Empreendedores que transformam aquilo que mais gostam de fazer em um negócio.

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Isabela Chusid, empreendedora da Linus (foto: Leo Martins).

 

Com dores nos pés, ela descobriu uma lacuna de mercado. Assim nasceu a Linus, marca de sandálias de plástico veganas.

Quando alguém fala sobre um produto sustentável, você pensa em algo rústico ou artesanal? A Linus chegou ao mercado para quebrar esse paradigma. Com o apoio de engenheiros de material, ortopedistas, especialistas em palmilhas e designers, a empresa lançou, em 2018, a primeira sandália de plástico vegana nacional.

A criação da marca de lifestyle sustentável se confunde com a trajetória profissional e pessoal da sua fundadora e CEO, Isabela Chusid, 26. O interesse pela questão ecológica começou quando ainda era criança, incentivada por uma atividade da escola sobre reciclagem.

“A gente tinha que coletar embalagens de plástico e caixas de ovos. Depois disso eu cheguei em casa e fui questionar meus pais ‘a gente recicla? ’. ” Foi a primeira faísca para o despertar de uma consciência ambiental. A sustentabilidade passou a fazer parte do seu cotidiano.

Quando precisou escolher uma carreira, Isabela pensou em ser médica, diplomata e até astronauta. Ainda indecisa, ela optou por se inscrever em Administração e cursou a graduação na Fundação Getúlio Vargas.

Uma lacuna no mercado foi o incentivo que faltava para empreender.

O empreendedorismo faz parte da família de Isabela. “Dentro da minha casa querer empreender não é nenhum desvio de rota, é um caminho tão válido quanto, mas eu não achava que era para mim”, diz.

O clique veio quando ela começou a enfrentar uma questão pessoal. Após três meses de ócio criativo, Isabela começou a trabalhar em uma empresa de treinamento e desenvolvimento de pessoas, em regime de home office. Por estar sempre em busca de conforto, ela passava o dia descalça ou de chinelo. Foi aí que começou a sentir fortes dores nos pés, fruto do agravamento da hiperfrouxidão ligamentar, condição física que trata desde criança.

Ao procurar um ortopedista, ele alertou que para se livrar da dor seria necessário usar um calçado com curvas de apoio para dar sustentação aos arcos plantares, estruturas que temos nos pés e que garantem o equilíbrio e estabilidade do corpo.

“Eu comecei a olhar no mercado e vi que não tinha nenhum sapato com todos os atributos que eu procurava: a questão do conforto, um design bonito, que desse para usar com um milhão de coisas, e que fosse sustentável. Uma coisa sempre ficava de fora, normalmente era a sustentabilidade”

Diversos profissionais participaram do processo de produção da sandália. Na busca por um desenho anatômico, Isabela procurou ortopedistas e especialistas em palmilhas. “Eles falavam o que ela precisava ter e eu chegava com o projeto. Eles analisavam e diziam ‘ajusta isso aqui, aperta mais ali’. Tudo foi feito em conjunto”, descreve

Para o design, Isabela contratou um desenvolvedor de marcas próprias, mas após alguns problemas na entrega ela pediu ajuda ao marido, que trabalhava com publicidade. “Fomos desenhando à mão. Chegamos a fazer modelos de fivela com argila. Ficou como a gente imaginava, por isso é muito a nossa cara. ”

Por fim, para decidir de quais materiais a sandália seria feita, Isabela começou a pesquisar sobre a cadeia produtiva e criar uma rede de relacionamento. Ao longo desse processo, ela encontrou uma fornecedora preocupada em desenvolver insumos cada vez mais sustentáveis.

O material escolhido para a sandália foi o PVC Ecológico Expandido, 100% reciclável, e os plastificantes e lubrificantes de origem animal foram trocados por produtos de origem vegetal.

A marca ainda compensa toda sua emissão de carbono e 200% do plástico que produz. Além disso, a empresa retirou todos os processos que utilizavam metais pesados, visando também a expansão do negócio – visto que as legislações internacionais são mais rigorosas com relação a esses produtos.

As escolhas feitas garantiram a produção de uma sandália vegana com 70% de fontes renováveis.

Mesmo vindo de uma família acostumada aos negócios, Isabela sentiu na pele os desafios de empreender.

“Foi muito estressante. Essa fase de achar os fornecedores, a linha de atuação, o modelo de negócio é, com certeza, a parte mais difícil. Ter disposição e comprometimento para tirar do papel exige muita disciplina. ”

Isabela tinha dois receios. Um deles era o medo de perder o dinheiro usado para fundar a marca. “Comparado com investimentos milionários de alguns startups, o nosso foi baixo, foi de 50 mil reais. Ainda assim é um dinheiro seu, que você economizou e decidiu apostar…”

A outra insegurança era pessoal. Na época em que lançou a Linus, Isabela tinha apenas 23 anos. Para conseguir se impor, ela acabou adotando uma postura mais masculinizada.

“Eu sempre fui muito tranquilona, mas precisei passar a ter um comportamento mais masculino, uma postura agressiva, não no sentido pejorativo, mas de ser mais durona, sabe? Senão eles não te veem como um cliente, eles te veem como uma menininha que está querendo brincar de empreender. É uma coisa até meio triste, mas eu tive que dançar conforme a música”

Um dos maiores desafios aconteceu a 15 dias do lançamento da Linus, quando Isabela recebeu uma foto do fornecedor e viu que as sandálias estavam com uma mancha na sola, fruto de um problema no canal de injeção. Ela quis cancelar o lançamento e desistir do projeto. Nessa hora, foi a família quem deu mais força.

“Eles me falaram ‘pega agora um avião e vai até o fornecedor. Você tem que estar lá para resolver. Você vai dar conta’. ”

O lançamento aconteceu na data prevista: 20 de dezembro de 2018. De lá para cá, a empresa cresceu cerca de 400% por ano – sendo que no primeiro ano de pandemia da Covid-19 o crescimento foi de 700%.

O modelo de negócio da linus é um dos motivos que garantiu seu crescimento – inclusive na pandemia.

A Linus é uma DNVB, ou Digitally Native Vertical Brand. Ou seja, é uma empresa que nasceu no mundo digital e controla toda a jornada do consumidor, desde a produção até a distribuição dos produtos.

Esse modelo possibilitou cortar uma série de intermediários e chegar a um preço mais atrativo, sem deixar de remunerar bem toda a cadeia produtiva. A estratégia DNVB também levou à adoção de um modelo de venda D2C, ou Direct to Consumer, o que viabilizou estar em contato direto com os clientes.

Essas escolhas foram fundamentais durante a pandemia: enquanto empresas tiveram que se adaptar para fornecer experiências digitais, a Linus já tinha esse modelo na ponta dos dedos, facilitando que a marca alcançasse um crescimento recorde.

Junto a isso, estão algumas mudanças estruturais com relação ao consumo de moda, como a busca por roupas e calçados confortáveis que podem ser usados em diferentes locais e contextos.

“Não fazia sentido comprar um sapato de salto ou uma blusa de seda sem saber quando íamos sair de casa de novo. As pessoas compram a Linus para usar dentro e fora de casa, durante a quarentena e quando ela acabar” 

A pandemia também acelerou a busca por um consumo sustentável. Segundo a pesquisa 10 principais tendências globais de consumo para 2022, realizada pela Euromonitor International, 67% dos consumidores tentaram causar um impacto positivo no meio ambiente por meio de suas ações cotidianas.

Com pouco mais de três anos, a marca já se prepara para exportar seus produtos.

core business da marca é um produto único: a sandália Linus, disponível nos tamanhos 34 ao 45 em diversas cores e para todas as pessoas, independente do gênero.

“A nossa ideia não é ficar criando coleções que estejam sempre mudando, porque isso está muito atrelado ao fast fashion, algo com que a gente não compactua. ”

A estratégia de reduzir o portfólio para fortalecer a marca foi assertiva e os clientes têm o hábito de chamar o produto pelo nome da empresa.

“As pessoas não falam ‘cadê meu chinelo’, elas falam ‘cadê minha Linus’”, afirma Isabela. Alguns itens são agregados esporadicamente ao catálogo, como a camisa de linho. “Lançamos também para reforçar que não somos uma marca de calçado e sim uma marca de lifestyle sustentável. ”

Isabela não imaginava que a Linus iria crescer tão rapidamente. Em 2021, a sandália marcou presença na New York Fashion Week, no desfile de Carlton Jones. No mesmo ano, Isabela integrou a Forbes Under 30, lista de jovens que se destacaram em vários setores.

Ela diz que gigantes do setor calçadista já procuraram a Linus para entender como a empresa conseguiu fazer produtos sustentáveis de boa qualidade.

“A gente realmente fez essas empresas se mexerem. Isso me fez encontrar o meu propósito como pessoa, que é pensar como fazer um produto melhor, não só para me diferenciar dos concorrentes, mas que eles também façam melhor, que busquem sustentabilidade ambiental e social”

A marca se prepara para abocanhar o mercado europeu. “Recebemos muita mensagem de pessoas de fora do Brasil querendo comprar e exportar. Foi um movimento natural, as pessoas enxergam muito valor no nosso posicionamento. ”

Para ganhar a clientela estrangeira, a ideia é fazer mais do mesmo – no bom sentido.

Fonte : https://www.projetodraft.com/com-dores-nos-pes-ela-descobriu-uma-lacuna-de-mercado-assim-nasceu-a-linus-marca-de-sandalias-de-plastico-veganas/ (por Juliana Afonso)

 

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