Por Yara Dadalto
Uma curiosa manifestação ocorrida em São Paulo no dia 17 de novembro de 2021, logo após a inauguração do touro da B3 — escultura instalada em frente à sede da Bolsa de Valores brasileira — chamou minha atenção. A obra amanheceu com cartazes colados que formavam a palavra “fome”, já que, segundo os jovens que participaram do ato, o touro “é um símbolo da fome, da miséria e da super exploração do trabalho. Mas, também é um lembrete de que continuaremos na luta por uma vida com dignidade”.
Ao ler tal afirmação, fiz questão de rever alguns conceitos e relembrar como o mercado de capitais começou, pois, com as informações que eu tenho disponíveis até o momento, a afirmação dos jovens manifestantes não fazia o menor sentido. Então me questionei: será que estou ficando doida? Ou será que eu tive acesso à informações extremamente exclusivas, das quais esses jovens foram impedidos de acessar?
Com uma busca supercomplicada, perigosa e demorada, no Google, você poderá confirmar tudo o que estou trazendo aqui: na bolsa de valores são negociadas ações*¹, títulos públicos (empréstimo de dinheiro ao governo, contribuindo para financiar políticas públicas) *² e commodities. De maneira bem simples e didática, podemos dizer que a compra e venda de ações na bolsa de valores é um ambiente para que qualquer pessoa possa comprar ou vender frações de empresas por menos de R$10,00 reais.
Focando no primeiro e mais popular ativo, a ação, ao comprá-la você se torna um pequeno sócio do negócio. Primeiramente, é importante enfatizar que a bolsa de valores só efetuará a compra e venda se as duas partes em questão possuírem interesse de “fecharem um acordo”. Sendo assim, ao comprar uma pequena fração de uma empresa, você o faz por interesse de obter retorno financeiro através do recebimento de dividendo e bonificações (não tenha medo de dizer isso, não é feio e muito menos crime), pois, teoricamente, você vê possibilidade de crescimento e geração de lucro naquela empresa.
Quando uma pequena fração da empresa é vendida, ela o faz com o intuito de arrecadar capital para investir em maquinário, compra de insumos, contratação de funcionário, expansão física, etc. Nesse momento, tento entender como aqueles manifestantes podem afirmar que o mercado de capitais é um símbolo de fome, miséria e exploração do trabalho, sendo que, ao comprar mais maquinário, a empresa estimula o fabricante a produzir mais, logo, o fabricante recebendo mais demanda, precisará comprar mais insumos, contratar mais funcionários, e assim por diante.
Ao fazer mais contratações de funcionários, as empresas estão gerando emprego e, consequentemente, levando renda a muitas pessoas que estavam desempregadas, ou senão oferecendo melhores condições e oportunidades do que o emprego antigo; isso contribui para a prosperidade daquela pessoa e da sua família.
Dito isso, eu penso em outro questionamento: se o acesso à bolsa de valores é feito por livre e espontânea vontade, e a partir de valores baixíssimos, com o objetivo de obter retorno financeiro, e ainda contribuir para a geração de emprego e ao desenvolvimento econômico, como os jovens manifestantes chegaram àquela conclusão?
Bom, após relembrar pontos básicos que foram mencionados — disponíveis na internet em grande quantidade e para qualquer pessoa — tive a certeza de que, definitivamente, não sou eu a desinformada.