Sustentabilidade envolve educação do consumidor e também das empresas envolvidas na geração de resíduos.
Qual é o caminho para conseguir sair do conceito de lixo e migrar para o conceito de energia circular? Foi com esse questionamento que Mara Ballam, gerente executiva da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE) iniciou o painel do Whow! Festival de Inovação 2020 que abordou o tema da sustentabilidade e economia circular.
Uma das empresas participantes do evento e que atua no segmento é a B2Blue.com, um marketplace que conecta geradores de resíduos com empresas que veem esse resíduo como matéria-prima. Hoje há 20 mil empresas na plataforma e mais de 8 mil tipos de resíduos cadastrados. “Tem empresas que conseguem trabalhar com todos esses materiais”, diz, Ana Caroline Tempass, COO do startup. “Preenchemos parte da lacuna da economia circular. ”
Do lixo ao uso
Ela explica que muitas empresas tinham, até um tempo atrás, a visão de que o lixo não era nada, e hoje veem oportunidade financeira e ambiental nos resíduos. “As empresas buscam essa diferenciação, esse selo verde. ”
Rogério Machado, CEO da Reciclapac, que também participou da discussão, diz que tem uma visão pessimista do setor. “Não está bom ainda, tem muito para avançar”, afirma. “Vejo muitas empresas descartando materiais que poderiam ser reaproveitados. Tem muito o que evoluir tanto na indústria quanto no varejo. ”
Reuso de embalagem
A Reciclapac promove o reuso de embalagem. Ele citou como exemplo o trabalho feito na MWM, fabricante independente de motores diesel, onde, segundo Machado, todas as embalagens são reutilizadas. A organização também faz a logística reversa e, para isso, foi desenvolvida uma embalagem inteligente que monitora todo o trajeto feito por ela.
“Você une a embalagem à entrega do produto, então, a MWM sabe que a mercadoria foi entregue e pode ir retirar a embalagem”, explica. “É o conceito de upcycling, dar um novo destino à embalagem. ” Mara pontua: “Assim se consegue fazer o controle da cadeia do resíduo. ”
Produtos de limpeza
Lorena Gamboa Abadia, head ambiental da Positiv.a, fabricante de produtos de limpeza naturais, explica que a empresa materializa os princípios da economia circular ao desenvolver produtos sem químicos nocivos em sua composição e com embalagens de material plástico 100% recicláveis.
Com tamanha inovação em um setor tão tradicional como o de produtos de limpeza, a Positiv.a teve que se adaptar. “A ideia inicial era vender os produtos em kits pela internet, mas como as pessoas não estão acostumadas aos produtos serem transparentes, sem corantes, diferentes do que o consumidor está acostumado, mudamos o foco para tornar o produto conhecido, conscientizando e educando o consumidor, explicando porque não tem cor forte e cheiro”, diz Lorena.
A executiva comenta que a comunicação com o público, que já é ligado nas questões ambientais, é mais fácil. Mas, para atingir mais públicos, a empresa oferece muito conteúdo via Instagram sobre a temática ambiental, poluição dos oceanos, agricultura e alimentação. “Trabalhamos com alguns temas mais próximos dos produtos, outros mais distantes” diz.
“Essa geração de conteúdo tem essa vertente de educação.” Além disso, a Positiv.a organiza eventos de mutirão de limpeza de praia. “É algo que impacta as pessoas, porque elas veem a grande quantidade de lixo que é recolhido.”
Hoje, com o faturamento oriundo da venda on-line, a Positiv.a. expandiu sua linha de produtos para o autocuidado, além de manter, desde o começo, serviços de consultoria ambiental.
Logística reversa na tecnologia
Luiz Grilo, diretor executivo da Residuall, uma empresa de tecnologia que aplica suas soluções de softwares e aplicativos no mercado de resíduos, implementando sistemas de logística reversa, concorda sobre a importância da educação do consumidor. “A base de tudo é a educação”, afirma.
Ele diz que a Residuall trabalha a educação ambiental tanto no ambiente corporativo, para as pessoas entenderem a oportunidade do resíduo gerado, quanto na outra ponta, a do consumidor, explicando a forma adequada de separar, armazenar e destinar o resíduo após o consumo.
Para engajar o consumidor, a Residuall tem trabalhado com bonificação. Luiz cita um projeto com a Cargill de logística reversa do óleo Liza, em que foram espalhados pontos de coleta do óleo em supermercados. A cada três litros de óleo usados que o consumidor leva ao ponto de coleta ele ganha um litro. “É uma maneira de engajar o consumidor e de a corporação enraizar essa ação e tratar o resíduo gerado de forma diferente. ”
Fonte: por Adriana Fonseca, https://www.whow.com.br/consumo/forma-desenvolver-economia-circular/