Por Jairo Martins
Em respeito aos 210 milhões de brasileiros e aos 13,1 milhões de desempregados, dediquei o feriado de 1º de maio de 2019 para a elaboração deste artigo. Confesso que o estado de indignação foi o meu maior fator motivador e catalisador.
Desde a pré-história aos dias de hoje, o mais importante pilar do progresso da humanidade é a capacidade de produzir. Os sistemas econômicos são responsáveis por um processo de execução, transformando o trabalho humano, as reservas naturais e os recursos instrumentais em entregas de valor para a sociedade. Dessa forma, são estabelecidos os fluxos econômicos – a geração de renda, os dispêndios, a poupança e os investimentos -, resultantes da capacidade de produzir, que é a atividade econômica fundamental.
Os fatores de produção, ou melhor, os recursos para produzir, nas suas formas básicas, são constituídos pelas dádivas da natureza, capacidade de trabalho, capital, tecnologia e, por fim, pela capacidade de gestão. O emprego estruturado desses fatores, de sua disponibilidade, de suas capacitações e qualificações, de sua mobilização e de sua orquestração resultam os padrões de atendimento das ilimitáveis necessidades das pessoas e da sociedade. A dinâmica da interação sistêmica desses fatores e os resultados dos seus desdobramentos são o que caracteriza o nível de desenvolvimento de uma nação.
Não há dúvida de que a economia cresce pela conjugação de três elementos fundamentais: a capacidade de produzir, o ambiente de negócios e o investimento. A capacidade de produzir é o primeiro e o principal desses três fatores. A boa execução é fator decisivo para o aumento da produtividade. A favorabilidade das condições do ambiente interno de um País é elemento primordial para a sua competitividade.
Ora, com altos índices de produtividade e competitividade, oriundos da eficácia e eficiência dos processos de todas as atividades, os custos tendem a cair, o que é condição sine qua non para o aumento da demanda. A alta demanda implica em maior volume de vendas internas e externas (exportações), o que vai exigir o aumento da produção e consequente geração de empregos e elevação da renda per capta. Tendo uma maior renda, a sociedade aumenta o seu padrão de bem-estar e reduz as desigualdades, surgindo novas necessidades. Aí entra o papel da inovação, em todos os aspectos, inclusive com o uso de novas tecnologias, entre elas a digital, melhorando a eficácia e eficiência para atender às novas demandas. Para que tudo ocorra de forma planejada e sistemática, deveremos ter a capacidade de gerir esse círculo virtuoso: demanda > produção > empregos > renda > bem-estar > inovação > novas demandas. A repetibilidade desse ciclo é papel da boa gestão, pelas mãos de lideranças transformadoras, atentas às mutações dos cenários e conscientes das suas obrigações, conduta ética e responsabilidades.
Enfim, como a partir da produtividade e da competitividade para podemos garantir o nosso crescimento econômico? Eis a questão!
Sabemos que os indicadores de receitas, produção, emprego, renda e bem-estar social são resultados do trabalho. Com bons resultados, aumentamos a nossa reputação e consequentemente estabelecemos relacionamentos sólidos, internos e externos, principalmente com as cadeias produtivas globais. Resultados – Reputação – Relacionamentos (os 3R) é o tripé da confiança, que é condição imprescindível para atrair investimentos, sem os quais não vamos crescer. Dessa forma, entramos em outro ciclo virtuoso – o do Desenvolvimento Econômico.
Mas, se a Produtividade e a Competitividade são a base de tudo, como chegaremos lá? A equação é bastante simples e lógica.
Produtividade é fazer mais com menos, tem a ver com eficiência e eficácia em gerar mais valor com menos recursos. Ela não é tudo na economia, mas no longo prazo é quase tudo. Pode ser conseguida por meio da educação, conhecimento, experiência, aprendizado, processos, inovação, tecnologia, saúde, condições de vida digna, leis trabalhistas adequadas e justas e boa gestão. Competitividade, na sua essência, é sermos a escolha dos parceiros comerciais por reunirmos condições adequadas de um bom ambiente de negócios: tributação, infraestrutura, segurança pública, política econômica, reformas estruturais, segurança jurídica, ética, burocracia e, também, boa gestão.
A conjugação da Produtividade e da Competitividade depende, entretanto, do alinhamento Público-Privado, que precisa ter, como único propósito, o desenvolvimento econômico do País. O Setor Privado precisa abrir mão do individualismo e se organizar para ter uma voz única e coerente, principalmente em tempos de crise. O Setor Público precisa abrir mão das suas ideologias, esquecer as suas orientações esquerdistas e direitistas e unir esforços com foco no desenvolvimento do País, pelo menos enquanto o País não sair do imbróglio em que o Governo e os Empresários desqualificados o meteram.
Em suma, o diagnóstico e as ações são simples – é questão de querer entender e querer fazer.
Com a criação da Secretaria Especial da Produtividade, Emprego e Competitividade (SEPEC), no Ministério da Economia, o Governo Federal dá sinais de que está disposto a agir. A FNQ, cujo propósito é “Transformar pela Gestão”, tomou a liberdade de formatar o Programa Brasileiro de Gestão para a Competitividade – PBGC e o apresentou ao seu Conselho Curador, composto de Organizações Públicas e Privadas, e também à SEPEC.
Resumindo: as ferramentas estão disponíveis. Agora é uma questão de atitude responsável e coletiva, dos Setores Público e Privado, que precisam assumir a responsabilidade urgente de melhorar o País, deixando a atitude covarde e individualista, com visão de curto prazo, esperando que as coisas simplesmente aconteçam. Sem isso, continuaremos vivenciando a atual mediocridade econômica, com graves impactos para quem realmente trabalha e tem vontade de trabalhar para reconstruir o nosso País.
Que o dia 1º de maio de 2019, em respeito aos brasileiros, que aqui vivem e aqui trabalham, e às nossas crianças que precisam de um futuro melhor, seja o marco institucional de uma nova atitude corajosa e responsável para transformar efetivamente o Brasil no país que queremos e precisamos.
Jairo Martins é presidente executivo da Fundação Nacional da Qualidade FNQ e Membro da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ.