Out 2023
14
Luan Sperandio
DATA BUSINESS

porLuan Sperandio

Out 2023
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Luan Sperandio
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porLuan Sperandio

Onde o Governo Lula erra nas relações internacionais

Há uma ideia difundida no debate público de que o Brasil na política externa tem uma tradição de ser “amigo de todos” e que busca realizar gestos de amizade com diferentes nações de olho em uma espécie de cooperação eterna. As origens dessa ideia vem do filósofo alemão Immanuel Kant, que tinha a concepção de “paz perpétua” como um ideal inatingível, mas argumenta que essa ideia deve guiar as relações internacionais e a política global.

A postura diplomática do Brasil no Governo Lula abraça muito essa premissa, sendo bastante influenciada pelo ex-chanceler Celso Amorim, que aos 80 anos é o diplomata com mais vasta experiência em atividade no país. Contudo, em um cenário altamente competitivo e fragmentado, essa visão não encontra amparo na realidade das relações internacionais contemporâneas.

Afinal, as relações entre países são moldadas por interesses diversos e disputas de poder. Quando o Brasil, por exemplo, busca um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, está, na verdade, buscando um espaço maior de poder e influência na ordem global. Isso não é apenas uma aspiração, mas uma necessidade estratégica em um mundo em que a geopolítica dita o jogo.

Existe um primitivismo geopolítico quando se olha o Brasil nesse contexto. A ideia de que o país dialoga com todo mundo como se fosse uma virtude é, na verdade, uma simplificação ingênua das realidades complexas das relações internacionais. A China dialoga com os Estados Unidos, a Rússia dialoga com a França, com a Inglaterra e até mesmo com a Ucrânia, um país que está em guerra. Países rivais frequentemente mantêm canais de comunicação abertos entre si, mas é fundamental compreender que dialogar não é o mesmo que concordar ou criar convergência de interesses.

Apesar de Lula priorizar a política externa, colheu uma série de fracassos: sua tentativa de emplacar um plano de paz entre a Ucrânia e a Rússia foi ignorada no plano internacional; foi imprudente em seu tratamento dado a Nicolas Maduro, da Venezuela, e deu inúmeras declarações controversas, que somente não tiveram maiores repercussões em virtude do Brasil ainda ser visto como um papel secundário na politica global.

Se o Brasil almeja se tornar mais influente internacionalmente, é preciso abandonar a ideia de que ser um país que dialoga com todos é uma virtude em si. Não é. Em vez disso, deve focar em definir claramente seus interesses estratégicos, desenvolver uma política externa coerente e investir em sua capacidade de influenciar a agenda global. Isso significa ter maior alinhamento com um grupo de países, que vão gerar benefícios que superem eventuais desgastes com outros. Somente assim poderá conquistar o respeito e a influência que busca no cenário internacional.

 

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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