Indústria têxtil.Kenza Benaouda/Unsplash
Compartilho a reportagem de Beatriz Puente da CNN, devido ao interessante conteúdo em relação a indústria têxtil e seus impactos ambientais.
Roupas velhas, retalhos da indústria da moda e peças de couro compõem as mais de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis descartados por ano no Brasil.
O contingente corresponde a 5% de todos os resíduos produzidos país. Os números são do novo levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), divulgado primeiramente para a CNN.
Para além da quantidade de peças descartadas, a preocupação ambiental se estende aos materiais utilizados na produção das roupas, que são, majoritariamente, provenientes de petróleo.
Segundo o relatório Fashion on Climate, da organização Global Fashion Agenda com a consultoria McKinsey and Company, as empresas do mundo da moda emitiram, em 2018, cerca de 2,1 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa em todo o mundo.
“Têm tecidos que podem levar de cinco a dez anos para se decompor na natureza, tem tecido que pode demorar centenas de anos para se degradar. Quando se faz esse descarte, você tem a pigmentação. Esse tingimento vai contaminar mais um tipo de solo, enquanto outros vão contaminar menos”, explica o engenheiro civil e ambiental da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Júlio Cesar Silva.
Porém, o setor de vestuário continua crescendo. Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) indicam que a indústria têxtil e de confecção registrou crescimento de 20% em 2021, o que representa uma movimentação de 194 bilhões de reais.
O instituto Modefica, em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgou em 2021 o relatório Fios da Moda, que analisou a confecção de roupas no Brasil.
De acordo com a pesquisa, em 2018, foram produzidas cerca de 9 bilhões de peças no país, o que representa mais de 40 unidades por habitante.
Para o especialista, a redução de consumo sozinha não é suficiente para mitigar os efeitos ambientais do descarte de roupas.
Porém, ele ressalta que mesmo já existindo opções mais sustentáveis na linha de produção e no mundo da moda, ainda é pouco em comparação ao movimento global que visa o barateamento dos custos.
“Se a gente diminui o consumo a gente, muitas vezes, diminui o emprego e existe uma cadeia toda por trás disso. Por isso que não é coisa tão simples, que a gente possa dizer ‘pare de produzir’.
A gente tem que substituir algumas opções por outras mais sustentáveis, menos ambientalmente incorretas. Já existem ações desse tipo dentro da moda sim, mas pelo volume que se tem, ainda são muito pequenas em relação à produção global, por isso a poluição ainda é muito alta”, defende Silva.
Entretanto, para o diretor presidente da Abrelpe, Carlos Filho, os números identificados no Brasil ainda são reversíveis.
O ‘upcycling’, processo de transformação de produtos, retalhos e roupas inutilizadas em peças novas e em funções diferentes das iniciais, é uma das tendências para o reaproveitamento dos resíduos.
Já os brechós, segundo dados do Sebrae, tiveram um crescimento de 48,58% entre 2020 e 2021.
“Nós percebemos é que os países mais desenvolvidos têm números muito superiores àqueles que nós observamos no Brasil principalmente por conta da indústria de fast fashion e de um descarte acelerado das roupas. Esse percentual, no exterior, ele chega a atingir 10%, 12%, o que mostra praticamente o dobro daquilo que nós temos no Brasil, mas essa é uma fração que deve ter uma atenção porque tem um potencial de recuperação, de reutilização”, destacou o diretor da Associação.
Fonte: https://www-cnnbrasil-com-br