Cristiana Aguiar – Artigo publicado originalmente no Jornal do Brasil – www.jb.com.br
Vamos ao tema: Há alguns anos, chamou-me a atenção um desenho infantil que, ao final, em vez de dizer “e foram felizes para sempre”, a frase era “e ficaram conectados para sempre”. O desenho animado foi lançado em 2011, mas a palavra conexão já estava fazendo parte da vida de todos os cidadãos do mundo. A internet conectou as pessoas nos anos 1990, a evolução tecnológica acelerou e aprimorou as conexões, e a palavra entrou nos romances produzidos pela Disney.
O filme Avatar também aborda a questão da conexão fortemente em seu contexto, não apenas na história central quando o indivíduo se conecta com seu avatar, mas também na terra de Pandora, ao se conectarem com animais voadores e aquáticos. A conexão faz o animal obedecer ao avatar, e os dois, em um mesmo propósito, alcançam seus objetivos.
Saindo do mundo encantado e aterrissando em nossa realidade, ouço muitas pessoas falarem sobre comunicação. Conceitos como comunicação não-violenta e comunicação assertiva têm grande relevância, especialmente no mundo corporativo. Como escreveu o autor do livro “Comunicação nas Empresas”, Ralph G. Nichols, em um texto publicado pela Harvard Business School: “o critério número um para os profissionais avançarem e ganharem uma promoção é a habilidade de se comunicar efetivamente.”
O que não pode ser esquecido é o fato de que comunicar não é o mesmo que se conectar. Conectar-se é a habilidade de trazer uma pessoa para perto de si, prender sua atenção de tal forma que seja possível exercer influência sobre ela. A comunicação é uma aliada, mas não é suficiente.
Para criar conexão, é preciso ter interesse legítimo pela outra pessoa, dar uma pausa em minha ideia para ouvir a ideia do outro, valorizar o momento e demonstrar de forma clara. Agir assim faz toda a diferença, gera confiança, produz engajamento e cria uma sinergia onde a eficiência é maior do que a soma das contribuições.
A grande questão é como fazer conexões genuínas. É fundamental gerar uma identificação autêntica que resulte em relacionamentos saudáveis. Por sua vez, os relacionamentos saudáveis proporcionam a atmosfera necessária para aumentar a produtividade e a efetividade nas empresas.
O maior empecilho para a construção de boas conexões é a falta de discernimento. Em uma ligação telefônica ou via WhatsApp, é fácil identificar uma conexão ruim, falhando, mas e em uma conversa one-on-one? Como saber o momento exato em que a conexão falhou, ou até caiu?
A intencionalidade explícita, assim como no networking efetivo, atrapalha demais nossas conexões. É preciso entender que em uma conversa não devemos buscar o papel de protagonista, e sim almejar ser a ponte entre um conhecimento e uma busca. Empenhar-se em entender a necessidade do outro e se colocar em um papel de ajudador contribui muito para a construção da conexão. O problema é que, por vezes, somos egoístas demais e, no afã de sermos atendidos, esquecemos de buscar compreender antes de ser compreendidos. Essa máxima da comunicação “não-violenta” nos ajuda a conectar.
Buscar agregar valor ao outro é um caminho imprescindível. Líderes que se conectam bem conseguem, via de regra, extrair o máximo das potencialidades de seus liderados, em função da proximidade que estabelecem, oportunizando diálogos mais inclusivos e produtivos.
O perigo de toda tentativa de proximidade da liderança com seus times é quando o líder acredita que tem muito a falar e pouco a ouvir. Nenhuma relação se estabelece quando falamos de nós para nós mesmos.
É preciso buscar palavras que despertem interesse, é essencial produzir no outro expectativas positivas.
Vejo alguns empresários no setor de serviços falarem que trabalham no ramo A, B ou C, quando na verdade todos deveriam entender que trabalham no ramo de pessoas, oferecendo o serviço A, B ou C. Se as pessoas compreenderem que importam, perceberem como podem ser ajudadas e puderem confiar, o negócio está feito. É tudo sobre pessoas!
Certa vez, em um auditório, o palestrante perguntou ao grupo qual o idioma mais importante para eles falarem. Entre inúmeros braços levantados, disputando a resposta entre o inglês e o espanhol, uma pessoa respondeu: a língua do meu cliente! A resposta foi perfeita. Entender que conexão é sobre os outros é uma chave para ter sucesso!
Conectar vai além de se comunicar, assim como se comunicar vai além das palavras. Mais de 90% da impressão que muitas vezes transmitimos não tem a ver com o que dizemos.
Toda comunicação tem três componentes essenciais: o intelectual, o emocional e o volitivo, ou seja, trata-se do que eu penso, do que eu sinto e do que eu faço. Daí a famosa frase do pensador Ralph Waldo Emerson “o que você é fala tão alto que não consigo ouvir o que você está dizendo”.
Levando em consideração situações onde sentimentos e ações são comunicadas, o que dizemos corresponde a 7% do que é acreditado, a forma como falamos corresponde a 38%, e o que os outros veem 55%.
Logo, encerro este artigo não com uma fórmula sobre como saber se conectar, mas sugerindo que, para criar conexões verdadeiras, é preciso levar um pouco de nós para o que estiver sendo transmitido. As empresas e os líderes que entenderem que, para serem representados por seus colaboradores, é preciso fazê-los parte do negócio ou trabalho, sairão na frente.
É muito mais do que apresentar o propósito, a visão e a missão da organização. É um chamado para integrar o projeto de forma constante, profunda e voluntária. Como disse o conferencista John Maxwell em um de seus livros, “nada pode acontecer por seu intermédio até que aconteça com você primeiro”. Esse é o convite! A vida é sobre a arte de discernir o que é essencial!
Autora: Cristiana Aguiar. Economista- Especialista em Gestão de Negócios e Gestão de Pessoas. Conselheira no Conselho Empresarial de Governança, Compliance e Diversidade da ACRJ. CEO da empresa Jeito Certo Consultoria
Fotos e grifos : Pesquisa Gestão e Resultados, Ilustrações; Getulio A. Ferreira
Parabens
Uma mensagem transformadora , que inquieta e nos deixa paralisados ao voltar no tempo e lembrar da maioria de nossas atitudes. Motivos que nos levam a reler o texto e RECOMEÇAR AGORA !!! .
CRISTO foi e é assim , amou por toda vida ao próximo e continuará amando. Arrisco dizer , isso é NETLOVING.
Oi Ary!
Muito obrigada pelas suas gentis palavras. Fico muito feliz quando vejo meu texto atingir o propósito para o qual foi escrito, que é conduzir as pessoas a reflexões que tornem suas vidas melhores.
Um abraço pra você e ótima semana!