Metodologia BIM: a tecnologia que desponta na construção civil
Metologia BIM vem se tornando exigência em licitações. E você sabe por quê? Modelos 3D produzidos a partir de dados viabilizam projetos mais eficientes.
Alguns profissionais da construção civil ainda acreditam que as inovações criadas a partir de inteligência artificial serão concorrentes das habilidades humanas. No entanto, algumas empresas brasileiras já encontram no BIM – Building Information Modeling a ferramenta ideal. Aquela que faltava para garantir um elevado nível de previsibilidade dos resultados de um empreendimento.
Metodologia BIM
Do planejamento à conclusão da obra, a Modelagem da Informação da Construção auxilia os profissionais envolvidos em todas as etapas.
Isso inclui arquitetos, engenheiros, encarregados, e outros, a tomarem decisões mais assertivas, baseadas em dados compartilhados na nuvem. Com isso, é possível trazer melhorias contínuas aos processos, inclusive diminuindo o tempo de entrega e o desperdício de recursos.
Ainda assim, segundo um levantamento global da IDC, apenas 13% das empresas atingiram o nível desejado de maturidade digital, com 58% delas ainda passando pelos primeiros estágios de transformação.
No panorama da construção civil do país, os efeitos das transformações alcançam as oportunidades de trabalho. A Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC) estima que 90% das construtoras passam por dificuldades na hora de encontrar candidatos qualificados às novas tecnologias.
Mais do que um software ou uma tecnologia isolada, o Building Information Modeling é um tipo de abordagem que permite a criação, a visualização e o gerenciamento integrado de todas as informações relacionadas a um projeto de construção, desde a fase conceitual até a entrega final.
A engenheira civil Luciana Andrade é consultora do Sinapi – Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil – que rege as obras com recursos da União. Em julho do ano apssado, ela já destacou que o BIM não é só um modelo em 3D, que facilita a visualização do projeto. “A proposta da metodologia é termos um projeto que vai falar com quem vai orçar e executar as especificações. Ele vai trazer as informações essenciais para o orçamentista”, explicou durante Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic).
Prevenção de perdas e agilização de entregas
O trabalho colaborativo, amparado no compartilhamento de informações em tempo real, é a premissa do BIM. A padronização da base de dados e a hospedagem em nuvem garantem que nenhuma informação seja perdida no decorrer do projeto. É útil tanto para a gestão de obra, eliminando gargalos e superprodução, quanto para viabilizar construções mais eficientes do ponto de vista da sustentabilidade.
Nos modelos virtuais criados a partir de Modelagem da Informação da Construção é mais fácil detectar e solucionar problemas ainda na fase pré-construção. E isso resulta em uma redução significativa de problemas estruturais. Por meio dessa metodologia, é possível criar um modelo digital detalhado do projeto. Ou seja, que abrange não apenas o aspecto visual do edifício, mas também informações essenciais sobre cada elemento e sistema presente na construção.
O BIM já é uma solução adotada inclusive para impulsionar as vendas de imóveis a partir da visualização prévia e fiel ao resultado futuro, algo comum nos stands de imobiliárias. O futuro morador tem a possibilidade de explorar todo o projeto virtualmente, tendo uma experiência bastante realista.
BIM nas licitações públicas
No Brasil, o BIM tem sido a alternativa escolhida para garantir que obras públicas sejam realizadas dentro do menor cronograma possível, sem desperdício de recursos. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), 38,5% das construções feitas a partir da gestão pública estão paralisadas. Desde 2018, esse percentual subiu 1%, contrariando a tendência de modernização do setor.
A Lei n° 14.133/2021, conhecida como Nova Lei de Licitações e Contratos, reconhece a importância do BIM. Entende como uma metodologia que integra informações e processos relacionados à construção e estimula o uso dessa e de outras tecnologias aplicadas à construção civil.
Da mesma forma, a legislação estabelece que o contrato administrativo pode prever a utilização de modelos digitais de representação e gestão da obra. E ainda que o edital de licitação poderá prever a exigência de utilização de tecnologias como o BIM ao desenvolvimento do projeto básico ou executivo.
Produção de orçamento
A produção de orçamentos de obra de maneira mais acelerada não chega a ser um desafio para o comércio de material de construção. Ao contrário: permite que as lojas trabalhem a fidelização das construtoras ao atenderem às demandas dos profissionais da obra, diminuindo as chances de devoluções ou troca de mercadorias, por exemplo.
De acordo com Matheus Lopes, do atacarejo Obramax, aplicar BIM nos processos internos ainda não se mostrou uma necessidade, já que alteraria toda a cadeia de suprimentos. O mais importante é garantir que o cliente encontre tudo o que ele precisa para que o projeto saia idêntico ao que foi planejado – uma das premissas da metodologia.
O atendimento consultivo continua sendo o caminho para se adaptar a esse modo de trabalho na construção civil: “Atender profissionais que trabalham com o BIM requer um amplo sortimento, atendimento rápido e simples, e disponibilidade”, destaca.
Pioneiro em BIM
Cachoeiro foi o primeiro município a se posicionar quanto à implementação do BIM no Brasil. A Estratégia Municipal de disseminação dessa modelagem foi instituída em 2019. Assim, deu origem ao Comitê Gestor da Estratégia Municipal de Disseminação do BIM.
Nesse contexto, o objetivo do comitê é cuidar da implementação da metodologia e das licitações para adquirir os equipamentos necessários. No ano seguinte, a prefeitura de Vitória comprou um pacote de soluções integradas ao BIM e iniciou um treinamento com os servidores.
Capacitação profissional
A implementação bem-sucedida do BIM requer profissionais qualificados e treinados, capazes de compreender os conceitos, metodologias e ferramentas associadas ao sistema. Por isso, a capacitação profissional ainda é desafio para o uso dessa tecnologia construção civil.
Também durante o Enic, o orçamentista e fundador da BrainBuilder, Vilberty Vasconcelos, destacou algumas dificuldades do setor público e privado quanto à implantação do BIM. Entre elas, barreira cultural e número reduzido de profissionais que dominam a metodologia com a orçamentação. “O obstáculo existe, mas o desafio vale a pena. É ganho de tempo, de produtividade e confiabilidade”, ressaltou Vasconcelos, ao destacar as vantagens da ferramenta na orçamentação.
Como soluções para as empresas, o especialista sugeriu revisão dos processos. Bem como realizar os devidos investimentos e treinamentos dos profissionais e engajar toda a sociedade. Além das ferramentas de software.
Novas versões e atualizações da tecnologia exigem novas habilidades dos profissionais. Portanto, precisam se manter atualizados para acompanhar as mudanças. Além disso, a implementação do BIM exige uma mudança de mentalidade e de processos de trabalho, o que requer esforço e dedicação por parte dos profissionais.
Outro desafio é a disponibilidade de programas de capacitação e treinamento. Embora existam instituições e cursos que oferecem treinamento em BIM, muitas vezes não são facilmente acessíveis para todos os profissionais do setor. Isso pode limitar a capacidade dos profissionais em adquirir as habilidades necessárias para usar o BIM em sua prática diária.