Onde você quer chegar? O perigo dos jacarés.

Nos últimos meses percorremos o estado do ES, viajamos para o Rio Grande do Norte e visitamos algumas dezenas de empresas. Ao conjunto das visitas soma-se algumas reuniões e entre elas a Academia Brasileira da Qualidade, que este ano realiza o 3. Seminário Qualidade Século XXI, na FIESP no dia 10 de Novembro. Também estivemos nos seminários e encontros do CREA ES reunindo profissionais das engenharias de todo o estado capixaba.

No conjunto da obra ficou uma lembrança bem visível resultado da constatação recorrente do velho e péssimo estilo gerencial que contamina quase todo o país – não estamos falando em corrupção e outras ações similares, apenas da incapacidade de gerenciamento eficaz de empresas e organizações de todo o tipo.

Está muito claro para quem estuda o assunto e vários outros especialistas que existem neste tenebroso ambiente uma confusão muito grande entre o que é meta e o que é desejo ou sonho. O que é sistêmico e o que é localizado, o que é inovação e o que é perfumaria, e igual confusão se faz entre o que é causa e o que é efeito…

Aproveitamos o momento para então ressuscitar o nosso velho Jacaré – vamos contar de novo a sua história – acompanhe atentamente:

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Consta que uma determinada construtora foi contratada para executar uma obra de uma grande ponte no interior do estado. Todos os procedimentos foram providenciados dentro de um Planejamento bem discutido junto ao cliente. De acordo com o planejamento foram recrutados os profissionais, montagem do canteiro de obras, licenciamento ambiental, equipamentos, materiais de construção, levantamentos topográficos, estudos do comportamento do rio e as conexões com o projeto rodoviário em questão. Um planejamento impecável.

A obra seguia em franco desenvolvimento e dentro do cronograma estabelecido (55% do previsto no Pert CPM) quando numa determinada tarde de verão o chefe do canteiro é surpreendido por gritos e chamados dos operários na beira do rio acusando a presença de um jacaré de porte avantajado. Tumulto geral. Naquele intenso corre-corre eis que um dos operários, mais destemido e corajoso, enfrenta o jacaré e ganha a batalha. O jacaré sucumbe. Acalmando os nervos e passado o susto, eis que alguém sugere, a título de comemoração, fazer uma moqueca do referido personagem. A festa foi grande e virou a noite embalada por várias histórias e algumas “lapadas de cana”.

O melhor estaria por vir. Na semana seguinte aparece outro exemplar da família dos jacarés, e em seguida outro. Estava criada uma rotina. A disputa pelos jacarés já estava ficando séria e confusa, quando então, o nobre chefe do canteiro, engenheiro de boa formação e com MBA em Gerenciamento de Projetos, resolve colocar ordem nas coisas, já prevendo alguns problemas. Imediatamente nomeou um supervisor  para cuidar das ocorrências dos jacarés. Considerando as questões que envolviam a segurança e bem estar dos operários, uma outra pessoa seria responsável por cuidar da área próxima ao rio e também pelo envio da carne do jacaré para a cantina, onde poderia ser muito bem aproveitada.

Enquanto se organizavam, nas semanas seguintes novos jacarés voltaram a atacar os operários e todos que estavam ali trabalhando,  e as idéias para a solução do problema brotavam cheias de criatividade e inventividade.  Já tinha gente curtindo o couro dos jacarés com interesses futuros bem interessantes no ramo dos calçados e afins, e a coisa crescia sem controle. Já se falava em criação de um viveiro de jacaré no sistema cativeiro nas redondezas e as idéias não paravam.

Em meio a tanta novidade no campo dos jacarés, alguém lá no cantinho do canteiro de obras perguntou: E a nossa ponte, pessoal, como é que fica??? Ponte! É mesmo, a nossa ponte… quem é mesmo que está trabalhando lá depois do aparecimento dos jacarés? A confusão era grande, e ninguém sabia exatamente, depois de semanas, como estavam as tarefas prioritárias da obra. Obra? Que obra?

GAF_2016.05.08_10h45m30s_006_Moral da história: Voltando à realidade da nossa empresa, aqui e agora. Quantas vezes deixamos de lado a missão e as diretrizes estratégicas da nossa empresa e o seu planejamento focado em resultados para ficar MATANDO JACARÉS? O que significa o jacaré na empresa? Vamos responder: Jacaré é tudo aquilo que surge na rotina da empresa e que chama atenção do gerente mais próximo e o desvia do seu objetivo principal. É tudo aquilo que nos faz confundir coisas URGENTES com coisas IMPORTANTES, lembrando que em muitos casos tais “coisas urgentes” muitas vezes não são importantes.

Matar jacaré pode ser uma atividade bem motivadora do tipo, “o que seria da empresa seu eu não estivesse aqui para resolver os problemas”. Este tipo de comportamento é daqueles que fogem do planejamento e se escondem atrás dos jacarés, ou seja, ficam com todo o tempo tomado com picuinhas (e gostam muito disto) e se esquecem das coisas prioritárias da empresa e do seu grande objetivo.  Quem gosta de matar jacarés geralmente não tem firmeza de objetivos e não conhecem o que é DELEGAR. Provavelmente fugiu dos treinamentos da ISO 9001, QUALIDADE TOTAL, e não sabe muito bem o que significa realmente o MÉTODO PDCA – Planejar (o que, como), Desenvolver (Executar), Controlar os pontos chaves (Check) e Agir (Melhorias).

Sanados os problemas referentes às diretrizes estratégicas, a obra da ponte voltou ao normal, apesar dos jacarés.

Fica agora uma pergunta: e você, gosta de matar jacarés? É uma atividade lucrativa para sua empresa? Pense nisto lembrando que prioridade é a arte de escolher boas e acertadas alternativas.

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