Governo Lula propõe Arcabouço fiscal com excessos de exceções
É comum em inícios de governos haver confusões e ruídos, incluindo declarações de Ministros de Estado que se contradizem, a famosa “bateção de cabeça”. Com o decorrer do mandato, faz parte do processo de aprendizagem de todo governo diminuir os ruídos.
Após quase quatro meses de Governo Lula, a coluna traz um balanço sobre a comunicação e a percepção da população acerca das políticas públicas já anunciadas e também a comunicação pessoal do presidente Lula (PT).
Pesquisa da Quaest divulgada na semana passada avaliou a comunicação do governo nas políticas públicas. Foram selecionados 11 tópicos que foram anunciados (não necessariamente já implementados) e o percentual de brasileiros que, diante do acesso à informação daquela política, a aprova:
1. Aprovação do aumento do piso dos professores: 88% de aprovação entre os brasileiros que ficaram sabendo da notícia.
2. Relançamento do Bolsa Família em R$ 600: 77% de aprovação
3. Relançamento do Programa Mais Médicos: 75% de aprovação
4. Aumento da bolsa de pesquisadores: 72% de aprovação
5. Revogação do Decreto de Posse de Armas: 66% de aprovação
6. Aprovação do aumento do salário mínimo: 63% de aprovação
7. Isenção do imposto de renda para quem ganha até 2 salários mínimos: 45% de aprovação
8. Retirada da Petrobras da lista do programa de privatizações: 36% de aprovação
9. Suspensão do novo ensino médio: 29% de aprovação
10. Anúncio de empréstimos a países vizinhos: 21% de aprovação
11. Voltar com o imposto de combustíveis (PIS/Confins): 20% de aprovação
Da análise da pesquisa, se depreende que a maioria da população ficou sabendo de grande parte do anúncio dessas políticas, com a exceção das mudanças no programa de privatização (somente 40% dos brasileiros tomaram ciência), do reajuste na bolsa dos pesquisadores (38%) e da suspensão do novo ensino médio (35%).
Seis das 11 políticas avaliadas contaram com a maioria de aprovação, o que pode ser explicado em parte pela postura do Governo Lula seguir uma lógica de “nostalgia”. Isso ocorre porque houve o relançamento de diversas políticas sociais que ocuparam o noticiário ao longo dos 13 anos de petismo chefiando o Palácio do Planalto.
Além disso, reajustes recompondo perdas inflacionárias tende a ser bem avaliado na percepção dos brasileiros em geral, o que ocorreu nos pontos 4, 6 e 7 (embora neste último a recepção foi menos bem aceita possivelmente por ser considerada tímida frente a promessa da eleição de isenção em R$ 5 mil).
Apesar de haver quatro políticas públicas anunciadas com cerca de um terço ou menos de aprovação entre o eleitorado, o balanço da comunicação de políticas públicas do Governo Lula é mais positivo do que negativo.
A pesquisa da Quaest foram ouvidas 2.015 pessoas, pessoalmente, entre os dias 13 e 16 de abril. A margem de erro é de 2.2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Porém, a avaliação da comunicação pessoal do presidente, quando foge às políticas públicas, têm enfrentado dificuldades que podem complicar o governo.
Na semana passada, por exemplo, Lula criou constrangimentos diplomáticos com os Estados Unidos e a Europa ao realizar declarações mais favoráveis à China e Rússia, neste último caso em detrimento da Ucrânia. Não à toa, foi vetado para ser orador na cerimônia comemorativa da Revolução dos Cravos, que marca o encerramento da ditadura militar portuguesa.
Além disso, houve ainda recentemente diversas declarações de Lula que repercutiram muito mal no público, provocando retratações da presidência. Entre elas, algumas que envolveram pessoas obesas, portadores de deficiência e associação de violência nas escolas com jogos e games.
Gabriel Jubran, analista político da Arko Advice, aponta que Lula tem demonstrado uma “estranha dificuldade em lidar com crises absolutamente evitáveis”, especialmente considerando a experiência e a reconhecida habilidade histórica e de entendimento do jogo político do presidente.
“Diante da polarização, Lula não tem espaço para manobras arriscadas. Prometeu entregar o país pacificado e unido, mas tem, ele próprio, estimulado a manutenção da divisão. A própria dinâmica estrutural da política já é repleta de dificuldades. Então o governo não pode continuar criando dificuldades para si e achar que o resultado será positivo”, finaliza.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória