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O debate sobre a produção, qualidade e desafios para exportação da pimenta-do-reino ganhou destaque ontem (09) na Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. O secretário-executivo da Brazilian Spice Association (BSA), Aureliano Nogueira da Costa, discursou sobre os desafios enfrentados pelo segmento. Durante o encontro, foi destacada a dificuldade para que a produção local de pimenta atenda aos padrões de qualidade dos mercados consumidores mais exigentes e com maior demanda de importação. Com sede em São Mateus, a BSA é uma associação dos exportadores que defende os interesses da cadeira produtiva da pimenta-do-reino e de outras especiarias.
O tema é de grande importância para o Espírito Santo, que contribui com 60% da produção total de pimenta-do-reino do país. Segundo Aureliano, se o estado fosse um país, seria o terceiro maior produtor do mundo em termos de volume. “Somos os maiores produtores e exportadores”, afirmou.
O plantio de pimenta está presente em 45 municípios capixabas, com destaque para São Mateus (35% de participação), Jaguaré (12%), Vila Valério (9,8%), Rio Bananal (8%) e Nova Venécia (5,6%). Dados de 2022 mostram que foram registradas mais de 76 mil toneladas no estado.
Apesar do destaque na produção e exportação da especiaria, o Brasil vem perdendo espaço nas importações. Aureliano destacou o caso dos Estados Unidos, que já foram o maior mercado consumidor da pimenta brasileira, mas hoje estão em 15° lugar. Ele aponta que um dos grandes desafios é atender às exigências do mercado mundial.
“A exportação atende às exigências do país importador. Aí que vem o nosso grande desafio. Cada país tem critérios distintos e precisamos estar cada vez mais atentos a essa legislação”, detalhou. Os desafios incluem manejo e boas práticas de produção, controle de pragas e doenças, rastreabilidade e programas de qualidade.
Um dos exemplos que podem ser adotados é o fim do uso das estacas de eucalipto e a substituição pelo tutor vivo, além da utilização de um sistema de irrigação adequado, ações consideradas um avanço em sustentabilidade e já adotadas pelos pipericultores capixabas. Outra preocupação é a higienização, já que se trata de uma mercadoria alimentícia.
“Principalmente para atender às exigências internacionais por qualidade básica, evitando qualquer risco de contaminação por coliformes fecais ou qualquer outro contaminante”. A falta de rigor no controle sanitário e as exigências de certificações têm inviabilizado a exportação para mercados exigentes como Europa e EUA.
A pimenta-do-reino tem grande relevância para a pauta exportadora capixaba, ficando atrás apenas do café e da celulose. Em 2023, foram enviadas mais de US$ 167 milhões em mercadorias, com a pimenta indo para 74 países, incluindo Vietnã, Marrocos e Emirados Árabes.
No mercado global de 2024, a projeção é que o Brasil ocupe o segundo posto nas exportações, com 90 mil toneladas, perdendo apenas para as 180 mil toneladas do Vietnã, mas longe da terceira colocada, a Índia, com 60 mil toneladas. “É um mercado que está crescendo e precisamos ter pimenta de qualidade para atender às demandas e critérios dos países importadores”, afirmou Aureliano.
Na opinião dele, existe espaço para o crescimento da produção, uma vez que a estimativa de consumo do mercado internacional hoje está em 525 mil toneladas, volume maior do que o que deve ser entregue pelos países exportadores: 493 mil toneladas.
A reunião contou com a participação dos deputados Alcântaro Filho (Republicanos), Adilson Espindula (PSD), Coronel Weliton (PRD) e Julio da Fetaes (PT). Também estiveram presentes o vice-presidente da BSA, Frank Moro; o gerente de Planejamento Rural da Seag, Guilherme Recla; e o analista de Desenvolvimento Cooperativista da OCB-ES, Vinicius Schiavo.
A cultura da pimenta também tem se tornado cada vez mais relevante para as cooperativas locais, representando uma oportunidade de crescimento. De acordo com o Anuário do Cooperativismo Capixaba, as coops capixabas produziram, em 2022, 1.552,43 toneladas da especiaria. Além de ser comercializada no mercado interno, a pimenta também é exportada para diversos países.
Segundo Vinícius Schiavo, analista de Desenvolvimento Cooperativista do Sistema OCB/ES, as cooperativas enfrentam desafios semelhantes aos já superados em outras cadeias produtivas, como a do café e do mamão, para expandir ainda mais o comércio exterior.
“Entre os principais desafios está a gestão da qualidade, manejo e produtividade, especialmente no pós-colheita. Por exemplo, o processo de secagem feito com fogo direto pode resultar em contaminação por salmonela, impedindo o atendimento às exigências dos importadores. Superar esses desafios é crucial para reconquistar mercados importantes, como os Estados Unidos. Atualmente, o Vietnã importa pimenta brasileira, realiza o tratamento e depois a exporta para a Europa, destacando a necessidade de melhorias no processamento local”, destacou Schiavo.
Schiavo também apontou que a Cooperativa dos Produtores Agropecuários da Bacia do Cricaré (Coopbac), cujo principal produto de exportação é a pimenta-do-reino, merece destaque por seu papel na criação e manutenção do selo de Indicação Geográfica da Pimenta-do-Reino capixaba.
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