Risco político: o que é e como se proteger?
A relação entre os ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) deve ser um dos pontos chaves na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. Ainda que haja uma lembrança positiva do legado de Lula junto a uma parcela da população, as recordações negativas da gestão Dilma, sobretudo na economia, serão um desafio para Lula e o PT.
Afinal, foi sob os erros macroeconômicos do mandato de Dilma que o país amargou a maior recessão de sua história, entre 2014 e 2016.
Em janeiro a imprensa noticiou encontro entre os ex-presidentes petistas em que Dilma criticou a tentativa de aliança entre o PT e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, convidado para ser vice de Lula. Além disso, a ex-presidente posicionou-se afirmando que “não se calará quando criticada na campanha”.
Diante disso, Lula tem adotado uma postura de, simultaneamente, defender Dilma e se afastar dela. Em entrevista à Super Rádio Tupi, Lula disse ter “orgulho da Dilma”, comparando os dados de desemprego ao fim do primeiro mandato dela (4%), com o atual nível de 13%, criticando o governo de Bolsonaro.
Contudo, ao ser perguntado se Dilma poderia ser sua vice, Lula respondeu que:
“em uma campanha política você precisa saber que a solução para os problemas do Brasil não passa por um único partido, passa pelo conjunto das forças políticas que existem no país. Eu não tenho interesse em ser candidato apenas do PT, tenho interesse em ser candidato do movimento da sociedade que busca melhorar a vida do povo brasileiro”.
O legado econômico negativo de Dilma será um obstáculo que o ex-presidente precisará enfrentar em sua campanha, a despeito do governo Dilma ser um plano secundário da agenda, pois o debate eleitoral será centrado na avaliação e desempenho do governo Bolsonaro. Mesmo assim, Lula deve se afastar da ex-presidente, de forma similar que tem feito ao descartar a participação de ex-ministros, como José Dirceu e Guido, em eventual vitória nas eleições.
Ao trazer o legado do lulismo para agenda com objetivo de ativar perante o eleitorado a lembrança positiva da Era Lula na economia, o PT também acaba trazendo o governo Dilma para o debate. Por conta disso, a cúpula do PT resolveu antecipar-se ao “problema Dilma” e abordá-la de imediato em forma de sinalização.
Quando uma pré-campanha aborda um assunto antes que seus adversários o façam, via de regra é porque as pesquisas internas, em especial as qualitativas apontaram impacto na imagem do candidato. Para qualquer candidatura que busque ser competitiva, esse tipo de pesquisa representa uma arma essencial, pois são capazes de medir a profundidade que um determinado tema pode beneficiar ou prejudicar uma candidatura. A partir disso, são conduzidas estratégias de comunicação e criação de narrativas pela coordenação da campanha.
Nesse sentido, apesar dos recentes esforços retóricos de Mantega em comparar o desempenho da economia “desenvolvimentista petista com o da economia liberal de Guedes” e da própria Dilma descartar envolvimento em eventual novo governo Lula, o assunto não deve ser esgotado.
Afinal, a economia será o tema principal da agenda eleitoral de 2022, e a gestão econômica ruim de Dilma e Mantega deve ser trazida para agenda pelos adversários de Lula. Adversários buscarão explorar Dilma a fim de atingi-lo, apontando-o como responsável pelo cenário de recessão ao escolher uma sucessora inapta. O impacto que isso representará no eleitorado pode, inclusive, decidir a própria eleição de 2022.
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