Thiago Abreu: A construção civil sempre foi pedra angular no panorama econômico do país. Mesmo no pós-Covid-19, o setor demonstrou segurança na manutenção dos preços das unidades disponíveis à venda. Qual a sua avaliação para os próximos meses e o que espera em termos de lançamentos?
Paulo Baraona, presidente do Sinduscon-ES: Temos que lembrar, primeiramente, que viemos de uma crise nos últimos cinco anos. Nesse período, as empresas já fizeram um dever de casa que foi se reestruturar em termos de se adequar ao tamanho do mercado, que sofreu redução, e ajustar os seus custos para esse período difícil. No início de janeiro, todo o setor produtivo, não só a construção civil, estava pensando em uma recuperação econômica. Com a pandemia, as empresas tiveram que voltar a repensar seus cronogramas. Ninguém tem certeza do que vai acontecer, mas as empresas já vinham com um dever de casa iniciado lá atrás por conta da crise econômica. Com a grande queda dos juros e o atrativo que o imóvel voltou a ter como investimento, a construção civil conseguiu, por conta disso, um olhar diferente, especialmente dos investidores. Então, devagar, a construção civil volta a ter um importante papel na recuperação da economia. É um setor que permeia quase todos os setores produtivos. A gente espera que, neste final de ano, as empresas continuem com os projetos que já estavam em curso e comecem a tirar da gaveta, para o ano que vem, os novos projetos que estavam previstos para o início deste ano.
Diferentemente das outras crises, na pandemia da Covid-19, percebemos o fenômeno da interação tecnológica na mudança do comportamento das pessoas, de uma maneira profunda. As interações pessoais e as transações financeiras já estão sendo impactadas pela tecnologia. Como você vê o empresariado capixaba, da construção civil, enxergando os benefícios e desafios da tecnologia na transição comercial, na busca da informação por imóveis e na tomada de decisão, dos clientes e corretores, para a escolha dos parceiros para a venda das unidades imobiliárias?
Na verdade, o mundo já vem sofrendo nos últimos anos e é bastante falado nos meios empresariais, da grande revolução tecnológica em termos de sociedade, especialmente nos últimos dois ou três anos. Temos alguns exemplos, já muito falados, como “a maior frota de carros do mundo não é dona de um único carro”, que é a Uber; “a maior rede hoteleira do mundo não tem um quarto de hotel”, que são os aplicativos de hotéis, então, toda essa mudança já vem acontecendo. Já vínhamos com algumas tendências diferenciadas em São Paulo e outras capitais maiores, com mudanças do conceito de habitação, e ainda mudanças na forma de venda. Obviamente que a pandemia acelerou muito rapidamente isso. Vejo que o empresário, de certa forma, está entendendo que esse novo jeito de vida que a pandemia trouxe está impactando as novas tendências, pois essa tendência também mudou por conta do home office e pelo fato de as pessoas ficarem mais em casa. A forma de venda mudou por conta de as pessoas não terem mais contato umas com as outras. É um processo que está em desenvolvimento e não podemos dizer que já existe uma formatação fechada, pois o processo está em curso. O processo de vendas sofreu uma grande mudança, pois está sendo feito por meio das mídias digitais, de forma virtual. A própria visitação do imóvel está sendo realizada de forma virtual. Muita coisa está mudando, mas acho que existe um timing para se ajustar e, assim, a nova normalidade começar daqui pra frente, com esses conceitos que já estão sendo implementados.
O panorama pós-Covid-19 propôs uma reflexão na tomada de decisão por parte dos clientes em relação à compra imobiliária. Isso tem estimulado, no empresariado, nas grandes praças do país, a reconfigurar seus modelos de negócio. Como o empresário capixaba da construção civil enxerga essa possibilidade?
O empresariado capixaba está muito atento e bem informado sobre as alterações de comportamento da sociedade. O conceito hoje é de que haja o mínimo de deslocamento possível e grande parte dos escritórios estão colocando as pessoas em home office. Assim, essas mudanças mudam os conceitos do condomínio e de apartamento. Essas mudanças estão ocorrendo no mundo inteiro e no Brasil não é diferente. Temos que lembrar que a sociedade capixaba precisa se adequar a isso, pois de nada adianta o empresário acelerar muito se a sociedade ainda está apegada às velhas tradições. É uma questão de mercado que tem que ser acompanhada de perto tanto pelo investidor e o comprador quanto pela implementação de novas tecnologias. São questões que têm que andar juntas para evitar que o empresário não obtenha o sucesso esperado.
Percebe-se, no Brasil e no Espírito Santo, uma retomada vigorosa por parte da população na direção de uma normalidade para a procura de imóveis, seja na Grande Vitória, seja no Estado de uma maneira geral. Como está, na mente do empresariado da construção civil capixaba, o planejamento para os lançamentos imobiliários? O que podemos esperar em termos de lançamentos imobiliários ainda em 2020?
Em 2012/2013, chegamos a ter em torno de 35 mil unidades em construção. Nos últimos quatro anos, essas 35 mil unidades caíram para 11 mil unidades em construção. Houve uma queda de 1/3 daquilo que foi construído no auge da construção civil. Evidentemente, existe um grande espaço de recuperação e uma demanda reprimida pois, nos últimos três anos, a crise foi muito grande e ainda tivemos a pandemia que implicou em três meses de férias coletivas e de cronogramas sendo reprogramados, aumentando o prazo dos empreendimentos. Os empresários estão com bastante estoque de projetos para lançamentos, mas isso é uma estratégia de cada empresa e o empresário, de um modo geral, está cauteloso porque atualmente as empresas estão bastante ajustadas por conta dos últimos anos de crise e, claro, ninguém quer extrapolar o tamanho do mercado. Esse tamanho de mercado está sendo revisto, pois nunca tivemos juros de financiamento tão baixos e nem os investidores tiveram aplicações com rendimentos tão baixos. Assim, está se criando um ambiente muito bom para a construção civil, mas temos que ter cautela.
Uma das heranças deixadas pela Covid-19 é a busca, por parte das pessoas, por regiões não tão próximas às aglomerações urbanas. O êxodo rural já parece ser uma realidade. Isso pode ser uma oportunidade para novos negócios em regiões não tão próximas aos centros urbanos?
Sim, essa é uma das grandes mudanças que está acontecendo em grande escala. A interiorização do setor imobiliário é grande, ainda mais em um estado como o nosso, que é um estado muito pequeno e as regiões são muito próximas dos grandes centros. No caso da Grande Vitória, por exemplo, temos a cidade de Domingos Martins a menos de duas horas de distância, se formos falar do distrito de Pedra Azul. É muito perto. Temos a região de Viana, que também é muito perto. A interiorização do setor imobiliário é uma forte tendência e, com certeza, novos nichos de mercado vão surgir.
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