Recentemente surgiu no noticiário empresarial o comentário de Marissa Mayer, CEO do Yahoo sobre a questão do trabalho em casa. Ricardo Neves foi contatado por nós, e então resolvemos republicar o seu artigo, originalmente publicado no Blog Fora da Caixa, excelente blog por sinal. Estamos lá conferindo todos os dias.
Difícil o gênio voltar pra garrafa! Este é o título da postagem. Ricardo Neves Blog Fora da Caixa site do Época negócios
Marissa Mayer, CEO do Yahoo!, enquanto amamenta seu bebê, observa se seu diretor de RH cobra de forma efetiva do gerente de produto o não cumprimento das metas 2012.
Marissa Mayer, a CEO do Yahoo!, dá um chilique no melhor estilo comando-e-controle e solta um e-mail, tipo cc: todo mundo, dando um ultimatum de que trabalho em casa está abolido a partir de agora.
Cara Marissa,
Não é essa a maneira correta e eficaz de estimular uma empresa que cresceu zero por cento no ano passado. É uma péssima ideia, sobretudo por ser uma empresa que já esteve na vanguarda da Economia do Conhecimento. Imagine, foi meu primeiro buscador! Só vai fazer com que os seus maiores talentos pulem mais rápido para a concorrência.
O trabalho em casa sempre foi uma vocação da maior parte da humanidade pela conveniência, por minimizar deslocamento, pela proximidade do meio ambiente afetivo e comunitário.
Foi assim ao longo de milênios. Até que um dia começou uma esquizofrênica mania de colocar o trabalho num canto e a vida pessoal noutro. Foi quando a humanidade cismou de inventar a tal da fábrica nos primórdios da Revolução Industrial.
Tudo começou porque as máquinas e as fontes de energia que os capitalistas instalavam tinham de ficar concentradas em algum ponto, de preferência longe de residências, pela poluição e balbúrdia que a produção significava.
O escritório, irmão mais novo da fábrica, nasceu quando inventaram arranha-céus (nome bonito, hein?), elevador e telefone. Isso possibilitou juntar um mundaréu de gente trabalhando de colarinho branco de forma similar ao regime militar e sujo de graxa das fábricas.
Uma das consequências disso foi o tal crescimento exponencial das sofridas e cansativas viagens pendulares casa-trabalho. Viagens cada vez mais compridas devido aos engarrafamentos. E aí o paradoxo: carros capazes de rodar a quase 200 por horas se arrastando a menos de 12 km por hora.
Consequência: hoje, nas grandes cidades, a velocidade média do tráfego já está muito mais baixa do que no tempo dos bondes. Pior ainda, na verdade, a velocidade média em várias vias urbanas já está em velocidade menor do que nos tempos da tração animal.
Vai daí que um trabalhador de qualquer nível socioeconômico nas capitais brasileiras já gasta, em média, 1 hora para cada perna da viagem. Nas grandes metrópoles é muito pior.
(No Rio e em Sampa, na média, a turma gasta mais de 32 dias por ano dedicados ao ir e vir para o trabalho. É mais tempo do que eles teem de férias.)
A grande transformação digital permitiu às pessoas recobrarem mais controle de suas próprias vidas. E isso quer dizer: levar o trabalho, ou pelo menos parte dele, de volta para casa. E as ferramentas digitais que possibilitam essa mágica são cada vez mais sofisticadas e ao mesmo tempo mais acessíveis.
Sorry, Marrisa, não vai dar certo! Que tal considerar a tele-presença, que é um bom exemplo de algo que está invadindo as grandes empresas e vai chegar mais perto de todos nós em versões apropriadas para o ambiente doméstico.
Acho que você nunca vai me responder. Afinal está tão ocupada. Em todo caso segue meu e-mail: [email protected]
Um abração do Ricardo Neves