O MEDO…

Reproduzo com grande satisfação o presente artigo do amigo e professor Rinaldo Barros (ver quadro a seguir). Conheci Rinaldo nas lutas e discussões sobre o papel da gestão política e suas repercussões no ambiente das políticas públicas. Exímio articulista e especialista nas questões do tripé: Ambiente Social, Político e Econômico, Rinaldo sempre incomodou os ausentes, incompetentes, os acomodados e os “espertos de plantão”. Recentemente indaguei ao amigo sobre seus livros, artigos e pensamentos, solicitando que o mesmo pudesse liberar este conhecimento para o nosso blog. Fomos atendidos imediatamente. Esse é o espírito de Rinaldo.

VAMOS AO ARTIGO DE RINALDO BARROS: O MEDO.

Por que os brasileiros andamos com tanto medo ultimamente?

Cá no meu canto, fico assuntando que, de certa forma, estamos sendo induzidos a temer mais estórias fantasiosas do que fatos reais. Explico com a seguinte tese.

Sentimos tantos medos, a maioria deles infundados, porque boa parte da mídia nos bombardeia com estórias sensacionalistas publicadas para aumentar os índices de audiência. Os estudiosos chamam essa tese de “teoria dos efeitos da mídia”.

De fato, a cobertura jornalística sensacionalista tem efeitos marcantes na mente e no emocional dos leitores e espectadores: “deu no jornal” tem a força de uma parábola evangélica.

Alguns telejornais sobrevivem com base em manchetes alarmistas, assim como, já existem até programas em que policiais fardados atuam como se fossem “atores”, com a câmera dentro da viatura, e os “suspeitos” são entrevistados como pessoas famosas. Alguns pedem a presença da imprensa para se entregar.

Tudo funciona como se perigo algum fosse pequeno o suficiente que não possa ser transformado em mais um pesadelo nacional. Para competir por índices de audiência com filmes e novelas, os programas de reportagens policialescas apresentam enredos que estarreceriam os melhores roteiristas de seriados de terror.

Estou certo de que os produtores de programas policiais, geralmente, deixam que os relatos emotivos se sobressaiam frente à informação objetiva.

Todavia, essa análise da cultura do medo deve deixar claro que a imprensa não é a única culpada, e mais, que ela é também a candidata mais promissora a uma mudança positiva: basta parar de destacar e repercutir, com sensacionalismo, os nomes e as imagens dos criminosos ou suspeitos. O jornalismo investigativo ou policial deve continuar existindo baseado na verdade factual, na informação objetiva, sem transformar os fora da Lei em heróis do submundo.

É importante registrar que, por trás dos programas sensacionalistas, existe uma ampla variedade de grupos e interesses, incluindo empresas de segurança privada, organizações de defesa pessoal e vigilância, industriais e comerciantes de armas, firmas especializadas em blindagem de casas e veículos, seitas religiosas e até partidos políticos que aprovam, promovem e lucram com o pânico crescente no seio da população.

Chamo atenção aqui para um fato concreto que não foi e nem será divulgado pela grande mídia.

O caro leitor sabia que faz quase uma década que as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo vêm reduzindo os seus índices de homicídios, e que – atualmente – as 10 cidades mais violentas do Brasil são Juruena (MT); Nova Tebas (PR); Tailândia (PA); Guaíra (PR); Cel Sapucaia (MS); Viana (ES); Tunas do Paraná (PR); Maceió (AL); Arapiraca (AL) e Linhares (ES), seguidas de Recife e Salvador? Não são mais Rio e São Paulo. (Leia a matéria completa: mapa da violência – https://www.sangari.com/mapadaviolencia/)

Reconheço, todavia, que a questão da segurança é vital para a vida social e até para a consolidação da Democracia. Afinal, no Brasil, mais de 50 mil pessoas são assassinadas por ano. Isso acontece há vários anos.

Além disso, é preciso destacar que quase todas as vítimas da violência urbana são jovens negros, jovens pobres, moradores de favelas e de periferias urbanas de cidades brasileiras. Os meninos pobres são vistos como se fossem sempre suspeitos de serem criminosos. A polícia continua apartada do povo.

Por outro lado, quero encerrar afirmando que é possível enfrentar essa tragédia social. Tem solução.

No sistema penitenciário, por exemplo, temos um caso de sucesso, historicamente comprovado, em Minas Gerais, implantado pelo então governador Aécio Neves.

O modelo adotado pelo Governo de Minas, apesar de ser uma PPP – Parceria Público-privada, por meio da qual a empresa vencedora do processo licitatório criou o projeto arquitetônico, construiu os edifícios e cuida da operacionalização do complexo prisional; apesar de ser privado,  mantém o papel constitucional do Estado na área de segurança, que deve cuidar da disciplina e do cumprimento das penas estabelecidas pela Justiça, acompanhando a execução das penalidades em conjunto com o Tribunal de Justiça, Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Contas.

O Estado também continua responsável pela escolta dos sentenciados, segurança externa e de muralhas. Ao Governo do Estado, cabe ainda nomear um agente público como diretor de segurança para cada unidade do complexo, sendo eles encarregados pela coordenação e pelas medidas de segurança das unidades.

Resumo da ópera: é possível enfrentar a questão da violência, acionando a co-responsabilidade da sociedade civil e da imprensa, entendendo que os fatos relacionados com a criminalidade devem ser enfrentados, objetivamente, como questão de Segurança Nacional. Sem sensacionalismo e sem medo.

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