Após investimento de R$ 5 milhões, Cooabriel expande marca própria de café conilon
Os preços do café robusta continuam a bater recordes reais, permanecendo acima de R$ 1.500,00 por saca de 60 kg desde 12 de setembro. Segundo pesquisadores do Cepea, essa alta nas cotações é observada desde o último trimestre de 2023, quando o indicador Cepea para o robusta estava em cerca de R$ 740,00 por saca, resultando em uma valorização de 100%. Esse aumento é impulsionado por condições climáticas adversas que afetaram a safra brasileira, bem como a produção no Vietnã e na Indonésia. Além disso, problemas no fluxo global de mercadorias têm encarecido o frete, dificultando os envios da Ásia para a Europa. O início da safra brasileira 2025/26 gera preocupações devido ao clima seco e quente, que afeta tanto o arábica quanto o robusta.
O levantamento do Cepea aponta que, pela primeira vez, a média mensal do café robusta superou a do arábica. Em setembro, o indicador do robusta tipo 6, peneira 13 acima, com retirada no Espírito Santo, encerrou o mês com valor R$ 24,72/saca de 60 kg acima do arábica tipo 6.
Pesquisadores do Cepea destacam que, embora o robusta já tenha ultrapassado o arábica em agosto e em alguns momentos entre outubro de 2016 e janeiro de 2017, esta foi a primeira vez em que a média mensal dessa variedade se manteve superior.
O mercado segue atento à escassez global de café, especialmente de robusta proveniente do Vietnã, que deve iniciar a colheita da nova safra agora em outubro. No Brasil, a falta de chuvas já afeta o desenvolvimento da safra 2025/26 de arábica e robusta, com plantas enfraquecidas e um crescente déficit hídrico nas regiões produtoras.
O Vietnã é o maior produtor de café conilon, seguido pelo Brasil e pela Indonésia. Contudo, ambos os países asiáticos enfrentaram problemas climáticos nos últimos anos, resultando em safras menores. A expectativa é de que a colheita deste ano também seja impactada, provocando uma nova queda de produção.
Além da oferta reduzida, outros fatores explicam a alta dos preços do robusta/conilon. Em entrevista à coluna Agro Business, Fernando Maximiliano, gerente de Inteligência de Mercado de Café da StoneX, comentou sobre a volatilidade no mercado de café.
Agro Business: Nos últimos meses, os preços do café robusta oscilaram bastante devido à crescente demanda internacional e às condições climáticas. Quais fatores justificam a venda dessa variedade a valores superiores a R$ 1.500?
Fernando Maximiliano: O ano de 2024 era esperado como o primeiro ano “normal” desde 2020. Em 2020 e 2021, o fenômeno La Niña afetou a oferta, seguido por uma geada que elevou os preços do café, impulsionando o uso do robusta pela indústria. Em seguida, o El Niño prejudicou plantações no norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Embora 2024 fosse projetado como um ano neutro, uma leve geada em agosto atingiu algumas regiões e afetou os botões florais das plantas.
Ondas de calor, quedas bruscas de temperatura e queimadas, como na Alta Mogiana, também foram fatores determinantes para a alta dos preços nas últimas semanas.
Agro Business: Questões geopolíticas também têm influenciado o mercado. Pode detalhar o cenário internacional?
Fernando Maximiliano: Inicialmente, a guerra entre Rússia e Ucrânia impactou os preços em 2022, especialmente pelo impacto no consumo e pela inflação global que elevou os custos com combustíveis e gás. Mais recentemente, o conflito no Oriente Médio afetou exportações de robusta, interrompendo rotas no Mar Vermelho e encarecendo o frete, colocando o Espírito Santo em posição estratégica no fornecimento de robusta.
Agro Business: No Vitória Coffee Summit, Nguyen Nam Hai, Chairman da Vicofa (Associação Vietnamita de Café e Cacau), mencionou que alguns produtores vietnamitas estão migrando para a fruticultura. Isso representa uma oportunidade para o Brasil?
Fernando Maximiliano: Sim, muitos produtores vietnamitas têm migrado para culturas mais lucrativas, como frutas, que podem gerar até 60 mil dólares por hectare. Além disso, o La Niña e o El Niño reduziram a produção de café no Vietnã. Números divulgados durante o evento pelo Nguyen Nam Hai destacam que, na safra passada, o Vietnã produziu 26,7 milhões de sacas de café e tem uma expectativa de queda para 24,5 milhões de sacas, essa redução pode beneficiar o Espírito Santo, pois importadores começam a ver o Brasil como alternativa mais estável.
Agro Business: Quais as perspectivas e desafios para o mercado de café nos próximos anos?
Fernando Maximiliano: O principal desafio é o clima. Produtores de robusta no Espírito Santo, por exemplo, têm sido muito profissionais, com colheitas de até 170 sacas por hectare. Esse avanço se deve ao trabalho do Incaper, incluindo melhorias genéticas e a modernização da produção, incluindo irrigação automatizada e o uso de drones.
No entanto, a previsão de preços é desafiadora. O produtor precisa usar ferramentas de gestão de risco e entender seu custo de produção para tomar boas decisões de comercialização. Ele deve sempre pensar em obter estabilidade e rentabilidade, observando fatores que podem impactar o mercado.
Nos próximos meses, por exemplo, a colheita de arábica na Colômbia e na América Central deve aumentar a oferta desse tipo de café. Já no robusta, o principal fator que tem elevado os preços é a menor produção no Vietnã. A colheita vietnamita começa em novembro, com café chegando ao mercado em dezembro, o que pode dar algum alívio, mas não resolverá o problema da oferta limitada.
A continuidade do clima seco no sul de Minas Gerais ainda pressiona os preços, e o retorno das chuvas poderá trazer algum alívio, mas o cenário permanece incerto.
As estimativas para a próxima safra no Brasil serão determinantes, e a evolução climática nos próximos meses influenciará diretamente nos preços. O mercado, ainda vulnerável a eventos climáticos e geopolíticos, permanece volátil.
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