Francisco Carlos Gava: “se o líder conseguir ser coerente, já deixará um grande legado”
Fundada em 15 de março de 1988, a Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (Acacci) é um espaço lúdico e acolhedor que promove a vida, oferecendo aos seus beneficiários um conjunto de serviços de suporte integrativo, multidisciplinar e complementar. A Acacci é um sinal de esperança na luta contra o câncer infantojuvenil, contribuindo para potencializar o bem-estar, a qualidade de vida e a dignidade das crianças e adolescentes que lutam contra o câncer e suas famílias.
À frente da instituição está Francisco Carlos Gava, reconhecido líder empresarial na categoria Terceiro Setor. Saiba mais sobre ele na entrevista a seguir.
Neste ano, Líder Empresarial tem como tema “Honrar o legado”. Que legado você já recebeu em sua vida? Por quem ele foi deixado? É um legado que te orgulha? Por quê?
Primeiramente, precisamos entender o significado da palavra “legado”, que vem do latim. Não querendo entrar no aspecto jurídico do tema (herança, principalmente de bens materiais), legado é um bem imaterial que não se compra, mas se conquista, e que advém do trabalho de uma vida. É aquilo que passa de uma geração a outra, que se transmite à posteridade. Portanto, podemos receber esse bem imaterial daqueles que nos antecederam e também deixar um legado para a sociedade e para as gerações que nos sucederão. São experiências, lições e aprendizados. Legado também pode ser entendido como a maneira como uma pessoa age, pensa e se expressa, que os filhos e aqueles que convivem com você na sociedade e no ambiente de trabalho vão seguir e buscar melhorar.
No meu caso, legado é tudo aquilo que recebi dos meus pais e avós em termos de valores pessoais e familiares: ser ético, íntegro, coerente, correto, respeitar o próximo. Também é tudo aquilo que aqueles que me antecederam na gestão da empresa em que trabalhei e na Acacci, onde presto trabalho voluntário, fizeram e deixaram como exemplo a ser seguido.
Esses foram os grandes legados que recebi. Na família, o exemplo de vida e orientações deixados pelos meus pais e que moldaram meu caráter, minha maneira de ser e de agir. Na empresa em que trabalhei antes de me aposentar e na Acacci, recebi um legado de como ser íntegro, respeitar os valores da organização, ser transparente, prestar contas dos recursos recebidos, respeitar as pessoas e me empenhar para que a sociedade seja ainda melhor. São legados que muito me orgulham porque, inspirado neles, também busco deixar um legado para a sociedade e as gerações futuras. Ajudar a fazer a diferença.
E qual legado você gostaria de deixar, seja para no campo profissional, pessoal ou para a sociedade?
Gostaria de deixar como legado, no campo profissional, pessoal e para a sociedade, a importância de colocar em prática princípios e valores que começam na família, desde a mais tenra infância, e que hoje, infelizmente, estão se perdendo: integridade, respeito ao próximo, honestidade, coerência, empenho e dedicação naquilo que fazemos. Transparência na prestação de contas dos bens materiais e recursos financeiros que administramos na vida pessoal e nas empresas, independentemente do setor em que atuamos. Gostaria também de deixar como legado a certeza de que é apenas por meio do trabalho que a sociedade, e nós, como parte dela, conseguiremos prosperar de maneira sustentável, respeitando o meio ambiente.
Qual é, na sua avaliação, o papel do líder para a construção de legados e futuros? O que o líder deve se esforçar para construir?
O papel do líder é dar o exemplo, pois o exemplo arrasta as pessoas. O líder deve ser coerente: fazer o que fala e falar o que faz. Isso parece fácil, mas não é. A liderança não se exerce apenas porque se tem um cargo formal na estrutura organizacional da empresa, independentemente do setor em que a empresa atua. Se o líder conseguir ser coerente, já deixará um grande legado. Adicionalmente, tem que aproveitar o que recebeu como legado daqueles que o antecederam e, com suas características, habilidades e conhecimento, construir um ambiente confiável para o negócio da empresa e investir na capacitação técnica e humana das pessoas. Construir um caminho que impacte positivamente os empregados e demais stakeholders para que eles acreditem que juntos, farão melhor e que deixarão um grande legado àqueles que virão depois deles.
A que você atribui sua liderança, que foi reconhecida por líderes de outras organizações? Qual é a importância de ser reconhecido líder por eles?
Bem, mesmo tendo alguns méritos como liderança no terceiro setor, muito desse resultado se deve à reputação, respeito, admiração, reconhecimento e carinho que a sociedade capixaba tem pela seriedade do trabalho fantástico que a Acacci desenvolve ao longo de seus 36 anos de existência, acolhendo e apoiando crianças, adolescentes e seus familiares que lutam contra o câncer infantojuvenil. Um legado que recebi daqueles que já passaram pela Acacci e a quem muito agradeço.
Também atuo como voluntário na gestão do Asilo dos Idosos de Vitória e, mesmo que tivesse sido indicado como gestor do Asilo e obtido a maior votação, provavelmente ela não seria tão expressiva quanto a votação que obtive como gestor da Acacci. Sem dúvidas o que percebemos é que, por melhor que seja o gestor, a causa e a credibilidade da instituição fazem a diferença. Infelizmente, a causa da pessoa idosa, mesmo em instituições sérias e com a credibilidade do Asilo dos Idosos de Vitória, pela característica da nossa sociedade, não sensibiliza as pessoas. Acho que vale a pena uma reflexão mais profunda da sociedade, e aí convoco os Líderes e gestores premiados, para essa questão tão importante que é a atenção e o respeito à pessoa idosa, especialmente numa fase da vida em que essas pessoas dependem cada vez mais do apoio socioeconômico de empresas e pessoas físicas, pois não lhes restam muitas coisas. E digo isso não apenas na questão da assistência social, mas também na questão da saúde. Infelizmente é nessa fase da vida que essas pessoas são mais esquecidas pela sociedade porque não são mais vistas como pessoas “produtivas”, apesar de terem produzido e deixado um grande legado para nós.
Independentemente de tudo isso, esse reconhecimento é muito importante, não apenas para mim, mas, principalmente, para o terceiro setor, que pela primeira vez é reconhecido. Parabéns à Rede Vitória por ter demonstrado de forma prática e enfática aquilo que algumas empresas dizem fazer, mas não fazem em relação ao seu ESG. Reconhecer a minha liderança é reconhecer, acima de tudo, a importância do terceiro setor para a sociedade e para a economia do nosso país.
Inteligência artificial, ESG, inclusão, diversidade… Qual o papel da liderança na construção de estratégias e decisões no que se refere a essas novas realidades, demandas e expectativas do mercado?
Como liderança, precisamos estar atentos a todos esses temas. A inteligência artificial veio para ficar. Nesse aspecto, não podemos nos contentar apenas em criticar e desconfiar da ferramenta. O papel do líder é preparar as pessoas para que a utilizem para o bem, fomentando o desenvolvimento econômico e social e gerando a inclusão das pessoas na sociedade e no mercado de trabalho. Quanto ao ESG, à inclusão social e ao respeito à diversidade, ainda são necessárias ações mais efetivas das lideranças de algumas empresas de todos os setores para irem além do discurso. Como eu já disse, falar é fácil. Difícil é fazer. Por menores que sejam as ações nesse sentido, elas são importantes. E isso compete às lideranças. Elas têm que dar o exemplo e motivar as pessoas a quem lideram. Se os líderes não se conscientizarem da importância do seu papel e não derem o exemplo quanto a esses temas, pouca coisa acontecerá de maneira efetiva nessa direção.
Em poucas palavras, ser um líder que honra o legado é:
É reconhecer e respeitar o legado deixado pelas pessoas que vieram antes dele, dar exemplo e trabalhar para aprimorar e ampliar esse legado, gerando impactos positivos para a melhoria da sociedade.