A cidade de Lisboa, em Portugal, foi palco da edição 2021 do Web Summit, um dos encontros mundiais mais importantes – e que acontece desde 2016 no país – para promover discussões sobre o papel da tecnologia na transformação do mundo.
Ao todo, marcaram presença mais de 42,7 mil pessoas, vindas de 128 países, em busca de respostas, apresentando novas teorias para o futuro, além de soluções para alguns dos 35 temas discutidos durante o evento, que abordaram desde sustentabilidade, saúde, moda, futuro do trabalho, inteligência artificial, machine learning, entre outros assuntos de impacto no cenário criativo e de negócios.
Startups mundiais, de diversos níveis de maturação, se misturaram a grandes empresas nessa missão de desenhar o cenário futuro da tecnologia como papel transformador da humanidade. No meio de um grande volume de inovações e novas tecnologias, a importância do ser humano nunca foi tão valorizada.
Para destacar os principais temas debatidos no evento, conversamos com a especialista em inteligência de mercado Natasha de Caiado Castro, CEO da Wish International, designer de experiências e professora na ESPM.
Metaverso: virtual e real juntos!
Esse termo ganhou força após o recente anúncio do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, sobre o novo norte das empresas que ele comanda. O foco do conceito é que o mundo real e o virtual deixem de ser coisas separadas e passem a ser um só, com a tecnologia ampliando o ambiente físico. E, com isso, as pessoas ganham papel de destaque.
De acordo com Natasha, que marcou presença no evento, apesar de o metaverso ainda não ser totalmente tangível, todos os participantes já tinham uma opinião formada sobre essa nova tendência, estavam em busca de caminhos ou já sabiam como interagir no universo digital.
Na música e no entretenimento
Alguns exemplos mostram esse fato. O ícone da música eletrônica, Jean Michel Jarre, afirmou que o metaverso deve aproximá-lo dos fãs que antes não teriam acesso direto às suas apresentações por conta de barreiras geográficas. Além disso, acredita que um novo ecossistema com novos empregos será criado, com técnicos, músicos e especialistas que serão necessários para atender às novas necessidades.
Responsável por chefiar a área de branding do Cirque du Soleil, Keyvan Peymani, viu seu negócio despencar de 49 show por mês a zero durante a covid-19 e acredita em uma solução híbrida que será criada daqui para frente.
A indústria de entretenimento foi uma das mais afetadas pela pandemia. Nos palcos do evento estavam empresas sobreviventes, como a marca alemã de destilados Mast-Jägermeister, que criou a iniciativa global #savethenight, com o objetivo de apoiar comunidades noturnas em todo ao mundo. Fez da típica “bebida de balada” uma ativista da transformação. Além disso, a marca, que também estava sofrendo com a saudade do público, achou como solução fazer eventos híbridos, trazendo os artistas da noite para a web em apresentações, workshops e todos os tipos de interação. “É a mais pura demonstração de que o senso de colaboração nunca foi tão necessário e evidente”, aponta a CEO da Wish.
Na moda
O setor de moda teve um palco exclusivo voltado somente para o assunto, no qual foi possível observar os avanços que a pandemia propiciou ao mercado por meio da tecnologia, com a mudança de necessidades, desejos e prioridades. “O ‘chique’ antes era o merchand ir à casa do cliente com os baús lotados para que eles escolhessem com quais peças queriam ficar. O que não interessava, era devolvido”, avalia Natasha.
Com a Revolução Industrial, a praticidade das lojas para ter a experiência imersiva de compra “matou” essa prática do porta-a-porta. “Contudo, com o lockdown percebemos que podemos ter os dois modelos, incluindo o e-commerce, que entrega o produto na sua casa e você retorna caso não o queira e precise trocá-lo. São os novos e super introspectivos valores pós-pandêmicos”, reforça a especialista.
O CTO da gigante H&M, Alan Boheme, fez uma palestra inspiracional convocando todos a refletirem sobre como a moda pode interagir com o cotidiano, não somente de forma estética, mas auxiliando a medicina com gadgets acoplados que gerem dados ou soluções. “Boheme indagou que se um relógio é capaz de dar informações sobre os batimentos cardíacos, por que o mesmo não poderia ser feito por uma camiseta”, contou Natasha.
A Levi’s está empoderando seus funcionários com bootcamps de Inteligência Artificial e obtendo resultados significativos em vendas, assim como a H&M, que fez um “call for action” questionando se existe uma solução ecologicamente palpável para que o mercado tenha novas alternativas para a lavagem de roupas – menos agressivas e mais sustentáveis. “A gigante do fast fashion quer ouvir a sociedade opinar ativamente sobre isso. Provocaram com ‘what if’ e aguardam retorno”, destacou.
A startup brasileira Mimo Live Sales, que trouxe o live commerce para o país, mostrou que essa modalidade de compra é um caminho sem volta. “A empresa mostrou que a revolução do varejo digital made in Brazil tem muito a ensinar para o mercado global”, avaliou Natasha.
Saúde: psicodélicos, alternativos e cérebro
A saúde também foi outro assunto quente no Web Summit, com empresas apresentando diversas soluções inovadoras. Vão desde aplicativos que controlam o desperdício de comida em escolas, monitorando datas de validade, que ajudam a melhorar a qualidade da alimentação dos alunos.
Há também alternativas que prometem auxiliar no combate ao vício em substâncias químicas, principalmente ligadas à neurociência. Com base em estudos de gregos e romanos que usavam peixe elétrico para controlar problemas de saúde mental, foram desenvolvidos devices que já contam com aprovação do FDA (órgão regulador norte-americano) para tratar pessoas com depressão e epilepsia em casa. E eles prometem novidades no combate ao Alzheimer.
A volta das viagens
Aos poucos, as pessoas estão voltando a viajar, seja a lazer ou a trabalho. Nesse sentido, segundo Natasha, o perfil do novo consumidor ainda não está totalmente claro, com alguns pontos de vista a serem discutidos.
Um deles é o marketing de subscrição de serviços nichados, que é uma aposta para os novos tempos, assim como o retorno para o “vintage” de locais conhecidos e seguros. “Ferramentas que proporcionam segurança ao consumidor em todas as dimensões estão sendo apresentadas pelas startups. Aqui o oceano é azul”, reflete a CEO da Wish.
Segundo ela, a indústria do turismo percebeu que 80% das compras migraram para o digital e essas soluções estão deixando esses canais de comunicação mais confortáveis e personalizáveis para um atendimento mais próximo, mesmo digitalmente.
A força do empreendedorismo feminino
Durante o Web Summit 2021, o empreendedorismo feminino reinou absoluto, com a presença de um lounge voltado para as mulheres – o Women in Tech. Segundo a organização do evento, mais de 50% do público presente era composto por mulheres. “Não tenho dados para dizer se isso se deve à maior migração de mulheres para a área de tecnologia ou se, de alguma forma aconteceram mais incentivos para que elas tivessem presentes no evento”, avaliou.
Até mesmo o famoso investidor Tim Draper fez questão de se pronunciar sobre o assunto. “O segredo do sucesso está nas mulheres”. E segundo Natasha, que também atua como Board Member da United Nations e do Woman Silicon Valley Chapter, ele está de olho nas empresas criadas e lideradas pelo público feminino.
Uma das palestras mais lotadas foi a ministrada pela atriz Amy Poehler, fundadora da Amy Poehler’s Smart Girls, canal do YouTube com dicas para mulheres. “Ela levantou sua bandeira de empoderamento de meninas para o empreendedorismo e deixou claro que a equidade de gênero é uma luta de todos”, reforça Natasha de Caiado Castro.