Por André Paris
Continuando nossa série de textos sobre como uma empresa pode influenciar o comportamento de seus funcionários e, por extensão, sua cultura corporativa, compartilho no texto de hoje as implicações de uma das variações do experimento sobre honestidade conduzido pelo economista comportamental Dan Ariely.
(Não) me mostre o dinheiro
Em uma das variações do experimento, o pesquisador substituiu o pagamento em dinheiro por fichas de plástico. Os participantes não precisavam ir muito longe para trocar as fichas ganhas por dinheiro em espécie (bastava caminhar alguns metros), no entanto, Ariely verificou que os resultados revelaram um aumento de quase 100% na trapaça por parte dos participantes.
O que essa variante do experimento original indica? Que as pessoas são mais suscetíveis a comportamentos desonestos se não perceberem as implicações monetárias de suas condutas antiéticas. Tome um tempo para pensar sobre as seguintes questões: Você tomaria R$ 5,00 da empresa em que trabalha? Em vez disso, você pegaria (apenas alguns) papéis em branco da impressora do trabalho porque sua filha precisa deles para terminar um trabalho escolar em atraso?
Agora pense neste cenário: se um de seus colegas, em uma viagem de negócios, decide pagar não só a comida, mas também as duas bebidas (alcoólicas, que custaram cerca de R$ 50,00) que ele tomou em um jantar com o cartão crédito corporativo, você desaprovaria a conduta dele exatamente da mesma forma que censuraria se outro de seus colegas desviasse R$ 50,00 de uma conta corporativa da empresa em que trabalham?
Talvez, sem mais reflexão (de seu sistema reflexivo), sua intuição (liderada por seu sistema automático) tendesse a ver esses exemplos de desonestidade de maneiras diferentes. Então, o que uma empresa pode fazer para reduzir comportamentos antiéticos do dia a dia?
Como vimos, o experimento de Ariely mostrou que as pessoas se sentem mais à vontade para trapacear se não perceberem o valor monetário de suas ações. Assim, se uma empresa consegue lembrar seus colaboradores do valor económico dos recursos disponíveis (por exemplo, colocando avisos/notas junto aos ativos da organização que mostrem seu respectivo custo monetário, ou, fornecendo um aplicativo que questiona o utilizador antes de iniciar determinada impressão solicitada – “A impressão solicitada vai custar “X” reais para a empresa, você quer continuar?”), provavelmente será capaz de reduzir o volume de recursos mal utilizados.
No próximo texto da série sobre economia comportamental e compliance irei tratar sobre outra variação do experimento sobre honestidade conduzido pelo economista comportamental Dan Ariely.