Guerra e liberdade

Existe maior violação à liberdade do que obrigar um indivíduo a pegar em armas para defender interesses econômicos, territoriais e sociais que são alheios aos seus interesses individuais? Existe maior defesa à liberdade do que aquele indivíduo que pega em armas, pondo em risco a sua própria vida e integridade física, para defender a sua […]

Por André Hemerly Paris

Existe maior violação à liberdade do que obrigar um indivíduo a pegar em armas para defender interesses econômicos, territoriais e sociais que são alheios aos seus interesses individuais?

Existe maior defesa à liberdade do que aquele indivíduo que pega em armas, pondo em risco a sua própria vida e integridade física, para defender a sua preservação contra aqueles que buscam usurpá-la?

Desde a antiguidade, vemos liberdades e interesses individuais sendo desconsiderados – postos em xeque – em nome da “glória”, do ego, dos “interesses de Estado”, enfim, em nome de agendas que não lhes dizem respeito.

Da mesma forma, ao longo da história, também vimos diversos indivíduos lutando por sua liberdade de pensamento, de dispor de sua propriedade, de circular livremente, e de tomar suas próprias escolhas — sobre qual a melhor forma de viver suas vidas —, em face de tiranias internas e externas que limitavam (ou ainda buscam limitar) tais valores intrínsecos ao indivíduo.

Com a recente escalada de tensões no xadrez geopolítico envolvendo a Rússia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a Ucrânia, mais uma vez  indivíduos sendo obrigados por governos a colocarem suas vidas em risco na defesa de interesses não correspondem aos seus.

E, em contrapartida, também vemos indivíduos voluntariamente pegando em armas — ao verem a localidade em que habitam ser invadida — para defenderem um de seus valores mais preciosos: sua liberdade.

Essa atual situação nos pegou de surpresa e nos faz ficar menos otimistas quanto à humanidade e o caminho em que seguiremos. A utopia da liberdade de circulação para indivíduos parece ficar cada vez mais distante.

Sob um viés econômico, as guerras tendem a representar uma estagnação ou recessão econômica às nações envolvidas. Mais uma vez, poucos são os beneficiados, e em detrimento dos interesses individuais de milhares.

Howard Marks, em seu livro “Dominando o Clico de Mercado”, demonstra como questões comportamentais dos investidores podem influenciar nos ciclos de alta ou de baixa do mercado. Na data de invasão da Ucrânia pela Rússia, sem dúvida, a humanidade ficou mais pessimista, e os mercados refletiram esse sentimento.

A cada guerra, liberdades de milhares de indivíduos são violadas às custas do capricho de poucos. A guerra, nesse aspecto, é a maior das tiranias.  E tomar parte de uma incursão militar, que representa unicamente os “interesses de Estado” (ou caprichos de governantes), é a maior das violações à liberdade que um indivíduo pode sofrer.