Por José Carlos Buffon Junior
“O Brasil é o país do futuro”. Essa sentença reflete o otimismo dos brasileiros com o destino de nosso país, porém, se olharmos os números dos últimos anos, essa esperança não parece muito próxima da realidade. Apesar de alguns pequenos avanços, estamos cada vez mais distantes em a produtividade, criação de riqueza e renda per capita, se compararmos com os países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Um importante indicador desse atraso é a chamada “nova década perdida”, entre os anos 2011 e 2020, quando o PIB per capita brasileiro teve um recuo de -0,6%, um desempenho 82% pior dentre os 191 países pesquisados. Para se ter uma ideia, países em desenvolvimento tiveram um crescimento mais expressivo, como é o caso da China, com acréscimo de 6,3%, e Índia, com crescimento de 3,6%.
Mas o que poderia explicar o desempenho pífio do nosso país, mesmo possuindo grande potencial para o pleno desenvolvimento, destacando a grande produção agrícola, além da alta produção de produtos minerais, bem como um enorme mercado consumidor?
Um dos pontos que explicam essa diferença entre expectativa e realidade é a confiança, ou, melhor, a falta dela. De acordo com o Alain Peyrefitte, em seu livro a Sociedade de Confiança”, a peça chave para o desenvolvimento econômico e social de uma sociedade é a confiança recíproca entre as pessoas, e a confiança da sociedade nas suas instituições.
O autor francês prega que o binômio capital e trabalho — considerado pelos teóricos, tanto do liberalismo como do socialismo, como o principal fator para o desenvolvimento —, na verdade, são fatores secundários. Para Peyrefitte, o principal fator é o imaterial ou cultural. Em uma sociedade de confiança, predomina a relação de ganha-ganha; ali, o cidadão confia nas autoridades, no governo e na justiça.
No Brasil, não podemos dizer que vivemos em um pleno estado de confiança; ao contrário, as relações privadas entre os cidadãos são desrespeitadas, a sociedade não acredita no Estado e não confia sequer na grande parte dos políticos eleitos; sem falar no judiciário que, além de ser lento nas resoluções dos conflitos, por muitas das vezes profere decisões antagônicas, gerando cada vez mais insegurança jurídica nas relações sociais.
Um exemplo atual desses atos que acabam por gerar desconfiança é a chamada PEC dos Precatórios, a qual possibilita o parcelamento de dívidas do Estado brasileiro, atingindo. Esse Projeto de Emenda Constitucional atinge em cheio o Teto dos Gastos Públicos, aprovada recentemente em 2016 limita o crescimento dos gastos públicos brasileiros, um dos grandes problemas do nosso país.
Com toda essa perda de confiança, os mercados reagem rapidamente, a nossa moeda desvaloriza, as ações listadas em bolsa despencam, o “risco brasil” e os juros sobem. Toda essa movimentação reflete rapidamente na vida do cidadão: com menos investimentos, menos emprego e menos renda.
Sem mudarmos essa realidade, seremos, eternamente, o país do futuro capital e trabalho nós temos, o que falta é o fator imaterial, a confiança mútua entre os cidadãos, e a confiança da sociedade nas instituições constituídas.