Como a reforma administrativa pode ajudar também o setor privado
Um dia após a inauguração da escultura Touro de Ouro na entrada da B3, a bolsa de valores brasileira que fica no centro de São Paulo, um grupo de manifestantes atacou a obra do artista plástico Rafael Brancatelli. Colaram cartazes de “Fome” na réplica do touro de Wall Street, que simboliza o bull market, isto é, prosperidade econômica e alta de mercado.
O movimento estereotipa a falácia de que o mercado de ações não gera inovações, empregos e renda. Entenda porque esse pensamento está equivocado.
O mercado de capitais é um mecanismo que conecta poupadores e tomadores, otimizando a alocação de recursos e o fluxo de capitais. Ou seja, ele permite que indivíduos diversos possam proteger seu dinheiro da inflação e em busca de rentabilização, investindo em grandes projetos de economia real, que são oferecidos e disputados por empresas de diferentes segmentos.
Na bolsa de valores, isso é feito de forma célere, transparente e acessível. E vale lembrar que isso não está disponível apenas para empresas, mas também para governos, que utilizam o sistema para se financiar suas políticas públicas.
Não à toa, o desempenho do mercado de capitais de um país influencia diretamente na geração de empregos, inovações e no desenvolvimento econômico e social de uma região.
Até o momento, 36 companhias abriram o capital na B3 em 2021. Foram R$ 66,2 bilhões captados nesses IPOs (Oferta Pública Inicial, traduzindo a sigla em inglês). Esse dinheiro será utilizado, justamente, em investimentos para a expansão e projetos dessas empresas. Assim, elas podem ganhar mais escala, produzindo serviços e produtos melhores.
Assim, sem a bolsa, as empresas teriam menos formas de se financiar, e os poupadores ficariam restritos em ativos com menor rentabilidade.
Inclusive, há evidências de que nos países com mercados de capitais menos desenvolvidos, as empresas são, na média, menores e menos competitivas.
A ideia de que proteger e rentabilizar seu dinheiro na bolsa “enquanto você dorme” seria errado e que investidores em bolsas não produzem prosperidade, é simplesmente errada.
Quem investe, na prática, está sendo remunerado para financiar inovações, empregos e renda. Este é o papel do mercado financeiro!
Paulo Ghedini, sócio da Perfin Asset, gestora de fundos de investimento, afirma que o mercado financeiro é a antítese da acusação de ser gerador da fome. “O que gera fome é concentração de mercado, monopólio, é quando há muito poder de barganha concentrado em poucos empreendedores. Em tese, isso pode gerar um efeito de escassez e má qualidade com preço alto de produto. O mercado financeiro faz justamente o oposto”, explica.
“Quando você abre o capital, os donos diluem sua participação em troca de financiamento. É esse dinheiro que permite que mais empresas possam oferecer mais produtos e contratar mais pessoas, algo que auxilia na competição do mercado”, diz.
Dessa forma, há um efeito benéfico duplo: se oferece mais produtos, mais competição, briga por mais qualidade e maior participação do mercado. Os produtos tendem a ter melhor qualidade e menor preço. “A antítese da pobreza é poder de compra, poder comprar mais coisas de melhor qualidade com o mesmo dinheiro”, afirma Ghedini.
O mercado serve para baratear o custo de capital para as empresas levantarem dinheiro de forma diferente que não apenas criando dívida com instituições financeiras.
Quando uma empresa quer expandir as atividades, há a opção de utilizar capital próprio, mas isso a deixa dependente de crescimento orgânico. Para acelerar esse processo, é possível contrair dívida com bancos e pagar juros ou diluir o quadro societário, diminuindo o equity em troca de injeção de capital. Não tem para onde fugir”, explica.
O gestor critica ainda a opção de uma “terceira via”: se financiar com ajuda governamental. “Há quem fuja de bancos e não abra de sua participação no negócio. Então buscam crédito subsidiado, pegando dinheiro de todos os brasileiros à contragosto deles. Quem consegue são os amigos do rei, quem está próximo ao governo. Afinal o que é melhor?”, indaga ironicamente.
A resposta é óbvia.
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