A revista digital Banas Qualidade comemora sua 300a. Edição neste mês de setembro 2017. Trata-se de um marco na história da Gestão da Qualidade no Brasil e é exatamente neste tema que esta edição se desenvolve destacando a História da Qualidade no Brasil.
Em seu Editorial, Hayrton Prado revela preocupação quanto ao momento atual do Brasil e a importância estratégica da Qualidade através do comportamento da Certificação ISO no país. O leitor pode conferir todas as reportagens, artigos e matérias clicando no link : https://
Estamos, com muita honra, participando desta memorável edição ao lado dos maiores especialistas brasileiros no tema Qualidade. Esta participação está registrada na edição n. 300 originalmente na forma de entrevista realizada no início de Julho.
Banas Qualidade – Como você avalia a evolução da qualidade no Brasil nesses últimos anos?
Getúlio – A Qualidade vive um momento de pouca evidência nas empresas e organizações de uma forma geral. Acredito que esta situação se deve a cultura brasileira que se revela hoje muito clara no famoso “jeitinho brasileiro” e também na famosa e temível “lei de Gérson”, ou seja, o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo…
Há também uma acomodação em termos de certificações caindo numa rotina onde pouco se divulga em termos de crescimento, conquistas e casos especiais que pudessem dar novo impulso.
Banas Qualidade – Qual a razão de não haver uma evolução da competitividade brasileira?
Getúlio – A competitividade brasileira tem sido analisada entre outras fontes no Relatório CNI – veja:
Estamos no penúltimo lugar, apenas acima da Argentina. As razões estão em 10 critérios onde entram a disponibilidade e custo do capital, idem para a mão de obra, infraestrutura e logística, peso dos tributos, ambiente macro econômico e micro econômico, educação, tecnologia e inovação. Em todos os critérios os nossos resultados deixam muito a desejar e são responsáveis por este penúltimo lugar.
Deve-se ainda acrescentar o peso da burocracia e o custo Brasil como um todo, e neste caso a competitividade sofre ainda mais.
Banas Qualidade – Na sua opinião, por que não houve um novo movimento pela qualidade no Brasil depois do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP)?
Principalmente pela falta de interesse e prioridade pelo governo sabendo que a instituição “governo” é a maior compradora em todo o mundo, portanto, detém a capacidade de exigir e promover a qualidade. As empresas, na sua maior parte não escolhem a qualidade como opção porque a tratam como fonte de custo e não investimento. O mesmo ocorre com os esforços em inovação.
Banas Qualidade – Em sua opinião, como anda o tripé: normalização, qualidade e metrologia no país?
Getúlio – Esse tripé é facilmente identificado nas grandes corporações. Tornaram-se conhecidos e praticados no Brasil a partir da entrada das multinacionais e também nos grandes projetos de energia e siderurgia.
Daí saíram também as normas importantes do sistema de garantia da qualidade a partir da evolução do sistema nuclear brasileiro.
Na micro, pequena e média empresa o tripé só funciona com muita cobrança e nos processos onde as normas da qualidade são obrigatórias.
Banas Qualidade – O que a corrupção generalizada no país influenciou a qualidade no país?
Getúlio – A influência da corrupção não poderia ser mais maléfica do que está sendo. Cito o caso da operação Carne Fraca. Todos sabem dos esforços que o setor de alimentos precisa empreender na qualidade e segurança alimentar. A qualidade nesta perspectiva é muito mais séria e crítica do que em outros setores da economia, com ressalvas para a indústria farmacêutica onde também temos que ter todo o cuidado e rigor possível.
A falsificação de laudos e auditorias “fantasmas” nos causou grande tristeza em todos os setores da economia e na sociedade brasileiros. Onde estava o rigor da Qualidade neste momento? Onde estavam os certificados da ISO nas suas importantes aplicações?
Banas Qualidade – Sobre o futuro da Qualidade
Getúlio – Entendo que somente a união de pessoas e entidades como a ABQ, UBQ, MBC, FNQ, INMETRO e também periódicos como a Qualidade Banas, Exame, Época Negócios, HSM e editoras como a Qualitymark, entre outras organizações dedicadas ao importante tema da Qualidade, poderá recuperar terreno perdido. Acrescenta-se a Academia e Fundações, Institutos e Associações nos seus respectivos estados para reforçar e promover a sinergia necessária para sensibilizar governos e empresas, tendo como foco uma visão de futuro que garanta um país melhor para nossos filhos e netos.
Entrevistado: Getúlio Apolinário Ferreira, Engenheiro Mecânico com 2 temporadas de estágio técnico no Total Quality Control na Kawasaki Steel no Japão, Membro da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ, Membro do CONPTEC da Federação das Indústrias do ES – FINDES, Superintendente da Fundação Espiritosantense de Tecnologia FEST/UFES, autor de livros pela Qualitymark Editora. Escreve no blog Gestão e Resultados do Portal Folha Vitória no ES.