Jul 2021
27
Luan Sperandio
DATA BUSINESS

porLuan Sperandio

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Quando o filho é bonito, todo mundo quer ser o pai

Um ditado popular resume bem a relação da classe política com o Plano Real: “quando o filho é bonito todo mundo é pai”. Na época do plano, após diversos insucessos (que envolveram desde congelamento de preços até confisco da poupança dos brasileiros), como o Plano Cruzado, o Plano Collor I e o Collor II, eram poucos que se dispunham a defender a ideia do Plano Real, e Ciro, à época governador do Ceará, não era bem um defensor do plano.

Mas não é de hoje que o candidato à presidência tenta “assumir a paternidade” do Real. Ao longo da campanha das eleições de 2018, em que foi o terceiro colocado, Ciro bem que tentou.

Em uma entrevista, afirmou: “Eu fui ministro da Fazenda, ajudei a fazer o Plano Real sob a liderança do presidente Itamar Franco. E eu peguei a inflação com 3% ao mês e entreguei com zero”. Mas não foi bem assim.

Ciro Gomes assumiu o Ministério da Fazenda em setembro de 1994, ficando apenas até dezembro, saindo com a ascensão de Fernando Henrique Cardoso (FHC) na presidência da República em janeiro de 1995. Ciro, até então um proeminente político do PSDB, assumiu o cargo apenas porque o líder da criação do plano, FHC, foi disputar as eleições e precisou se descompatibilizar do cargo. Assim, assumiu a pasta o embaixador Rubens Ricupero, que ficou 6 meses no cargo, mas pediu demissão após vazamento de áudios, que ficou conhecido como o Escândalo da Parabólica.

Assim, com o Plano Real já em andamento e a moeda em circulação, Ciro assumiu a pasta. Apesar de dizer que acabou com a inflação, a entregou em patamar um pouco superior ao que recebeu, com sua gestão sendo criticada pelos criadores do plano.

Ao contrário do que diz, Ciro Gomes atrapalhou o Plano Real

A equipe de integrantes que criou o Plano Real era entrosada, com pensamento bastante alinhado porque quase todos eram professores da PUC e se conheciam de longa data. E, o papel de Fernando Henrique Cardoso foi de ser o fiador político do plano, dando completa autonomia técnica aos economistas, protagonizado por Pedro Malan, Gustavo Franco, Pérsio Arida, André Lara Rezende e Edmar Bacha. “Esse papel foi essencial para proteger o plano de politicagens e fazer com que ele fosse bem sucedido”, afirma Mano Ferreira, cofundador do Livres e diretor do documentário “Real: Muito além de uma moeda”.

Ferreira afirma que o embaixador Rubens Ricupero também teve uma função relevante para o sucesso do plano ao assumir o ministério da Fazenda. “Ele teve o papel de aglutinar, era um algodão entre cristais ao conseguir equilibrar de um lado o presidente Itamar Franco e do outro a equipe”, afirma. No caso, Itamar queria tomar medidas de maiores gastos, que iam contra a necessidade de ajuste fiscal defendido pela equipe econômica.

“Quando houve a saída de Ricupero, Ciro assumiu como um ministro tampão, e o Pérsio Arida fala que foi o período mais difícil do Real porque, ao contrário dos ministros anteriores, Ciro queria ter opiniões próprias, não bancava a filosofia da equipe”, afirma Ferreira. Ele analisa que a postura política era uma forma de “buscar luz própria, mostrar serviço e ter um protagonismo no processo”. “Nesse momento, Itamar tomou medidas que dificultaram a implementação do Real, como o aumento do salário mínimo mínimo, que iam contra o ajuste fiscal necessário para o sucesso do plano”, explica.

Considerando que o atual marketeiro de Ciro Gomes é João Santana, responsável por diversas falácias propagadas em campanhas presidenciais do PT, o protagonismo de Ciro no Plano Real deve ser apenas uma das falsas narrativas a serem propagadas até o final das eleições de 2022.

Para quem quiser conferir em mais detalhes, o documentário a respeito do Plano Real citado nesta coluna está disponível gratuitamente, e pode ser assistido neste link.

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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