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Finanças de A a Z

por Ana Porto

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Conheça a história da primeira investidora brasileira

Na transição entre os séculos XIX e XX, num contexto em que as mulheres não tinham espaço para o voto, por exemplo, Eufrásia Teixeira Leite foi uma das pioneiras a investir na bolsa de valores, iniciando sua trajetória na bolsa de Londres por volta de 1880.

Conheça a história da carioca que se destacou não apenas no mundo dos investimentos e negócios, mas também na filantropia, pois é uma inspiração para quem quer buscar a autonomia financeira.

Acompanhe Ana Porto no Programa Mundo Business do último domingo

Nasce a investidora pioneira do país

Eufrásia nasceu em 1850 no município de Vassouras, no Rio de Janeiro. Sua família era tradicional na época, composta por empresários do café por parte de pai e aristocratas por parte de mãe. Contudo, em 1873,  ficou órfã, momento em que decidiu partir para a França com sua irmã. No país europeu, ela teve o seu primeiro contato com investimentos, acompanhando seu tio, que era investidor nos pregões em bolsa de valores.

Ela já possuía conhecimento em finanças e matemática financeira e foi educada de forma diferenciada: naquele momento da vida, já era poliglota, sendo fluente em inglês, francês e alemão, além do português, é claro.

Mesmo com um ambiente de difícil acesso, uma vez que apenas acompanhava as negociações no segundo andar do prédio da bolsa e para participar dos pregões, era preciso que assessores homens intermediassem as compras e vendas, ela se debruçou sobre o assunto e se dedicou aos investimentos.

Trajetória para o sucesso financeiro

Em 1876, Eufrásia começou a investir a herança que recebeu após o falecimento dos pais. A recomendação dada a ela foi que ficasse apenas no mercado de renda fixa, visto que a renda variável “exigia rapidez e controle emocional”, características consideradas inexistentes em mulheres pela sociedade de seu tempo.

Contudo, ela tomou suas decisões de forma independente. Em 1880, passou a operar na bolsa de Londres e em 1914, na de Nova Iorque. Há registros de ter feito negócios em 17 países e em nove moedas diferentes, após se tornar autodidata e aprender sobre câmbio.

No Brasil, foi acionista de grandes empresas, como a Companhia Antarctica Brasil, que hoje faz parte da Ambev (ABEV3), investiu também no setor ferroviário e bancário, entre os quais adquiriu papéis do Banco do Brasil (BBAS3) e do Banco Mercantil do Rio de Janeiro, por exemplo.

Ainda, se tornou investidora anjo de diversos empreendimentos na Europa nos segmentos extrativistas, de transportes, elétricos e petroleiros. Por fim, voluntariamente, envolveu-se na ressocialização de soldados da Primeira Guerra Mundial.

Legado 

Eufrásia morreu em 1930, não teve filhos e não se casou, por uma razão coerente com sua jornada: caso optasse pelo matrimônio, seus bens deveriam ser administrados pelo marido, segundo a legislação da época. Porém, ela não estava disposta a aceitar essas condições.

O inventário de sua fortuna levou mais de 2 décadas para ser concluído, em função da diversidade e complexidade de suas aplicações. Concluído o processo, descobriu-se que ela possuía o equivalente a duas toneladas de ouro, ou seja, era praticamente uma bilionária.

Em 2019, foi reconhecida pela B3 e pela ONU Mulheres como a primeira mulher investidora do país. Hoje, mais de um milhão de mulheres investem na B3, a bolsa brasileira e, sem dúvidas, Eufrásia foi a precursora desse movimento.