Brumadinho: a gestão na lama

Jairo Martins

Sendo o primeiro artigo do ano, pensei em escrever algo mais otimista, já que, com as mudanças no governo, quase todos os brasileiros, com exceção de uma certa

minoria, têm a expectativa e torcem para que as coisas comecem a dar certo.

Infelizmente, tive de mudar de ideia e priorizar o mais importante, pois mais uma vez fomos impactados por uma catástrofe – o rompimento da barragem de Brumadinho -, não bastassem as ocorrências recentes como: o incêndio da Boate Kiss, as mortes no trânsito por imprudência e embriaguez, as mortes em hospitais por falta de assistência, o rompimento da barragem de Mariana, as fissuras nos viadutos de São Paulo, o incêndio do Museu Nacional, entre outras. Apesar da perda de milhares de vidas, as providências caem no esquecimento e tudo volta a acontecer, causando surpresas, pedidos de desculpas e ações improvisadas.

Ora, sabemos que acontecimentos são sempre relações de causas e efeitos e que o sucesso é a combinação harmônica desses dois itens. Fracasso ou crise é a precipitação desestruturada dessas relações.

A má qualidade da gestão é a principal barreira para o sucesso de qualquer empreendimento. Sublata causa tollitur effectus – eliminada a causa, desaparece o efeito. Simples assim!

Quantas mortes ainda precisam acontecer para que o País como um todo se mobilize: governantes, políticos, empresários e sociedade? O que mais precisa acontecer para sairmos deste estado de letargia, acomodação, apatia e incúria? Quando vamos todos nós, brasileiros, definitivamente, nos posicionarmos, cobrarmos, pressionarmos e nos indignarmos para fazer as coisas acontecerem? Quando vamos levar, finalmente, o nosso País a sério?

Os efeitos são conhecidos e estão aí para que todos vejam, sintam, sofram, lamentem-se e chorem. As causas são por demais sabidas também: desvios de verbas públicas, incompetência, despreparo, pessoas erradas nos lugares errados, descaso, falta de vergonha na cara, omissão e falta de compromisso com o Brasil e com os brasileiros.

Os governantes e os políticos têm a maior parte da culpa, pois, apesar de tantos alertas, ainda continuam a agir do mesmo jeito: ocupando cargos técnicos com políticos incompetentes, distribuindo diretorias entre partidos, entregando ministérios e secretarias a pessoas despreparadas, apaniguando criminosos e bandidos. Depois de tantas tragédias, será que ainda não ficou claro que uma carreira política não qualifica um bom gestor?

Os empresários têm também, sem dúvida, boa parte da culpa, pois com a visão a curto prazo, sem o olhar para o futuro, perderam a capacidade de se organizar em favor do bem comum. Ao invés disso, procuraram, em uma atitude individualista, focados apenas no market share, explorar os recursos naturais do País de forma desmedida e pagar, por meios escusos, a publicação de medidas provisórias para a liberação de conveniências e subsídios paralisantes. Onde está o comprometimento do empresariado com o futuro do Brasil?

Por fim, embora em menor dose, a sociedade também tem a sua culpa, por deixar-se engabelar por políticos inidôneos, trocando votos por camisetas, selfies, abraços falsos e promessas vazias e elegendo representantes inescrupulosos, cujo único objetivo é roubar em benefício próprio e das suas gangues.

Jairo Martins é presidente executivo da Fundação Nacional da Qualidade – FNQ e membro da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ.

Visite: https://blog.fnq.org.br/ e www.abqualidade.org.br

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