Por Alefe Gadioli
Antes mesmo de entrar mais a fundo no conceito de derivativos agrícolas, é importante entender do que se tratam os derivativos de maneira geral. Derivativos nada mais são do que operações no mercado financeiro que acontecem com o objetivo de estabelecer a proteção de riscos. Esses riscos podem estar relacionados ao fato de que a receita de determinada empresa está atrelada à variação do preço de uma commodity, ao câmbio ou a qualquer outro fator que possa trazer riscos de perda de recursos ao final de um período. No caso de derivativos agrícolas, considera-se a receita financeira que está associada a uma commodity agrícola.
O derivativo agrícola é um importante instrumento financeiro de proteção de preço e suas eventuais oscilações. Supondo que um agricultor precisa plantar café, mas ele só vai fazer a colheita dentro de, aproximadamente, 3 meses. No entanto, sabe-se que nesse período muita coisa pode ocorrer com a oferta e demanda do café, e, consequentemente, afetar o seu preço.
Por conta desses riscos inerentes ao agricultor, ele pode vender um contrato futuro ao preço fixo de hoje. Isso acontece porque se esse agricultor deixar suas negociações expostas às variações do preço do café, ele poderá ter grandes problemas para recompor o valor das despesas que teve com aquele plantio. O valor do café pode ser até maior daqui há 3 meses, quando for realizada a colheita. No entanto, a presença do risco de perda existe, e pode ser incontrolável por meios naturais. Com a percepção de que essa redução de preço possa ocorrer, faz-se com que se tenha a necessidade de elaboração desses contratos futuros a um preço pré-determinado.
Sendo assim, os derivados agrícolas são instrumentos financeiros atrelados a um produto que existe na sua forma física, tais como: soja, milho, café, açúcar ou qualquer outro produto que pode ser negociado através do mercado financeiro.
Infelizmente, é impossível prever com exatidão como vão ocorrer as variações de preço de determinada commodity, pois isso vai depender de acontecimentos econômicos, mudanças no câmbio, alta ou baixa oferta do produto no mercado. Enfim, são fatores que estão inseridos dentro da ideia de renda variável.
Por conta disso, existem análises que tangenciam a tendência para onde determinado preço pode ir de acordo com as informações que se tem no momento do mercado. Essas análises podem ser feitas por especialistas do mercado financeiro, analistas, gestores ou até pessoas que de fato acompanham o dia-a-dia do mercado agrícola e dessa commodity em específico.
Por essas análises terem diferentes resultados sobre a percepção do futuro, existe um preço para aquele contrato que é interessante para ambas as partes da negociação. É por isso que, mesmo a um preço fixo, existe um comprador e um vendedor daquele mesmo contrato futuro.
Essa espécie de “trava” no preço que visa a proteção das variações da commodity é chamado de hedge. Esses hedges utilizarão justamente os derivativos agrícolas, os quais são negociados através da bolsa de valores. Isso ocorre por meio do mercado futuro, na negociação de contratos futuros.
As negociações dos derivativos agrícolas podem ser feitas de forma direta ou indireta: se for feita de forma direta, o próprio investidor pode realizar essa operação por si só, com os conhecimentos que ele possui para tal, podendo ser, inclusive, o próprio agricultor ou dono da produção; na forma indireta, o agricultor pode ter um gestor, profissional da área, ou qualquer outro com função de realizar essas operações por essa pessoa, de forma mais estratégica e com decisões que possam beneficiar a ambos.
Além do próprio objetivo de proteção, os derivativos agrícolas podem ser usados para especulação. Por conta disso, através de análises de cenários, é possível tentar predizer se a probabilidade é de comprar ou vender um contrato de uma commodity, dentro de um determinado período, a fim de trazer lucro.
Independente do objetivo na negociação dos contratos futuros, a intenção primária é nunca sair no prejuízo da operação, e isso é algo que todos os investidores buscam de início. Todavia, como nem tudo são flores, a utilização de derivativos agrícolas exige muita responsabilidade e cautela, pois seus contratos podem acarretar perdas significativas — vide o caso da Sadia e, mais recentemente, da Suzano.
Em resumo, os derivativos são muito importantes para mitigar diversos tipos de riscos financeiros, e já salvaram muitos produtores agrícolas de prejuízos enormes para o seu negócio. Mas, devido ao risco que pode oferecer, é mais aconselhável para profissionais experientes, de forma que maximizem os benefícios e minimizem os riscos da operação.