Boas ideias e bons projetos são necessários. Estamos vivendo uma crise mundial e também brasileira, logicamente, sem precedentes. O momento nos remete ao passado e nos obriga a uma análise de não termos aprendido a lição com os sofrimentos experimentados.
O ponto fundamental é a gestão e como ela se desenvolve dentro de um espírito de obtenção de bons resultados para a empresa, organização e do próprio país.
Onde erramos e o que podemos fazer para minimizar as falhas do presente momento? Como estamos liderando os pontos críticos (Objetivo/Assunto ou item de Controle) de tal forma que possamos chegar ao sucesso?
No drama do pós guerra (1950), Deming (1900-1993) sugeriu que seguíssemos a cartilha dos seus 14 pontos para o enfrentamento das crises, valendo tanto para empresas como também para o próprio país. Nesta publicação Deming recomendava o tempo todo a liderança das mudanças necessárias através do CEO e determinava que o desdobramento dos objetivos e metas fosse praticado de tal forma que todos os funcionários participassem deste projeto de sobrevivência e enfrentamento das dificuldades. Em tempo, o Japão seguiu à risca as suas recomendações mesclando tradições, rotinas e disciplina com melhorias contínuas e inovações. Passou de país arrasado na 2a. grande guerra ao topo dos países mais competitivos do mundo.
Outro mestre da gestão, o saudoso Joseph M. Juran, contribuiu de forma decisiva para o entendimento da liderança baseada em métodos e projetos para o alcance de melhores resultados de produtividade, ou seja, FAZER MAIS E MELHOR COM MENOR CUSTO.
Voltando ao ponto central – estamos vivendo a crise profunda causada pelo COVID19 e das nossas próprias incompetências. O que será das nossas empresas e governos no final desta tragédia? Como as empresas vão reagir? Se não podemos mudar o passado, podemos mudar o presente para chegar a um novo futuro? Perguntas que nos desafiam o tempo todo.
O guru da Gestão pela Qualidade citado anteriormente, Juran (1904-2008), mostra uma “receita” praticamente infalível em sua trilogia – Vejam:
Entenda que estamos recomeçando uma nova era, praticamente do zero para muitas empresas e organizações. Será que os desafios do passado e as experiências vividas serviram para um novo aprendizado? Tomando a empresa como modelo a trilogia parece ser efetiva e válida para o momento atual – PLANEJAMENTO, CONTROLE e MELHORIAS (Kaizen/inovações). Vamos recomeçar fazendo acontecer a prática da boa gestão e com certeza seremos mais fortes e vigorosos para o enfrentamento das dificuldades remanescentes.
Numa visão estratégica não podemos deixar de refletir sobre o nosso SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) – As ameaças se concretizaram e agora precisamos usar nossas Forças (capacidade de gestão, vivência e experiências reais, novos conhecimentos tecnológicos, entre outros) para aproveitarmos as Oportunidades (sim, elas existem!) proporcionadas pelas transformações digitais, velocidade das comunicações, e principalmente pelo surgimento de necessidades mercadológicas em todo o mundo e não apenas na nossa rua, cidade, estado ou país.
Novos métodos e tecnologias estão surgindo a cada momento em todo o mundo, porém os conceitos são longevos e continuam válidos. A tecnologia da moderna medicina no tratamento da COVID19 não impediu que em várias situações fossem constatadas falhas e não conformidades graves em praticamente todos os itens de controle que devem ser gerenciados para atingir o sucesso, ou seja, a plena recuperação do paciente. Veja o caso da compra equivocada (incompetência ou mau-caratismo?) dos famosos respiradores. Evolução tecnológica sem evidências reais das características requeridas da Qualidade pode ser um completo desastre. Cuidado, em nome da inovação podemos cometer grandes erros.
Outro ponto de extrema importância é o CONTROLE. Item não muito apreciado no ocidente quando da prática dos conceitos do TQC – Total Quality Control. Esse desconforto levou a mudança para TQM – Total Quality Management, prático não? Os japoneses talvez pela sua cultura de forte disciplina sempre viram o Controle como oportunidade de domínio de processos e a principal forma de eliminação de possíveis atitudes reativas foi a prática da delegação e incentivo à participação nos procedimentos operacionais, melhorias continuas e inovação. A ideia e ver a Delegação desmontando egos e possibilitando o sentido psicológico da propriedade.
Nossa experiência na situação atual (COVID19) vem mostrando problemas muito sérios na gestão da crise que ora enfrentamos. Numa visão Causa e Efeito (Ishikawa) podemos afirmar que temos falhas de controle e gestão em todos os M’s, praticamente: Matéria prima, Mão de obra, Método, Máquinas e Equipamentos, Mensagem(Comunicação), Management (Gerenciamento). Parece-me que o “Manda quem pode e obedece quem tem juízo” tem sido a tônica dos procedimentos além das falhas gravíssimas na gestão da coisa pública e interesses políticos (isto já é uma outra demorada e profunda discussão).
O CICLO DE CONTROLE DE JURAN traz de forma muito clara e objetiva que é possível uma gestão técnica e clara com alta competência – Não podemos errar novamente – tanto empresas que estão em situação crítica como também governos. Para o CCJ funcionar o primeiro ponto é saber onde queremos chegar e assim definirmos o item de controle (Veja na figura abaixo). Em seguida percorrer o caminho da Gestão Eficaz respeitando e respondendo cada um dos 5 quadros seguintes.
Enfim, o aprendizado dos tempos difíceis nos leva a raciocinar em termos de Fazer Certo (eficiência) o que realmente precisa ser feito (Eficácia) em tempo real (Inovação) o tempo todo (Kaizen). O que você acha?
Finalizando uma reflexão importante de Dale Carnagie autor de um dos maiores best sellers mundiais, publicado em 1937 e que resiste ao tempo e as modernidades tecnológicas, o famoso “Como fazer Amigos e Influenciar Pessoas”.
Referências Bibliográficas:
- Out of The Crisis – W. Edwards Deming – USA.
- O Método Deming de Administração – Mary Walton. Marques Saraiva, 1989.
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Juran’s Quality Handbook: The Complete Guide to Performance Excellence – USA
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O Caminho de Deming para a Melhoria Contínua – William W. Scherkenbach , Qualitymark Editora, 1993.
- Apostila do Curso de Pós Graduação Engenharia da Qualidade – Getulio A. Ferreira – CEBICT/ABQ, 2019.