Somente 12 de 87 parlamentares conquistam mandatos nas eleições municipais, aponta levantamento
As eleições municipais de 2024 evidenciaram sete pontos-chave que trazem insights sobre o cenário político no Brasil. Esses pontos refletem mudanças e continuidades no comportamento do eleitorado, além de novas dinâmicas que podem impactar o futuro político do país.
1. O “continuísmo” nas prefeituras
A eleição de 2024 trouxe uma taxa de reeleição recorde para os prefeitos, com 81% dos prefeitos candidatos sendo reconduzidos ao cargo no primeiro turno, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios. O recorde anterior foi em 2008, com 66%.
Esse fenômeno é diretamente associado à capacidade dos prefeitos de captar e aplicar recursos, especialmente em um cenário de aumento do volume de emendas parlamentares e melhora nas finanças municipais após maiores repasses a partir da pandemia da Covid-19. A continuidade de gestores municipais reflete um padrão em que a estabilidade econômica e capacidade de investimento influencia diretamente o sucesso eleitoral.
2. Centrão em ascensão
Partidos do Centrão, como PSD, MDB e União Brasil, consolidaram sua presença nas principais capitais brasileiras. O PSD foi o maior vencedor, conquistando três capitais, enquanto o MDB e o União Brasil ficaram com duas cada. O poder das emendas parlamentares e a crescente influência no controle de recursos municipais facilitaram esse crescimento, consolidando o Centrão como um bloco de força nas eleições locais.
3. PT cresce, mas ainda enfraquecido
O PT teve uma recuperação modesta em relação ao último ciclo eleitoral, conquistando 66 prefeituras a mais em relação a 2020, totalizando 248 prefeituras.
Contudo, o partido ainda enfrenta desafios importantes, sem conquistar nenhuma capital (um tabu que se mantém desde 2016). Além disso, a base petista ainda se manteve limitada, mesmo em redutos onde Lula (PT) venceu nas eleições presidenciais de 2022:
Na eleição passada, o presidente Lula (PT) venceu em 3.123 cidades brasileiras, mas o PT venceu apenas em 217 dentre elas.
Há bastante preocupação interna sobre como será o partido após Lula. Como o deputado Reginaldo Lopes (PT/MG), vice-líder do Governo Lula na Câmara, escreveu:
“A performance decepcionante do partido do presidente mais icônico da história do Brasil expõe nossa desconexão com a realidade. O mundo mudou e novas demandas surgiram. Precisamos nos reinventar para conectar com a juventude, trabalhadores urbanos e rurais, mulheres e empreendedores que movem a economia. Sem isso, estamos condenados ao fracasso. O legado do Lula é grande, mas a força do partido precisa de ajustes práticos. O momento de mudança é agora!”
4. O enfraquecimento da “velha esquerda”
A esquerda tradicional brasileira, representada por partidos como PT, PDT e PCdoB, continua em declínio. A avaliação é de José Luiz Orrico, diretor da Futura Inteligência. “A soma das prefeituras conquistadas por esses partidos não chega a 10% do total de prefeituras no país, evidenciando uma clara mudança no eleitorado em direção ao centro e à centro-direita. Mesmo com esforços de reorganização, esses partidos enfrentam dificuldades em se adaptar às novas demandas do eleitorado”, afirma.
5. Zeladoria versus Ideologia
Apesar da polarização política entre lulismo e bolsonarismo, questões locais de gestão, como saúde, educação e segurança pública, foram as principais preocupações do eleitorado, exceto nas principais capitais. Afinal, eleições municipais refletem mais a capacidade dos gestores de atender às demandas imediatas da população do que o alinhamento ideológico. “No Rio de Janeiro havia muito potencial de nacionalização, mas esta foi contida porque o atual prefeito Eduardo Paes (PSD) é muito conhecido e bem avaliado. A polarização trouxe dividendos políticos ao candidato Alexandre Ramagem, o ajudando a ter mais de 35% dos votos válidos”, explica Orrico.
6. Pablo Marçal e a divisão da direita
A liderança emergente de Pablo Marçal no cenário político traz desafios à direita, particularmente ao bolsonarismo. “Marçal ganhou tração ao nacionalizar as eleições municipais em São Paulo”, afirma Orrico.
Expoente nas redes sociais, seu distanciamento de Jair Bolsonaro (PL) o coloca como uma possível nova força no campo conservador. Com 18% de intenção de voto para 2026, segundo pesquisa da Quaest, Marçal ameaça dividir o eleitorado bolsonarista. Em comparação, na mesma pesquisa, o governador de São Paulo Tarcisio de Freitas (Republicanos) marcou 15% no cenário de disputa com o presidente Lula, que possui 32% de intenção de votos.
7. Oligopolização de partidos
Com a cláusula de barreira tendo mais critérios a partir de 2027, o desempenho eleitoral tímido de alguns partidos deve forçar muitas agremiações a se fundir ou formar federações para garantir sua sobrevivência política. A necessidade de eleger ao menos 13 deputados federais ou obter 3% dos votos válidos em pelo menos nove estados deve consolidar ainda mais o número de partidos relevantes no cenário nacional.
Na semana passada, poucas horas após os resultados eleitorais, o PSDB, Solidariedade e PDT já discutiam a formação de ser uma federação, por exemplo.
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