Mulheres se destacam no comando de construtoras capixabas

Alex Pandini

Crédito: Istock.

 

Cada vez mais presentes em uma área tradicionalmente dominada por homens, as mulheres estão conquistando seu espaço na construção civil capixaba e deixando um legado significativo, assumindo posições de liderança em grandes empresas. De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre 2018 e 2021, houve um aumento de 23% na presença feminina na construção civil em todo o Brasil.

 

O Espírito Santo acompanhou esse crescimento, com um expressivo aumento na participação de mulheres nos canteiros de obras. Em 2018, havia 3.809 funcionárias com carteira assinada no setor. Em 2021, esse número subiu para 4.681, representando um aumento de cerca de 22%.

 

Exemplos de liderança feminina bem-sucedida, tanto na gestão quanto nos canteiros de obras, são muitos. Na MZI Incorporadora, duas engenheiras compartilham o comando da empresa: Rachel Menezes Gava e Rúbia Menezes Werneck. Elas demonstram que o talento feminino transcende as ciências exatas. Em parceria com o irmão, Renato, elas lideram com profissionalismo uma empresa que já entregou mais de mil unidades residenciais e comerciais na Grande Vitória.

 

“Embora não sejamos a maioria, o setor de construção está sendo cada vez mais ocupado por mulheres, inclusive em cargos de gestão. Isso demonstra uma evolução do mercado capixaba, que valoriza profissionais eficientes e comprometidos, independentemente de gênero. O padrão de gênero na engenharia está sendo gradualmente desconstruído. As mulheres estão mais informadas e preparadas para ocupar seu lugar e contribuir para o setor de construção civil capixaba”, afirma Rachel Menezes Gava.

 

Rachel e Rubia Menezes. Foto divulgação.

 

“São evidentes a relevância e a necessidade da presença feminina em diversos setores da sociedade. No Espírito Santo, temos um número significativo de mulheres ocupando cargos importantes nas empresas, e estou certa de que há muitas outras dispostas a enfrentar os desafios comuns do mercado de trabalho e a ocupar mais espaço na construção civil. Na MZI, nossa jornada visa promover mais equidade e justiça no setor”, complementa Rúbia Menezes Werneck.

 

Outra líder no comando de uma empresa é Rubia Zanelato, fundadora e diretora da Kemp Engenheira, com 26 anos de atuação no mercado imobiliário capixaba. Engenheira civil de formação, Rubia fundou a empresa logo após sua fase de estagiária e, desde então, a Kemp tem prosperado no segmento, contando atualmente com 27 empreendimentos entre unidades prontas, em construção e lançamentos.

 

Rubia Zanelato. Foto divulgação.

 

Para Rubia, embora ainda haja predominância masculina em áreas como a linha de frente das construtoras, as mulheres estão conquistando uma presença significativa em áreas como projetos. Ela enfatiza que, para as mulheres que desejam ingressar na área, a determinação é fundamental. “O caminho não será fácil, pois a responsabilidade pela sua formação é exclusivamente sua. Portanto, é crucial ser perseverante, determinado, resiliente e ter clareza sobre seus objetivos. Não podemos nos desviar do caminho diante da primeira dificuldade nem desistir ao enfrentar os primeiros obstáculos. São as dificuldades que nos moldam. Além disso, é fundamental focar em pessoas que você admira e utilizá-las como referência em todas as áreas”, destaca Rubia.

 

Com mais de três décadas de experiência, Claudia Mara Rocha e Rocha, diretora administrativa/financeira do Grupo Proeng, lidera uma equipe de 100 colaboradores. Ela reconhece que, embora as mulheres ainda enfrentem preconceitos de gênero, principalmente em cargos de gestão, a situação está mudando gradualmente.

 

“Acho que falta muito pouco para as mulheres provarem o quanto são tão competentes quanto os homens, falo em provarem para o mundo, porque sei que são. Trabalho com 80% do quadro do escritório com mulheres, inclusive nas funções de gerentes”, destaca Claudia.

 

Claudia Mara Rocha e Rocha. Foto divulgação.

 

No ambiente de trabalho, ela avalia o tratamento dos colegas como respeitoso e acredita que as mulheres são reconhecidas por suas habilidades. Claudia enfatiza que, para assumir cargos de liderança, é fundamental amar o que se faz e ter força para enfrentar os desafios.

 

“No caso das mulheres, serem muito fortes para alcançar seus objetivos, já que ainda hoje continuamos em várias jornadas fora da empresa. Conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo, as empresas precisam disso, olha que maravilha, os homens não conseguem, eles só nos superam na forca física, que é a menos importante na gestão”, avalia.

 

Na mesma linha, Ana Carolina Morales, engenheira civil e diretora de obras e projetos da Sólida Empreendimentos, começou na empresa em 2013, trazendo uma visão inovadora para o mercado da construção civil, com foco especial na sustentabilidade, eficiência e no design inovador dos empreendimentos. Ela destaca a importância de promover uma cultura de igualdade no ambiente de trabalho.

 

Ana Carolina Morales. Foto divulgação.

 

“Ainda precisamos superar a desigualdade de gênero, especialmente em cargos de liderança, e combater o preconceito inconsciente. É fundamental promover uma cultura de igualdade, onde homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades de crescimento e reconhecimento”, ressalta Ana Carolina.

 

Ela acrescenta que as mulheres líderes do século XXI são resilientes, adaptáveis e visionárias, promovendo a colaboração, a diversidade e a inclusão. Sua liderança é marcada pela empatia e pela capacidade de inspirar e motivar suas equipes, buscando não apenas o sucesso empresarial, mas também um impacto positivo no mundo.

 

Engenheiras no comando dos canteiros de obras

 

As mulheres estão assumindo a responsabilidade de coordenar obras com mais de 100 colaboradores, em sua maioria homens, numa realidade que tem se consolidado cada vez mais nas empresas de construção civil. Rithielly Pereira Polezes, engenheira civil de 29 anos, da Construtora Épura, atua na empresa há três anos e é responsável pela obra do empreendimento Liberty.

 

Rithielly Pereira Polezes. Foto divulgação.

 

Ela destaca que, para estarem em posição de liderança, as mulheres precisam ser resilientes, empáticas e capazes de tomar decisões. “Como líder, tem sido gratificante e desafiador ao mesmo tempo. Os obstáculos me motivam a trabalhar ainda mais e a provar meu valor através de resultados. É importante ter um ambiente de trabalho inclusivo, onde todos se sintam valorizados e capacitados a contribuir com suas habilidades. Espero que minha experiência inspire outras mulheres a alcançar posições de liderança e se desafiarem, contribuindo assim para uma realidade mais igualitária e inclusiva”, afirma Rithielly.

 

Aos 51 anos, a experiente engenheira civil Marcela de Melo dos Santos Barbosa, atua como gestora de obras na Construtora Épura há 16 anos. Desde 1997 na empresa, Marcela conquistou o seu espaço de liderança e hoje coordena cerca de 65 pessoas no canteiro de obras. Recentemente, ela geriu duas obras simultaneamente. Na semana passada entregou o empreendimento Bella Vita, e segue com a obra de outro projeto, o Verano.

 

Em relação aos desafios enfrentados, Marcela reforça que é importante destacar que, historicamente, essa área foi associada à força bruta e predominantemente masculina. “A presença feminina nesse contexto pode enfrentar desafios como o preconceito de gênero, a falta de representatividade e a necessidade de provar constantemente sua competência e habilidades”, analisa.

 

“A Épura não enfrenta problemas relacionados à resistência de aceitação da autoridade técnica e da posição de hierarquia da mulher, e existem mulheres em posição de liderança. Isso mostra um ambiente inclusivo e diversificado”, acrescenta Marcela.

 

Na sua avaliação, há questões específicas que precisam ser superadas no ambiente de trabalho sob a gestão das mulheres. “A dupla jornada é uma realidade para muitas mulheres, que muitas vezes precisam conciliar as responsabilidades do trabalho com as tarefas domésticas e o cuidado com a família. Isso pode resultar em sobrecarga e dificuldade em manter um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal”, analisa.

 

Marcela de Melo dos Santos Barbosa. Foto divulgação.

 

Marcela vê com otimismo a relação de trabalho entre homens e mulheres. “Acredito que nossa dedicação e esforço têm conquistado espaços importantes, refletindo uma tendência crescente. Estamos mais conscientes do nosso valor e competência profissional, o que nos coloca em posição de igualdade. O equilíbrio de gênero é inevitável e a diferença atual entre os tratamentos terá que ser extinta à medida que avançamos para um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo”.

 

Para a engenheira civil, as mulheres líderes do século XXI possuem habilidades inatas de liderança, como inspiração, resolução criativa de problemas e motivação. Elas demonstram resiliência diante de desafios únicos, sendo pacientes e determinadas. “Sua empatia cria ambientes colaborativos. São responsáveis e gerenciam múltiplos papéis eficientemente. Possuem visão ampla, antecipando tendências e identificando oportunidades. Essas qualidades as tornam líderes poderosas no cenário atual”, pontua Marcela.

 

Responsável por coordenar obras em outro estado, na cidade de Anápolis, em Goiás, a engenheira de produção Luana Anastácio Procópio, de 37 anos, está há 10 anos na Construtora Proeng no cargo de liderança.

 

Luana Anastácio Procópio. Foto divulgação.

 

Ela acredita que existem pontos a serem superados no ambiente de trabalho sob a gestão das mulheres. “Muitas pessoas quando chegam e se deparam com o líder feminino, ficam com o pé atrás, olham de lado, mas é nessa hora que nós mulheres precisamos nos manter firmes e mostrar que o resultado é o mesmo, independentemente de o líder ser homem ou mulher, e dessa forma ocupar cada vez mais o nosso espaço por mérito”.

 

A coordenadora de obras reconhece nas mulheres a capacidade de ocupar qualquer cargo de liderança. “A mulher do século XXI ocupa qualquer cargo de liderança perfeitamente, hoje temos nossa formação profissional, nossa independência, não temos que nos privar do que temos vontade pelo fato de sermos mulheres. Eu costumo falar para os homens que convivo que a única coisa que nós mulheres não conseguimos competir com eles de igual para igual é na força”, analisa Luana.

 

Estas engenheiras estão mudando paradigmas e liderando equipes com excelência e determinação, mostrando que o espaço feminino na construção civil é não apenas merecido, mas fundamental para um setor mais inclusivo e diversificado. Com suas habilidades, elas estão impulsionando o progresso e inspirando outras mulheres a seguirem seus passos.

 

(com produção de pauta da agência Mil&4)

Foto de Alex Pandini

Alex Pandini

Alex Pandini é jornalista, tem 53 anos e mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.