Orçamento: quando a novela terá fim?
Antes da tomada de decisão em investimentos, gestores de fundos institucionais e pessoas físicas consideram diversas informações, como o balanço das empresas, potencial de crescimento, teses de investimento, benchmarks internacionais, etc. Porém, como ficou evidenciado em episódios como no “11 de Setembro do Setor Elétrico”, ocorrido no governo Dilma, e nas interferências governamentais na Petrobras pelo governo Bolsonaro, além das medidas adotadas na Sanepar pelo governo do Paraná, na matriz de riscos e de oportunidades de investimento em mercados emergentes como o brasileiro há um elemento com um peso maior: o risco político.
Casos de interferência política que implicaram em resultados negativos são mais comuns no Brasil do que em outros mercados de capitais globais. É o que analisa Vinicius Torres, Portfólio Solutions da APX Investimentos e que assina a coluna Mercado Diário na Folha Vitória.
“Quando olhamos mercados maduros, como americano, há um número maior de empresas para investir, bem como de investidores. Então vemos uma descorrelação maior entre política e o desempenho na bolsa”, afirma.
Mas ele explica que há um racional do porquê isso ocorre no Brasil. “Há muitas estatais no Brasil, várias delas muito grandes e negociadas em bolsa. Muitas vezes o governante usa seu poder de influência dentro dessas empresas e acabam as utilizando como artifícios para beneficiar classe, partido e eleitorado”, explica.
Essa situação é causada por um baixo nível de governança das estatais brasileiras, sendo muito mal vista por investidores institucionais globais. Vale ressaltar que, apesar do aumento no número de investidores pessoa física na bolsa brasileira verificado desde 2016, a maior parte do capital no Ibovespa ainda é estrangeiro.
“As petroleiras americanas, por exemplo, foram as empresas que apresentaram os melhores resultados do mercado americano. Todos os fundamentos apontavam para uma valorização global deste segmento, e isso deveria acontecer com a Petrobras: não à toa, a maioria dos investidores institucionais a tinham em carteira. Quando o presidente decidiu mudar o comando da estatal, em apenas dois pregões perdeu-se R$ 100 bilhões em valor de mercado”, conta.
É o caso verificado entre fevereiro e março deste ano: Assim, a despeito dos recordes de fluxo de investimentos estrangeiros em países emergentes, por riscos fiscais e políticos (evidenciados, em especial, a partir do caso Petrobras), o Brasil ficou fora da festa.
Outro fundamento para a política trazer tamanha volatilidade ao mercado brasileiro se dá pelo fato de haver quase R$ 300 bilhões anualmente distribuídos em subsídios. Em caso de retirada ou suspensão deles, os setores afetados naturalmente passam a precificar o aumento de despesa tributária.
Há ainda a possibilidade de “regulamentações relâmpago” por parte de agências reguladoras e outras autarquias, além de decisões judiciais que alterem jurisprudências sobre questões tributárias, gerando insegurança jurídica.
Há cenários em que a política pode ajudar, como em melhorias regulatórias.
Vale ressaltar, por fim, que também há muita fumaça no Brasil, muitas especulações e controvérsias que, ao fim, “geram muita fumaça e pouco fogo”.
Essas questões acabam por gerar incertezas de curto prazo e atrair volatilidade para a bolsa. Porém, em longo prazo, são apenas “soluços da bolsa”, que não refletem majoritariamente a expectativa e a lucratividade das empresas porque não são capazes de alterar o cenário base.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória