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autor: Gui Brammer
Founder & Former CEO at Boomera (World Economic Forum Awardee, Board Member, Circular Economy, Innovation)
Fico feliz em ver o termo Economia Circular cada vez mais virar pauta nas conversas estratégicas das empresas.
Vários projetos de novos produtos ou mesmo releituras de produtos existentes começam a pautar-se por este conceito tão bacana, onde repensar a forma de se fazer coisas é o objetivo principal…mas nunca será fácil.
O maior desafio na transição da Economia Linear para a Economia Circular é como pensamos, nosso cérebro não foi feito para mudar, e sim para nos manter no mesmo status quo que ele aprendeu durante anos, com nossas experiências vividas, aulas atendidas, métodos e processos seguidos…enfim, famosa síndrome de Grabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, Vou ser sempre assim Gabriela…”
Além disto, Economia Circular está muito associada, equivocadamente, a apenas um tipo de atividade dentro de algo muito maior, ou seja, quando se escuta economia circular sempre nos remetemos a reciclagem, certo? Mas não é só isto…
O Pensamento Linear industrial, em inglês Take, Make, Waste (pegue, faça/use, descarte) fez com que nós, humanos, criássemos vários tipos de resíduos que pretendo neste artigo trazer para nossa discussão.
Somos os únicos seres vivos que geramos resíduos/lixo no planeta, nenhum outro ser que habita gera lixo e sim recursos para outro ecossistema…
Mas vamos trazer os 4 tipos de resíduos/desperdícios que inventamos influenciados pelo pensamento linear implementando em nosso “chip” cerebral:
Afinal quantos tipos de resíduos/desperdícios fomos capazes de criar???
- Desperdício de Recursos, este é o mais famoso, o que vemos boiando nos oceanos, nos atolando lixões e aterros, ou seja, desenhamos produtos para uma única vida, que após o fim de sua primeira vida, que está cada vez mais curta (pense em uma pazinha de mexer nosso café, por exemplo…damos uma girada, e boom, descarte…), descartamos o que poderia ser reutilizado pela indústria inúmeras vezes se o modelo de negócio fosse pensado de forma sistêmica, como é na natureza sabe?
- Desperdício da Ociosidade, você deve ter uma furadeira em casa, sabe quanto tempo ela de fato irá trabalhar? Segundo estudos menos de 3 minutos em toda sua vida conosco…Ou seja, o modelo em ter a posse de algo versus o acesso àquele produto, faz com que compremos coisas e mais coisas que ficarão mais tempos ociosos do que efetivamente trabalhando. Pare um pouco e observe em sua volta quantos produtos estão aí na sua casa, escritórios parados, se serem utilizados…sim é assustador.
- Desperdício do Vida Útil, já ouviu falar do tema obsolescência programada? Nada mais é que encurtar a vida de um produto, de forma proposital, para “incentivar” a venda de outros produtos e outras versões mais modernas…Isto nasceu no período da primeira crise econômica global, onde alguns setores, como o de lâmpadas, tiveram a ideia de encurtar a vida útil de seus produtos para fomentar a economia. E como fomos treinados desta forma, até hoje usamos do mesmo método para incentivar vendas…quem nunca teve o medo de atualizar o software de um celular com medo de torná-lo mais lento e com isto buscar uma nova versão?
- Desperdício de valor embutido, este vem com a vinda do design complexo de produtos para tentar evitar cópias de suas tecnologias, tornando o produto tão difícil de se reciclar, ou separar as partes, que é mais barato descartá-los do que tentar reutilizar suas peças. Um exemplo são nossos celulares, tanto material precioso dentro deles, mas tão complexos em suas disposições que é mais fácil descartá-los…
Estes são os 4 tipos de resíduos/desperdícios que eu acho os mais emblemáticos e que explicam muito a crise de materiais que estamos vivendo em todo o planeta, a questão agora é que com quase 9 bilhões de consumidores, a disposição final de tudo que consumimos está cada vez mais evidente aos nossos olhos e que fica evidente que precisamos mudar, não só pela questão ambiental, mas também pela inteligência de inovação que isto pode trazer…e inovação para mim é receita nova, é mudança sistêmica, algo que muda uma jornada de fato.
Portanto, Economia Circular não é só reciclagem, muito longe disto, é mudança da forma de pensarmos produtos, e é aí que o “bicho pega”, como falei no início, nossos cérebros não foram feitos para mudar, precisamos criar novos gatilhos, novos esquemas para “aprendermos a desaprender” e aí sim buscar uma economia realmente circular e sustentável!!
Mas como eu sempre falo: “o ser vivo que inventou o problema, sem dúvida será o que inventará a solução”
Para combater estes 4 Desperdícios alguns modelos de negócios vêm surgindo e ganhando muita escala no mundo…então provoco vocês, amigos, se gostaram desta primeira parte, comente, tragam seus comentários, que faço um novo artigo sobre estes novos modelos de negócios que estão surgindo para repensar a indústria de produtos circulares!