Lei do licenciamento ambiental pode travar no Senado?
No Brasil, o mercado de crédito corresponde a aproximadamente R$ 3,7 trilhões, de acordo com o relatório realizado pela Snaq, o equivalente a 51,9% do PIB do país. Se considerarmos apenas pessoas físicas, essa porcentagem se reduz para 29,1% do PIB, valor muito inferior ao mercado norte-americano, por exemplo, que chega a 75,2%.
Com isso, apesar da ampla ascensão desse segmento e com a taxa Selic em patamares historicamente baixos, o famoso spread bancário brasileiro ainda é um dos maiores do mundo, chegando a patamares de 32% ao ano. Para efeito de comparação, em países como Argentina, México e Rússia, esses números atingem, respectivamente, 20%, 4,9% e 3,3%. Esses fatores refletem um fato notável e problemático na economia brasileira: a concentração bancária.
Em entrevista à coluna, o economista e presidente do Insper Marcos Lisboa afirma que este é justamente um dos empecilhos ao desenvolvimento econômico do país.
Apesar da redução da influência dos grandes bancos na economia ao longo dos últimos anos, a concentração nos cinco maiores bancos ainda é alta no Brasil. Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander ainda centralizam cerca de 84% do crédito e 81% dos ativos no mercado nacional, segundo dados de 2019 do mesmo estudo.
“O segmento bancário é concentrado em todo o mundo por questões regulatórias. São exigidas diversas questões relacionadas à liquidez para evitar corrida aos bancos e fuga de capitais, por exemplo. Porém, no Brasil a concentração de crédito é maior do que no restante do mundo”, afirma Lisboa.
Na Inglaterra e nos Estados Unidos, por exemplo, esses valores são de 67% e 46%, respectivamente, na concentração de ativos. México (69%), Rússia (68%) e Argentina (58%) representam alguns dos resultados para outras economias emergentes.
Mas esse é apenas um dos fatores que influenciam no alto spread bancário no país. Outro ponto que deve ser levado em conta é a inadimplência, que no Brasil também é alta, se comparado a outros lugares do mundo.
Nessa lógica, o spread brasileiro é composto pelos seguintes fatores: 15% de margem financeira, 23% de tributos e Fundo Garantidor de Crédito (FGC), 25% de despesas administrativas e 37% pela inadimplência.
“Há um grave problema no país em relação às dificuldades de, diante de inadimplência, retomar garantias. Em qualquer país sério do mundo, o bem financiado apenas passa a ser seu após 100% quitado, mas no Brasil há entendimentos jurisprudenciais que flexibilizam isso”, critica o economista.
De acordo com o Banco Mundial, o Brasil é um dos piores países em termos de recuperação de crédito. A cada 1 dólar emprestado, apenas 0,19 são recuperados. Em países como Noruega, Japão e Países Baixos a taxa de recuperação é superior a 0,90 dólares. A média da OCDE é de 0,72 dólares e na América Latina e Caribe, cerca de 0,31.
Uma possível explicação para a queda dos spreads não ter sido mais expressiva seria a dificuldade de retomada das garantias. Esse é um dos entraves ainda presentes e que seriam importantes para essa redução.
“Não à toa o crédito é caro no Brasil: quem paga a conta paga por si e pelos inadimplentes e por um Judiciário lento na retomada das garantias”, afirma Lisboa.
Além disso, um estudo de pesquisadores do MIT e do Banco Central aponta que a forte concentração bancária do Brasil impacta positivamente no alto spread bancário.
Em suma, a falta de educação financeira no país e intensa centralização de mercado nas grandes instituições são fatores que determinam o baixo acesso a crédito, principalmente barato, por parte de brasileiros como pessoas físicas. No caso de pessoas jurídicas, esse aspecto ainda é um desafio, pois uma das formas de expandir a atividade de empresas é por meio desse serviço financeiro que, se encarecido, limita as alternativas de crescimento de pessoas jurídicas no país.
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