Reformas da casa, viagens, imprevistos… são várias situações em que o consumidor pode se deparar precisando de um dinheirinho a mais para pagar as contas. O cartão de crédito e os empréstimos são, normalmente, as fontes para buscar esse valor.
As contas, porém, batem na porta no mês seguinte e, se não houver organização, viram uma bola de neve. No Espírito Santo, cerca de 90% dos capixabas estão endividados, de acordo com a última pesquisa da Fecomércio-ES.
Cartão de crédito: advogada tem R$ 200 mil em dívidas
Angélica Damasceno é advogada e está entre os capixabas que acumulam várias dívidas diferentes.
Ela possui oito cartões, além de empréstimos, que utilizou para montar o escritório de advocacia e realizar financiamento de veículo e imóvel. Somadas, as dívidas acumulam cerca de R$ 200 mil.
“Eu tenho de 6 a 8 cartões, sendo que dois eu utilizo mais para reserva. O que eu consigo fazer é uma planilha com meus gastos fixos e para o cartão de crédito. Eu coloco uma média de gasto, por exemplo. Tenho uma dívida acumulada R$ 200 mil, mas me sinto feliz e honrada que os bancos confiam em mim para pagar essa divida. Está tudo em dia”, contou.
A advogada explica, ainda, que utiliza seus conhecimentos da área para ler minunciosamente os contratos de empréstimo e não sair no prejuízo. Principalmente, observar quais são as cláusulas contratuais, se há juros abusivos e buscas estratégias para reduzir as taxas abusivas.
33,6% dos capixabas não têm condições de quitar as contas
Enquanto Angélica se organiza para manter as dívidas em dia, outros 33,6% dos capixabas não têm condições de quitar as contas, ou seja, estão inadimplentes, segundo a Fecomércio-ES.
O cartão de crédito, inclusive, é um dos grandes vilões quando se trata de endividamento. Ainda de acordo com a pesquisa, a cada 10 capixabas, nove utilizam cartões de crédito. A falta de educação financeira, no entanto, faz com que as dívidas acumulem cada vez mais.
“O cartão de crédito é o grande vilão do orçamento familiar. A questão é que eu não posso passar de 30% da minha renda em endividamento. Isso é prezar pela saúde financeira. E é aí que o problema do cartão de crédito entra, porque as pessoas usam o cartão de crédito como complemento de renda”, explica Érico Colodetti, coordenador do Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal da Faesa.
O coordenador explica, ainda, que antes de comprar algo é preciso realizar três perguntas cruciais para evitar gastar o que não se tem.
- Eu preciso disso?
- É urgente?
- Eu posso pagar isso à vista?
“Se a resposta for sim, faça as contas. Agora, se você chegou na terceira pergunta e deu negativo, é sinal de que essa compra não precisa ser feita agora. É muito importante fazer essas perguntas para dar tempo da parte lógica do cérebro funcionar e sair da emoção antes da compra”, disse.
Brasil tem 76,1% das famílias endividadas
De acordo com a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada na quinta-feira (06), 76,1% das famílias estão endividadas no Brasil e 27,5% estão inadimplentes.
Além disso, em janeiro, 20,8% dos brasileiros destinaram mais da metade dos rendimentos às dívidas, o maior percentual desde maio de 2024.
Em média, as famílias destinaram 30% dos ganhos para esta finalidade, justamente o valor que não é indicado por especialistas.
Mais de 200 mil pessoas saíram do vermelho no ES
Mesmo com os índices assustadores, em relação aos últimos meses, houve redução no número de endividados no Brasil e no Espírito Santo.
Nacionalmente, o resultado de janeiro representa uma queda de 0,6 ponto percentual em relação a dezembro e de 2 pontos percentuais no comparativo com o mesmo período em 2024.
No cenário capixaba, os índices também apontam para um ciclo virtuoso na economia capixaba.
“No final do ano, tivemos 200 mil pessoas que saíram do vermelho. Aqui no Estado, o desemprego está em 4,1%, é a menor taxa dos últimos 12 anos. O capixaba vai ter emprego, logo, vai ter renda. Então, as famílias foram se organizando para quitar essas dívidas e isso reverbera na intenção de consumo e na movimentação no varejo”, informou Ana Carolina Júlio, coordenadora de pesquisa do Connect Fecomércio-ES.
A coordenadora ainda explica que, no mês de novembro, quando ocorre a Black Friday, o comércio teve o melhor mês dos últimos 24 anos. “Então, a gente vai tendo uma economia que funciona muito bem e num ciclo virtuoso”, completou.