, os clientes podem assinar um serviço mensal para receber os produtos em casa. Para Leonardo, esse modelo de negócio desenha o futuro da agricultura no Espírito Santo.
“Olho para fora, para os Estados Unidos, Canadá, Europa, onde esse movimento é forte. No Rio de Janeiro, também há uma fazenda urbana. Acho que isso veio para ficar. Se as pessoas tiverem um espaço em casa com sol, podem produzir seu próprio alimento, e tenho certeza de que não vão querer voltar atrás”.
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