Entrevista | Ram Charan, o guru das lideranças mundiais
Autoridade máxima em liderança e estratégia empresarial, Ram Charan esteve em Vitória a convite da Findes para participar do Fórum IEL de Gestão, no final de outubro. O “guru” indiano de 85 anos é doutor pela Universidade de Harvard, autor de best-seller, palestrante, consultor e roda o mundo inteiro levando reflexões sobre as organizações a líderes de negócios.
Nesta entrevista exclusiva para Líder Empresarial, Ram Charan fala do que é ser líder nos dias atuais e o papel da liderança num cenário de rápidas e grandes transformações. Confira.
O que é ser líder nos dias atuais? Quais atributos são necessários para ser um líder do presente, neste mundo de rápidas transformações?
Um líder que realiza mais do que os outros tem muita clareza sobre o que deve ser alcançado. Esse tipo de líder define um objetivo e faz com que as pessoas trabalhem junto com ele. São pessoas que confiam nele, e ele ou ela confia nelas. Esses líderes se concentram nesse objetivo e em poucas prioridades. Até que terminem, eles não passam para a próxima. Eles são excelentes em se comunicar e obter comprometimento. E mais uma coisa: eles amam fazer isso. Eles nasceram para isso. Esses líderes existem em todos os países, em todos os estados, em todas as vilas. Encontre-os. E dê a eles a oportunidade.
Qual o papel do líder com relação às pautas atuais, como ESG, diversidade, inteligência artificial?
Os líderes são excelentes em identificar o que precisam aprender. Eles são grandes aprendizes. Eles não aprendem tudo; eles escolhem. Hoje, precisam aprender como a tecnologia da digitalização fará uma grande diferença. Nós sabemos disso. Eles sabem disso. Mas precisam aprender. Eles precisam fazer com que as pessoas ao seu redor aprendam também. Então, essa parte é sobre aprender a digitalização. Aprender não é suficiente. Eles precisam transformar isso em criação de crescimento. Esse tipo de treinamento ainda não está disponível em muitas empresas. É fácil de fazer. Pode ser feito. Faça isso. Aprenda o básico. Hoje, todos nós consumimos informações digitais. Não haverá país em 30 anos que não esteja digitalizado. Devemos nos antecipar.
Qual deve ser a principal tarefa da liderança? Estratégia, execução, cultura…?
Em um ambiente corporativo, líderes definem o objetivo e como alcançá-lo. Eles são especialistas naturalmente habilidosos em fazer as coisas acontecerem. Eles não executam, eles fazem acontecer. Para isso, escolhem pessoas, constroem equipes e criam organizações. Corrigem seus erros, mas são excelentes em motivar e comunicar. Alguns lideram equipes de 10 pessoas, outros de 100. A maior equipe hoje no mundo, fora dos departamentos de defesa, é de cerca de 2 milhões de pessoas. Eles dirigem uma empresa de 2 milhões de pessoas e têm bons resultados. Como fazer isso? Diferentes amplitudes de liderança. Para conseguir isso, você precisa de tecnologia digital hoje em dia para realmente trazer 2 milhões de pessoas com você e alcançar algo importante.
O senhor viaja todo por todo o mundo, ensinando líderes de diversas nações. Há alguma diferença entre as lideranças de diferentes países? Como o senhor define o líder brasileiro e sua forma de gestão?
Tenho muita sorte de trabalhar em diversos países, como Brasil, Estados Unidos, Austrália, Japão, Dubai, Rússia e China. Apenas duas coisas fazem a diferença. A cultura em que um líder foi criado desde a infância – essa fase da vida forma crenças – e comportamentos que ele aprendeu com seus professores, pais e colegas de trabalho. Isso condiciona como ele age e lidera. Mas alguns líderes, uma pequena porcentagem, começam a ir para outros países ainda jovens e trabalham lá. Suas crenças são modificadas e suas limitações mentais começam a se expandir. No caso da China, o presidente Mao Tsé-Tung não passou muito tempo fora do país, enquanto seu sucessor, Deng Xiao Ping, passou um tempo na França, e o presidente Xi Jinping passou muito tempo nos Estados Unidos. No Brasil, sei que muitos presidentes passaram um tempo fora do país. Aqui, há também muitas empresas cujos líderes buscaram educação na América ou na Europa, tornando a liderança mais ampla, melhor e mais diversificada. Isso oferece uma oportunidade de acompanhar mais rapidamente o que acontece no mundo, e é isso que determina como os líderes deixam de ser provincianos e se tornam mais abrangentes.