Jul 2024
2
Stefany Sampaio
AGRO BUSINESS

porStefany Sampaio

Jul 2024
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Stefany Sampaio
AGRO BUSINESS

porStefany Sampaio

Agro Business: Quais são os motivos para a valorização da cotação do cacau?

Leonardo: O principal motivo está relacionado à oferta. Atualmente, estamos enfrentando problemas de produção nos principais países produtores de cacau. A Costa do Marfim, que é o maior produtor mundial, responde por cerca de 35% a 40% da produção global, juntamente com Gana e outros países da região oeste da África, como Nigéria e Camarões. Juntos, esses países correspondem a cerca de 70% da produção mundial de cacau.

Esses países têm enfrentado problemas tanto a curto quanto a longo prazo. No curto prazo, questões climáticas, como o El Niño, impactaram negativamente a safra africana no segundo semestre do ano passado. Além disso, houve dificuldades no controle de doenças, resultando em uma queda significativa na produção este ano. Espera-se que o mundo enfrente seu terceiro déficit global consecutivo no balanço de oferta e demanda, com a demanda superando a oferta pelo terceiro ano seguido.

Para termos uma ideia da magnitude, comparando a safra da Costa do Marfim desde o início da temporada, em outubro, até agora, com o mesmo período da safra anterior, observamos uma queda de cerca de 30% na produção. Esse é um volume bastante expressivo.

A oferta foi o principal fator que impulsionou os preços no início deste ano. Além disso, a demanda se mostrou mais resiliente do que o esperado desde meados do ano passado. Apesar das fortes altas no preço do cacau, que impactaram os preços dos subprodutos como a manteiga e o pó de cacau, a indústria enfrentou um grande aumento nos custos. Parte desses custos foi repassada ao consumidor final, mas o consumo manteve-se em um nível muito bom.

Agro Business: Temos reparado que houve uma queda recente na cotação do cacau, saindo de US$ 10 mil a tonelada para em média US$ 7 mil a tonelada. Quais são os motivos?

Leonardo: A queda recente nos preços do cacau, que foi observada na última semana, não pode ser atribuída a fundamentos específicos. Em vez disso, os fatores por trás dessa queda são principalmente técnicos. Durante o período de alta nos preços, houve uma grande saída de agentes da bolsa.

Essa menor participação no mercado aumenta a volatilidade, já que um número reduzido de agentes tem maior influência nas movimentações do mercado. Portanto, a queda recente tem uma natureza mais técnica. Pelo que vimos, essa queda já está desacelerando. Não esperamos que o cacau fique recuando muito mais do que os níveis observados em maio. Provavelmente, os preços continuarão a oscilar, mas dentro de uma faixa de preços relativamente estável.

Agro Business: A queda de produção em países africanos trouxe um maior interesse dos investidores pelo cacau produzido no Brasil?

Leonardo: Sim, com certeza. Primeiro, é importante contextualizar que o preço do cacau no Brasil tem uma correlação muito próxima com o preço do cacau na bolsa de Nova Iorque. Portanto, essas super altas nos preços internacionais também causaram aumentos significativos no mercado brasileiro, especialmente em um momento de desvalorização da nossa moeda.

No oeste africano, apesar das altas intensas, as melhores remunerações não chegam aos produtores, parando nos intermediários e exportadoras. Sem uma boa remuneração, os produtores africanos não têm incentivo para investir em suas lavouras, aumentar a produtividade, expandir as plantações ou melhorar a adubação.

Por outro lado, em outros países produtores, especialmente na América do Sul, estamos vendo um cenário diferente. Produtores estão recebendo melhor remuneração, o que lhes permite melhores relações de troca, especialmente em relação a fertilizantes. Isso resulta em mais capacidade de investimento para ampliar o nível de tecnificação e produtividade.

Dois destaques são o Equador, terceiro maior produtor global, e o Brasil. Aqui, os produtores estão conseguindo melhores remunerações e encontrando oportunidades para investir em suas lavouras. Enquanto a produção cai nos principais produtores africanos, a melhor situação em países fora da África ajuda a aumentar a produtividade e amenizar a queda na oferta global.

Este é um momento de grandes oportunidades para os produtores brasileiros. A perspectiva é que a produção brasileira continue crescendo nos próximos anos.

Com projetos como o da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e CocoaAction, o Brasil pretende alcançar a autossuficiência até 2030 e se tornar um exportador líquido. Esse cenário corrobora o desenvolvimento da nossa cadeia produtiva de cacau.

Agro Business: Os preços mais elevados contribuem para que os produtores continuem investindo em mais lavouras no Espírito Santo?

Leonardo: Sim, os preços mais elevados incentivam os produtores a investir mais em suas lavouras no Espírito Santo, que possui grande potencial. No entanto, essa região também sofreu com o clima recentemente, com o El Niño afetando tanto o sul da Bahia quanto o norte do Espírito Santo.

As oscilações climáticas são um desafio constante, mas, de maneira geral, esperamos que os preços elevados estimulem melhores investimentos por parte dos pequenos produtores. Além disso, as atenções internacionais acabam se tornando mais voltadas para o Brasil, tornando uma grande oportunidade.

Um fato importante a mencionar é que a Europa, principal consumidora de cacau e chocolates, está tentando implementar regras anti-desmatamento através da Comissão Europeia. Isso pode afetar o cacau importado do oeste africano e abrir uma janela de oportunidade para produtores em países periféricos como o Brasil.

Estreitar as relações com a União Europeia pode ser vantajoso, especialmente em meio às regras anti-desmatamento, possibilitando que o Brasil se destaque em comparação aos produtores africanos em termos de práticas sustentáveis e condições de trabalho. Enquanto o Conselho de Cacau da Costa do Marfim tenta garantir que os melhores preços cheguem aos produtores, isso nem sempre acontece. No entanto, as grandes empresas estão começando a fazer investimentos para ajudar no desenvolvimento local.

AB: No cenário global, quando essa crise na oferta poderá ser amenizada?

Leonardo: Hoje, grande parte da safra de cacau no oeste africano já foi colhida, principalmente entre outubro e dezembro do ano passado. Durante esse período, os produtores observaram condições desfavoráveis e, como resultado, os preços começaram a disparar a partir de janeiro. Nesse contexto, o mercado está agora focado no que esperar da próxima safra, que está programada para começar em outubro.

Atualmente, há um problema estrutural na Costa do Marfim relacionado ao envelhecimento dos cacaueiros, que afeta a capacidade de reinvestimento e renovação das árvores. Essas plantas mais antigas têm menor produtividade e são mais suscetíveis a doenças, o que impacta negativamente na produção.

Apesar desses desafios, até o momento as condições climáticas têm sido favoráveis, com previsões indicando a possibilidade de um La Niña suave ou condições neutras, que são mais benéficas do que o El Niño para a região. O mercado está atento ao desenvolvimento climático na região e às notícias relacionadas à demanda.

Assim, o cenário atual continua desafiador, com expectativas de equilíbrio gradual no último trimestre do ano, com a entrada da nova safra de cacau. Isso poderá trazer algum alívio ao mercado, potencialmente resultando em preços mais estáveis e menor volatilidade para as amêndoas de cacau.

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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